Nesta quarta-feira (3) é celebrado o Dia do Profissional de Recursos Humanos. A missão: fazer a gestão de pessoas, lidar com personalidades e necessidades distintas, e manter todos bem atendidos e acolhidos no ambiente de trabalho.

Se a tarefa já não é simples pessoalmente, com a comunicação mais próxima e olho no olho, com a quarentena imposta para combater a pandemia da Covid-19, ficou ainda mais complexa e gerou outras demandas, desafios e percepções.

Responsáveis pela área de recursos humanos falam sobre os novos desafios e como tem sido gerir pessoas durante o home office (Créditos: Dillon Shook / Unsplash)

Pensando nisso pedimos um depoimento pessoal de profissionais de agências sobre os novos desafios de seu dia a dia, como estão sentindo essa experiência do RH “de longe” e os reflexos em suas carreiras.

Camila Fidélis: “essa experiência trouxe situações muito inusitadas e enriquecedoras sobre o comportamento das pessoas

Camila Fidélis, gerente de gestão de pessoas na Africa
“A pandemia e o home office forçado, o isolamento social, trouxeram um olhar mais detalhado sobre as expectativas da nova forma de fazer negócio e, sobretudo, atender as demandas emocionais e sociais de todos os funcionários em um momento de tantas incertezas. Além disso, essa experiência trouxe situações muito inusitadas e enriquecedoras sobre o comportamento das pessoas. Por exemplo, aquela pessoa que sempre foi muito forte e decidida, na quarentena se mostrou mais frágil. E o inverso também aconteceu, uma pessoa que sempre foi mais introspectiva, se mostrou um ótimo líder. Para mim, os profissionais de Recursos Humanos, que cuidam das pessoas, tinham por missão ser preventivos. Sempre foi fundamental planejar o atendimento para essas demandas, anteceder problemas. Mas, com essa situação atípica que estamos vivendo, estamos sendo de certa forma reativos, agindo exatamente no que é preciso para manter todos engajados, preparados, saudáveis e seguros. Por outro lado, nós, profissionais de RH, também somos pessoas, temos nossas angústias, inseguranças e medos. Mas precisamos ser o porto seguro de todos. É um desafio e tanto. Nesse momento nosso foco é a saúde física e mental das pessoas, é dar informação, é tentar acalmar todas as angústias nesse período tão difícil para todos nós. Estamos tentando nos fazer presentes mais do que nunca. Informação, acolhimento e cuidado são, mais do que nunca, as palavras de ordem do RH.”

Monica Kamimura: “o maior aprendizado tem sido viver um dia de cada vez, sem ser reducionista, sem diminuir as batalhas e os sonhos”

Monica Kamimura, head de RH da AlmapBBDO
“Falta o olho no olho e este desafio é humano. Estar com o outro em meio ao trabalho através de home office traz o desafio de usar as tecnologias sem sermos apenas uma tela. Somos pessoas e o engajamento das pessoas é indispensável para que nosso dia, nosso propósito, seja materializado da melhor forma possível. Este é um período que nos convida ao autoconhecimento e crescimento pessoal. É natural olharmos para nossas vidas e começarmos a nos reinventar, pois estamos ainda mais expostos a nós mesmos. E é neste momento que aceitei o chamado e tenho dedicado tempo para realizar coisas que antes eu tirava do rol de prioridades, mesmo sendo importantes para minha vida, seja profissional, seja pessoal. E também, é claro, tenho me dedicado a interromper atitudes que há um tempo pediam revisão. Se antes o RH precisava se digitalizar, agora se tornou obrigação. Buscar soluções inovadoras que tenham fit com as novas necessidades das empresas e colaboradores. Resiliência e dinamismo nunca foram tão necessários e tão cotidianamente aplicados. O maior aprendizado tem sido viver um dia de cada vez, sem ser reducionista, sem diminuir as batalhas e os sonhos. A pandemia mostra que podemos não ter controle sobre muita coisa e que o mais importante não é saber, mas sim buscar conhecimento e se reinventar diariamente dando o melhor de si. A experiência de vivenciar esta pandemia tem sido um aprendizado genuíno. Equilibrar todos os ‘papéis’ (profissional, mãe, esposa, professora etc.) se mostrou desafiador e estimulante. A superação diária traz orgulho. E estar presente, principalmente na vida em família, com meu filho e meu marido, ganhou cores novas. Enquanto estamos em casa, reaprendemos a cuidar de algo mais do que somente nos proteger do vírus. Estamos cuidando de quem somos. Estamos nos fortalecendo a cada novo dia de cumplicidade e muito trabalho.”

Rita Steigleder: “o que acabou me surpreendendo neste período é como podemos estar perto, mesmo distantes”

Rita Steigleder, diretora de RH da W3haus
“Minha impressão de tudo isto é que acabamos entrando sem nenhum preparo num formato de trabalho (e de vida) para o qual não estávamos preparados. Por um lado, nos adaptamos, por outro, os desafios emocionais de um mundo que está estranho e incerto lá fora, é gigante. Minha maior preocupação foi, e continua sendo, o bem-estar e saúde (física e emocional) das pessoas. O período nos trouxe sentimentos de incerteza e a impressão de não termos mais a vida sob controle, o que nos gera angústias e sentimentos nem sempre muito claros. A solução que encontrei, foi abrir espaços de conversas, estar com o olhar atento aos movimentos emocionais e necessidades individuais. O que acabou me surpreendendo neste período é como podemos estar perto, mesmo distantes. Mais do que nunca, estamos em uma fase de grandes aprendizados, experimentando e inventando novas formas de ouvir, de entender, poder contribuir e ajudar ao outro.”

Juliana Amorim: “de repente, não temos mais controle algum sobre o ambiente, porque cada um está em um lugar diferente, com facilidades, complicações e limitações diversas”

Juliana Amorim, diretora de cultura e pessoas da F.biz
“Acho que poucos profissionais da área algum dia imaginaram esse cenário que vivemos. Faz anos que nosso foco e planejamento é voltado para oferecer o melhor ambiente de trabalho possível, passando sempre pela estrutura física dos escritórios para serem abertos, colaborativos, funcionais e agradáveis. De repente, não temos mais controle algum sobre o ambiente, porque cada um está em um lugar diferente, com facilidades, complicações e limitações diversas. É muito difícil atender 100% das necessidades de adaptação a esta nova realidade, principalmente num momento onde o cenário econômico impõe algumas restrições financeiras importantes para as empresas. O que fizemos na F.biz foi oferecer parte da infraestrutura que temos para melhorar a experiência das pessoas no trabalho remoto: quem precisou, pôde levar a cadeira, teclado e monitor para casa. Para quem teve um aumento de custo ou dificuldade de acesso a internet, disponibilizamos chips de linhas corporativas ou um subsídio para reembolso da despesa. Temos usado dois recursos importantes para manter a comunicação frequente com todos e também acompanhar os sentimentos, dificuldades e percepções de cada um. O primeiro, são as lives semanais com os sócios, para compartilhar o status dos negócios, da saúde dos colaboradores, das novidades e dos desafios, além de e-mails coletivos frequentes com dicas de bem estar, orientações para melhorar o trabalho remoto e demais iniciativas. O segundo recurso, é o apoio da plataforma Feedz, por onde fazemos pesquisas internas periódicas para identificar as áreas que precisam de mais atenção, e onde os colaboradores podem escrever comentários com sugestões de melhoria e/ou indicação de problemas. Essa mesma plataforma facilita muito o acompanhamento do humor (satisfação com o trabalho), feedbacks frequentes e celebrações coletivas (entre os times). Acredito que o papel do RH ganhou mais relevância neste cenário, pois a preocupação com as pessoas é maior e os gestores precisam de apoio para lidar com diversas situações novas. Os colaboradores, em geral, também sentem-se um pouco mais seguros e amparados, sabendo que existe um time de apoio para tratar de qualquer demanda individual.”

Renata Garrido: “a adaptação está sendo desafiante, com muito aprendizado e com muitas ideias e projetos para colocar em prática”

Renata Garrido, diretora de recursos humanos da Publicis
“Acredito que o papel estratégico da área de recursos humanos no mercado de comunicação nunca ficou tão em evidência como neste momento. Primeiro tive que ‘prever’ o futuro para me adiantar a possíveis problemas e oportunidades e a partir disso cuidar do presente, minimizando a ansiedade do time. A nossa atuação exige mais do que nunca contato direto e constante com os colaboradores para assegurar a segurança, a saúde e o bem estar de todos e também para verificar como cada um (a) está lidando com a nova realidade do trabalho à distância. Também nos preocupamos em garantir que o time se sinta confortável com as mudanças e adaptações necessárias ao novo mundo em que vivemos. Em paralelo, o time de RH vem apoiando as lideranças em todo o percurso, elucidando dúvidas e implementando novas ferramentas. Criamos grupos de apoio para pessoas que estão particularmente sobrecarregadas durante o isolamento social, como mães e pais que se viram obrigados a desenvolver multitarefas ao mesmo tempo de maneira bastante acentuada. Com tudo isso no rumo, olhamos para o passado para avaliar o que ainda faz sentido ou não no nosso dia a dia e mudar o que for preciso com a agilidade que o momento exige e permite. A adaptação está sendo desafiante, com muito aprendizado e com muitas ideias e projetos para colocar em prática. Minha visão é que ganhamos todos um papel em branco, agora é o momento de usarmos nossos aprendizados, mantermos a nossa essência e mirarmos na transformação do nosso mercado e nas nossas próprias transformações como profissionais.”

Monica Szanto: “Outro desafio é pensar além do que já está se falando sobre capacitação, cultura e liderança. Falamos muito sobre mudança do comportamento do consumidor. Mas e a experiência do colaborador?”

Monica Szanto, diretora de RH da DPZ&T
“Me sinto com um senso de responsabilidade intensificado como liderança e profissional de RH. Por exemplo, como posso ajudar mais pessoas e a agência, seja do ponto de vista de negócio ou da saúde mental das pessoas. Do ponto de vista da economia, apreensiva, afinal há o impacto que a crise trará para muitas vidas na sociedade em geral. Mas também estou serena, sem ansiedade, do ponto de vista das mudanças, sejam elas conhecidas ou as desconhecidas. Devemos ver um dia de cada vez. Mas, sobretudo, otimista em relação às mudanças positivas que tenho visto em muitos comportamentos: mais humanidade, disposição para colaborar, empatia. Esses comportamentos me geram grande satisfação pessoal. Não me sinto sozinha ou isolada, apesar do distanciamento. Sobre os novos desafios na minha carreira, parte disso é não ter clareza de quais serão exatamente os desafios em relação ao desenvolvimento organizacional. Algumas necessidades de mudança são claras. Parte já existia e intensificou-se, mas e quanto às que não são evidentes? O que vamos descobrir ainda? Outro desafio é pensar além do que já está se falando sobre capacitação, cultura e liderança. Falamos muito sobre mudança do comportamento do consumidor. Mas e a experiência do colaborador? Trabalhar remotamente foi um aprendizado muito rico, muito satisfatório. Também sentir o efeito da prática de valores básicos como transparência, confiança, respeito e empatia. Como algumas condutas, que são fortes para que possamos gerar conexão e engajamento, apesar do distanciamento físico. A importância de priorizar o que é essencial, que de fato nos faz sentir seguros, conectados e felizes.”

Sandra Denes: “o que tenho praticado com a minha liderança é a humildade de dividir tudo o que sabemos, mesmo nesse momento de incerteza, mantendo a transparência e dentro do possível com muita leveza”

Sandra Denes, VP de RH da FCB Brasil
“A experiência que estou vivenciando é única. Depois de tanto tempo no mercado, não esperava tantas mudanças de forma tão repentina. O papel do RH ficou ainda mais estratégico e está no centro de todas as decisões. Com o início repentino do home office, asseguramos que todos os funcionários recebessem a devida assessoria, cobertura, acompanhamento etc…e me vejo desde então dando apoio à liderança, amigos, familiares e funcionários indiscriminadamente. Aprendi que dar e receber não tem limites e, independe de classe e nível social, todos querem receber o mesmo tipo de apoio. O que tenho praticado com a minha liderança é a humildade de dividir tudo o que sabemos, mesmo nesse momento de incerteza, mantendo a transparência e dentro do possível com muita leveza. A manutenção dos empregos até o momento, a colaboração espontânea da nossa liderança com a redução de seus salários, a incessante busca por resultados e pela satisfação ao cliente tem nos ajudado, e muito, a superar este período. A motivação do nosso pessoal tem sido uma busca constante da minha parte. Estamos fazendo amplo uso das lives trazendo semanalmente conteúdos diferentes para promover o equilíbrio mental. Já contamos com mágicos, chefs de cozinha, especialistas em mindfulness, entre outros. Também passamos bastante tempo nos preparando para as lives semanais com o nosso presidente, que têm ajudado muito a manter o espírito de equipe e a comunicação com todos os funcionários. Acredito que conseguimos transformar essa situação em oportunidade para integração, fortalecimento do nosso propósito e até identificação de talentos. Vale a pena comentar que nossa pesquisa interna identificou que 95% dos funcionários acreditam que nossas ações perante a crise foram acertadas. Isso me dá confiança para continuar o nosso trabalho junto a todos. A leveza nas ações, a simplicidade, a busca do propósito, o respeito ao outro veio para ficar e a saúde mental, tão comentada, agora será realmente muito melhor entendida e considerada.”

Eduardo Duarte Zanelato: “esse é o maior aprendizado, e acredito que o momento pede essa reflexão a todos nós: como trabalho pode, ou mesmo precisa, conviver melhor com outras demandas da nossa vida”

Eduardo Duarte Zanelato, head de cultura & comunicação da Mutato
“O contexto de pandemia me fez provar um valor da Mutato que é o de priorizar as pessoas e as histórias delas, porque são as pessoas que constroem a agência para o mercado. Na prática, isso significa que contextos individuais passaram a ganhar ainda mais atenção no dia a dia das lideranças. A dificuldade de alguém com filhos tendo de trabalhar de casa é diferente de alguém que vive sozinho e está se sentindo isolado e ambos precisam ser ouvidos, acolhidos e respeitados. Cabe a nós adaptar a estrutura, os processos e as rotinas para dar conta dessas complexidades. Esse é o maior aprendizado, e acredito que o momento pede essa reflexão a todos nós: como trabalho pode, ou mesmo precisa, conviver melhor com outras demandas da nossa vida. Se, de um lado, isso é algo que passou a demandar mais tempo da agenda, de outro estamos conseguindo ser mais ágeis por não precisar se deslocar, com as interrupções de uma rotina muito dinâmica no escritório… Não compensa totalmente, é claro, mas é uma mudança. Acho que o cenário de quarentena trouxe muitas dúvidas e questionamentos e um número bem pequeno de respostas, mas vejo que é nesse caminho de ressignificar algumas práticas que devemos caminhar. Mais do que querer que tudo volte ao normal, tenho tentado pensar quais hábitos podemos deixar na história, como algo que fazíamos até a pandemia chegar.”