Depois do que assistimos nos últimos dias, com o Brasil não merecendo a classe política que tem, fica cada vez mais distante – ao contrário do que opinamos em nosso último editorial – a possibilidade de um fim à crise instalada no país.

Aprendemos desde cedo que para grandes problemas, grandes soluções.

Para que isso ocorra, porém, é preciso que os dirigentes da nação tenham necessário descortino para enfrentar e resolver as graves questões que nos assolam.

Não é isso, porém, o que se vê. A começar da presidente da República e passando pelos presidentes, tanto da Câmara Federal como do Senado, a percepção é a de mentes estreitas, que carregam consigo o pior dos seres humanos: o egoísmo.

Cada qual só pensa em si e nas vantagens que seus cargos lhes proporcionam, deixando completamente para trás o interesse da população – sobre a qual tanto falam defender – e do próprio país como um todo.

Chegamos a duvidar que essas autoridades saibam de cor o Hino Nacional. Duvidamos também que saibam, em profundidade, o tamanho da responsabilidade que pesa sobre os seus ombros.

Estão dirigindo o Brasil, cada qual no seu posto, como se dirigissem um time de futebol da Terceira Divisão, sem qualquer vislumbre sobre o futuro próximo.

E o que não dizer dos integrantes da Câmara Federal e do Senado, que se ofendem reciprocamente, se engalfinham, chegam a se estapear, causando a pior das impressões a quem os assiste, lê e ouve através da mídia.

Ao lembrarmos de figuras de um passado recente, quando o país ainda não havia caído nessa esparrela do populismo inconsequente, que promete menos do que cumpre e o que cumpre, na maioria das vezes, arrebenta as amarras do Tesouro Nacional, vemos personalidades fortes (Tancredo, Ulisses, Covas e outros), instruídas, com formação acadêmica, que no mínimo sabiam distinguir o certo do certo, condição básica para quem se propõe a governar até mesmo uma única empresa. Porque o difícil reside exatamente aí, no surgimento de duas ou mais soluções a princípio corretas que só a sabedoria do gestor distinguirá entre elas a que realmente será a mais adequada.

Como pode uma autoridade, a maior da República, emitir frases como a famosa “Não temos meta, mas quando atingirmos a meta, dobraremos a meta”?

E como pode presidir a Câmara Federal um deputado que, para justificar a existência de dinheiro fora do país, nega que o montante esteja em seu nome, informando tratar-se de aplicações em trusts, que a grande maioria brasileira sequer sabe do que isso se trata? E, sendo mesmo dessa forma, qual a diferença em termos de responsabilidade, ou seja, em subtração do patrimônio nacional? Porque a questão não é o juridiquês da conta bancária que no exterior abriga o dinheiro para lá enviado, mas quem o enviou e como isso se deu, com preponderância para a explicação sobre a origem do numerário.
É muito desanimador ver o Brasil nessa situação, sem perspectivas para o futuro próximo, mesmo com a presidente da República prometendo, como sempre faz, que estamos bem próximos de dias melhores. O que afinal sabe ela a respeito disso?

O próprio ministro da Fazenda, que já insinua à boca pequena deixar o cargo caso a situação do país não apresente rápidas melhoras, revela claramente, em assim agindo, que não garante a proximidade desses dias melhores que a presidente tanto alardeia.

Os experts em economia, hoje ouvidos a torto e a direito pela imprensa brasileira e de outros países, são pessimistas com relação à nossa situação, alguns atrevendo-se a prever melhoras só a partir de 2017, mesmo assim sem nenhuma garantia real. Ou seja, apenas palpites.

Com esse quadro, como ficamos todos na travessia de 2016, um ano inteiro sem esperanças de diminutas melhorias? Como manter nossas empresas, empregos, atividades liberais e toda série de produção econômica, física ou jurídica, diante de uma situação recessiva que ninguém tem ideia de onde vai parar? Ou, alguém pode responder com segurança, dentro de toda essa insegurança econômica reinante no país, qual será o percentual inflacionário do meio do próximo ano? E quanto mais cairá nosso PIB até lá?

Sem alarmismo algum, o quadro que se desenha é o pior possível. E o que mais revolta são os embates de filmes de mocinho e bandido entre os poderes Executivo e Legislativo, cada qual a seu modo agindo da pior forma possível com componentes de desordem e despreparo nunca antes visto neste país.

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Mesmo diante desse quadro difícil, o mercado da comunicação do mar- keting, em que sua principal disciplina é a publicidade, tem demonstrado reação.

Alguns afirmam que é devido à época natalina, outros que a natureza da atividade publicitária é de provocar estímulos (de compras, de novos negócios, de mudanças de comportamento e até mesmo de mostrar ao público em geral que ele não deve abrir mão do seu protagonismo no mercado, porque isso, além de se traduzir em exemplo, serve de antídoto contra a crise).

A verdade é que, apesar de tudo o que a classe política tem proporcionado de ruim para o país, há uma ligeira melhora na situação econômica, muito tênue ainda, mas superando o que foi o primeiro semestre deste ano, com destaque para o segundo trimestre, quando tudo parecia perdido na economia brasileira.

Pode ser resultado da velha história que sempre ouvimos em situações semelhantes (jamais iguais a esta): o Brasil é muito grande e não cabe no abismo, além de ter hoje 204 milhões de bocas para comer pelo menos uma vez por dia.

São essas pessoas e suas vidas que nos fazem manter a chama acessa, mesmo que uma minoria irresponsável pouco se importe com isso.

Armando Ferrentini é diretor-presidente da Editora Referência, que edita o jornal PROPMARK e as revistas Propaganda e  Marketing