Jurada brasileira da competição Product Design do Cannes Lions 2017, Bebé Castanheira integra a diretoria da ADP (Associação dos Designers de Produto) e é coordenadora técnica do Prêmio Objeto Brasil. Formada em comunicação na Faculdade de Artes Plásticas da Faap, em São Paulo, identificou o design como atividade profissional após uma viagem à Europa no início dos anos 1980. Mais tarde, retornou ao Velho Continente para uma temporada de 15 anos em Portugal, quando trabalhou com branding e marketing. Nesta entrevista, Bebé fala sobre a sua participação em Cannes.
PRODUCT DESIGN
O design deve ser entendido como ativo de importância fundamental na sociedade contemporânea, pois, se de um lado congrega a criatividade e a inovação, dotando o produto de competitividade (essencial ao cenário econômico contemporâneo), por outro lado, é fundamental que seja um processo/produto que leve em consideração as questões sociais, ambientais, inclusivas, e tenha como objetivo central o usuário. Enfim, que seja um processo amplo e transversal.
BRANDING
É um processo de gestão de marca. A marca deve traduzir o produto em termos conceituais. Comunicar de forma eficaz a mensagem que está na origem do produto e sintetiza um pensamento projetual. Essa identidade de marca, nas palavras de Alina Wheeler, é “tangível e faz um apelo aos sentidos”. Nessa perspectiva é fundamental que seja um processo unificado (em termos dos pressupostos do projeto), em que haja alinhamento para uma comunicação única, seja qual for o veículo de comunicação.
ELEMENTOS
Todo designer é, antes tudo, um atento observador do mundo e dos detalhes. É só por meio da sua empatia que é possível entender as necessidades e procurar, da melhor maneira, responder de forma eficaz aos desafios de um projeto, seja ele qual for. Desta forma, não é possível falar de design sem a propriedade da pesquisa em profundidade. Sem a absoluta percepção do contexto. Sem a fundamentação conceitual, mas, sobretudo, sem o profundo conhecimento do usuário. É este o grande objetivo do design. Se estes pressupostos estiverem presentes no desenvolvimento, as qualidades se materializarão no projeto.
DESIGN THINKING
É um método holístico de desenvolvimento que leva em conta a horizontalidade na busca de uma solução adequada, cujo grande mérito é valorizar o erro como parte integrante do processo. Esse embate com a nossa cultura vigente do “sucesso imediato e do acerto constante” faz repensar o modus operandi da projetação. Repensando o contexto e o desenvolvimento, consequentemente, se altera o produto final. É uma mudança de cultura.
DIGITAL
O mundo digital é uma realidade que multiplicou as possibilidades de comunicação e de geração de produtos e serviços. É por meio desse canal que as empresas passaram a estar muito mais próximas dos inúmeros potenciais e dos próprios clientes. Essa proximidade alterou também o papel do consumidor, que hoje é ativo e produz informação. As fronteiras foram derrubadas, para o bem e para o mal. Nesse panorama distinto, o usuário está mais próximo de sua marca, podendo influenciar e contribuir. É a tangibilidade do intangível no design.
BRASIL
Estamos, sem dúvida, vivenciando um período de maturidade da produção brasileira de design. O contexto socioeconômico, os novos hábitos e, sobretudo, as necessidades daí decorrentes impulsionam a busca de soluções que, além de responder adequadamente, também repensam, como citei anteriormente, os hábitos e o espectro de responsabilidade do designer: o meu projeto serve para responder a determinado desafio. O Brasil tem hoje grandes nomes que integram o panorama nacional e internacional. A competência dos nossos profissionais se destaca no exterior e não é de hoje. É tudo maravilhoso? Claro que não. Há ainda um enorme trabalho de sensibilização junto do tecido empresarial, para que encare o design como investimento que é (e não custo). Há também a necessária disseminação da cultura do design junto do grande público, no sentido de desmistificá-lo como algo extravagante e para poucos. O design é uma ferramenta poderosíssima na solução de problemas. É isso que a ADP procura fazer em âmbito nacional: valorizar o design, dando a conhecer a sua verdadeira profundidade como agente transformador.
NEGÓCIOS
O design é vetor de crescimento na medida em que responde de forma eficaz a demandas em várias áreas. E como pensa no usuário, pensa no contexto, pensa nas condicionantes, porque, enfim, resolve uma equação complexa.