Em 2019, celebraremos 60 anos da ABA (Associação Brasileira de Anunciantes). Orgulho-me, na qualidade de sua presidente-executiva, em poder contribuir de alguma forma para a história e as bandeiras empunhadas por essa entidade que tanto aprendemos a admirar.
Fundada há mais de meio século, a ABA luta pela defesa da liberdade de expressão como um valor máximo e fundamental a uma sociedade livre, justa e democrática. Por tabela, a publicidade, que é o “pão nosso de cada dia” da nossa atividade – sobretudo como anunciantes, veículos e agências –, deve ser, assim, tão protegida quanto desenvolvida de modo responsável.
Publicidade livre, sim, mas com responsabilidade, agora e sempre. Este é o mês das crianças, mas falar sobre o marketing infantil tornou-se, há muito, tema de primeira ordem. Afinal, as crianças são o nosso futuro e merecem atenção especial. Pioneira no debate da publicidade responsável e cofundadora do Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), a ABA defende o debate saudável sobre o tema da publicidade infantil, sob a premissa maior de que as nossas crianças não devem viver em uma “bolha”, e sim em constante interação com pais e responsáveis.
A publicidade é parte indissociável do mundo atual; uma importante forma de expressão e estímulo à inovação, ao conhecimento, além de influenciar comportamentos, e ser fonte de informação sobre os mais variados produtos e serviços inseridos nas comunidades sociais. Estamos plenamente alinhados às práticas globais, através de nossa participação na WFA (World Federation of Advertisers), associação mundial dos anunciantes, responsável por 90% dos investimentos publicitários no mundo, que defende a necessidade de se investir em iniciativas que ajudem a criança a decifrar e interpretar criticamente a gama de comunicações que recebe diariamente.
Criticamos qualquer forma de publicidade enganosa e abusiva e, portanto, aplaudimos as normas brasileiras de proteção à criança, alinhadas que estão com as sociedades mais maduras, nas quais prospera um adequado blend entre regulação e autorregulação. As normas e atuação do Conar são, aliás, de particular importância, na medida em que o caminho da autorregulamentação se revela ágil e eficaz ao melhor controle de atividade tão marcada pelo dinamismo e inovação.
A simplória proibição da publicidade infantil não nos parece ser solução para nada, além de inaceitável à nossa Constituição Federal, que não agasalha medidas de banimento da liberdade de expressão e livre iniciativa. Tais medidas, desproporcionais, flertam com o radicalismo
e, no fim do dia, com a total substituição da tutela dos pais pelo Estado; uma espécie de capitulação de todo o sistema familiar como histórica fonte de boa educação e convívio saudável.
Estamos convictos de que é a partir da firme educação e do diálogo inclusivo com as nossas crianças que teremos indivíduos mais preparados para esse mundo, do qual a sociedade
de consumo é um movimento inexorável. Há milhares de anos, válida é a máxima de que “bem educamos as crianças para não precisar punir os adultos” (Pitágoras). E porque o marketing – quando bem usado – não pode figurar como um elemento de transformação?
Um aliado na promoção de hábitos de vida mais saudáveis ou de comportamentos responsáveis e mais igualitários, apto, inclusive, a estimular a interação entre pais e filhos, em direção a um consumo consciente e responsável? De uma coisa podemos estar certos: a exclusão não educa. Tentar encobrir questões, em vez de trazê-las aos trilhos que queremos e que acreditamos adequados, não é a solução. A questão do consumo é tema que deve ser ensinado pelos pais. Ele simplesmente não desaparecerá.
Sandra Martinelli é presidente-executiva da ABA (sandramartinelli@aba.com.br)