No mundo do cinema existe uma expressão “instant classic”, que traduzido de forma simples para o português significa clássico instantâneo ou sucesso imediato. Ela se refere a filmes que alcançam a consagração tanto da academia e da crítica especializada, como do público em geral. Tomei a liberdade de usar essa analogia para pontuar o que muitos analistas ainda acreditam ser uma tendência, mas que na minha concepção chega ao Brasil já como realidade consolidada e sem volta: o Live Shopping.

Este movimento representa uma revolução nos mercados de marketing e varejos. Em 2020, de acordo com o índice MCC-ENET, desenvolvido pelo Comitê de Métricas da Câmara Brasileira da Economia Digital (camara-e.net) em parceria com o Movimento Compre & Confie, o e-commerce brasileiro cresceu 73,88%. Naturalmente, não está errado afirmar que a pandemia deu uma forcinha para acelerar esse processo tanto entre corporações, como na mudança de hábito das pessoas.

No entanto, entendo que a pandemia, do ponto de vista de tecnologia em e-commerce, tenha sido realmente isso, um catalisador não só para que o público buscasse mais as compras on-line, mas para que as empresas se preparassem para atender a essa demanda no presente, a tirar do papel projetos que estavam planejados para cinco ou dez anos.

Os números divulgados pela NielsenIQ|Ebit e Neotrust a respeito das vendas realizadas pelo e-commerce brasileiro durante a Black Friday de 2021 confirmam o fortalecimento e a corrida de investimento das marcas no universo digital. Foram realizadas mais de R$ 5 bilhões em vendas, o que represente um crescimento de mais de 5,5 % em relação a 2020. Na semana que antecedeu o evento, entre 18 e 24 de novembro, o faturamento aumentou das lojas virtuais em 31%, registrando R$ 2,8 bilhões no período. Ou seja, mesmo que em 2020 as lojas estivessem fechadas e é natural que houvesse um aumento expressivo pelas compras on-line – fato que realmente aconteceu, 25 % superior a 2019 -, a tendência de expansão se manteve mesmo com a abertura das lojas físicas.

Por outro lado, e complementando o cenário, pesquisas mostram que mais do que produtos, as pessoas têm buscado uma nova e profunda experiência com as marcas. Soma-se a isso, o desejo por comodidade e hiper personalização de atendimento e ofertas justificam não só o aumento do e-commerce, mas uma reestruturação do setor, com investimentos, principalmente, em tecnologia para corresponder aos anseios e necessidades do consumidor, além de conseguir prever comportamentos diferenciados do público de forma contextual.

Com tudo isso, a Live Shopping vem unir conceitos e transformar a experiência de compra. Segundo o Emarketer, apenas na China as vendas do live commerce chegarão a US$ 131 bilhões em 2021 e serão responsáveis por 37,4% do total das vendas do social commerce no país.

Você pode até questionar que o modelo não é de todo novo, pois lembra aqueles antigos programas da televisão onde o apresentador mostrava os produtos, na tela aparecia um número para ligar e fazer a compra. O Live Shopping vai muito além dessa estrutura congelada. Ela está toda suportada na Experiência do Consumidor (CX). Agora, as transmissões ocorrem ao vivo para haver interação real com o consumidor, que pode participar, enviar dúvidas, escolher o que mais lhes interessa ver e finalizar a compra com apenas um click na tela enquanto assistem um programa iterativo

Mais do que facilidade para o público, toda essa interatividade gera dados de comportamento, preferências, audiência, entre tanto outros, respeitando-se as leis de compartilhamento e uso de dados. E aqui está o pote do tesouro no fim do arco-íris para as marcas. Com o uso de uma plataforma adequada em cloud, leve e acessível, e uma infraestrutura de TI voltada não apenas em coletar dados, mas para transformá-los em inteligência, por meio de Inteligência Artificial, Big Data e Analitycs, gerando insights em tempo real, as organizações conseguirão responder imediatamente a interação de forma assertiva, precisa e oferecer experiência mais inovadoras e personalizadas como nunca foi feito até aqui, não deixando de lado pensar e implementar arquiteturas de informações e tecnológicas integradas e suportadas por práticas de cyber segurança para garantir confiança e fidelidade. 

A chegada do 5G no próximo ano proverá um aprofundamento de todo esse quadro. A nova tecnologia permitirá uma velocidade entre 50 e 100 vezes maior e um imenso volume de troca de dados entre diferentes tipos de devices, por meio da Internet das Coisas (IOT), podendo alcançar até 10 Gbps (gigabytes  por segundo).Garantir uma gestão correta de dados, capaz de produzir inteligência e gerar insights em tempo real para aprimorar a comunicação, o relacionamento e a fidelização será essencial para alavancar as vendas, mas principalmente para se manter relevante para o consumidor mantendo uma comunicação que começa em um canal e permanece  de forma contínua nos demais.

Por todos estes fatores, é importante que as organizações, não importa qual seja seu ramo de negócios, estejam preparadas para abraçar essa revolução que já bate à porta. Aqueles que conseguirem responder de forma mais eficaz ao desafio de gerar novas experiências para seus clientes com inteligência de dados colherão os frutos desta nova era. 

Sílvio Dantas é diretor de Applied Innovation Exchange da Capgemini Brasil