O interesse dos brasileiros pelo Clubhouse, aplicativo de bate-papo em áudio, aumentou nos últimos dias, conforme mostram dados do Google Trends.

A plataforma ganhou força após ser utilizada por nomes como o bilionário Elon Musk. No Brasil, celebridades e nomes relevantes do mercado também estão por lá.

PROPMARK ouviu especialistas para saber o potencial da ferramenta para o mercado da propaganda e do marketing.

Daniel Schiavon, diretor de criação da Ogilvy Brasil, reflete que o app deveria ser criação de Spotify ou Deezer, mas ambos dormiram no ponto. “Da mesma forma que acredito que uma marca de automóveis deveria ter inventado o Waze, assim como acredito que uma rede de hotéis deveria ter inventado o Airbnb”, exemplifica. “O que temos ali nada mais é do que uma rede social de podcasts”, classifica reiterando o caráter democrático da ferramenta, que permite a participação nos bate-papos, algo que em outras redes só é possível no campo de comentários, e-mail ou pagando. Para Schiavon, trata-se de um Twitter com áudio.

Daniel Schiavon (Divulgação)

“Segundo Carl Jung, se não conseguimos nos expressar, falar o que pensamos e sentimos, ficamos nas sombras. Temos hoje em dia, mais do que nunca, uma opinião e um ponto de vista sobre tudo que vemos, experimentamos e consumimos, e o ClubHouse chegou para proporcionar esse novo espaço”, analisa Bruno Daga, Head of Industry da Weach.

Para Renato Mendes, professor na pós-graduação de marketing digital do Insper e da PUC-RS, a ferramenta é “muito útil para publicitários e profissionais de marketing”. “Porque permite que se tenha um contato direto com grandes nomes do mercado brasileiro e internacional, sem filtro, a qualquer hora do dia. Além, é claro, da possibilidade de troca em conversas de todos os assuntos”.

O mercado ficou animado com as possibilidades. Entrar numa sala com grandes nomes e ouvi-los como se estivessem num evento animou os profissionais. “Eu estava num painel com o Erh Ray, o pessoal do Amigos do Mercado”, exemplifica Schiavon.

Nem só de famosos vive o Clubhouse. O diretor de criação da Ogilvy enxerga um potencial de segunda tela no app. “Cobertura de eventos. Tanto marcas quanto creators vão poder aproveitar muito. Como se faz no Twitter”, destaca. O diretor de criação imagina que, num primeiro momento, marcas irão optar por patrocinar e fazer parcerias com os creators, já que a plataforma, por enquanto, é focada em perfis pessoais.

O próprio Erh Ray, mencionado por Schiavon, diz que foi “abduzido pela ferramenta”. “Para mim, ficou claro que se trata de uma plataforma de relacionamento de pessoas ‘sem crachá’, com interesse em compartilhar conhecimento. E isso, no meu ponto de vista, tem um futuro muito promissor para a indústria da comunicação. Por isso, neste momento, acredito que não adianta pensar em como monetizar ou como vai sobreviver, mas aproveitar para compartilhar experiências e vivências. E o mais legal é que todas as pessoas podem ter acesso a essas trocas, assim que se tornam convidados a participar das salas. Então, imagine você ter acesso a um ídolo e pessoas que te inspiram, seja no trabalho ou na vida pessoal. A percepção é que funciona quase como um canal direto com diversas pessoas no mundo, quebrando uma barreira na qual todos se colocam à disposição para ouvir, dividir e falar”, declara o sócio e CEO da BETC/Havas.

Erh Ray (Divulgação)

Tanto Ray como Schiavon comparam a experiência do app com eventos como SXSW. “Minha vontade era de entrar em todas as salas, ouvir os palestrantes, ver quem está na audiência, ouvir as perguntas e aprender algo em cada uma […]. É possível encontrar as mais diversas pessoas, em todas as esferas de conhecimento e níveis de profissão, áreas e talentos. E como comentei anteriormente, a intenção é que as pessoas esqueçam seus crachás, para que todos que estão ali possam ouvir, aprender a compartilhar da forma mais livre possível”, afirma Erh Ray.

Para Vitor Barros, CEO da Propeg, publicitários e profissionais de marketing adoram conversar, por isso o sucesso do Clubhouse com este público. “Fazemos isso nas redes sociais, em e-mails, sms, WhatsApp, calls e até mesmo em ligações. O propósito do Clubhouse, na minha opinião, traz de volta um pouco a proximidade que uma conversa por voz traz. Ao ouvir a voz podemos saber que tom a pessoa está usando. Por conta da voz, o entendimento de uma frase dita, às vezes, é completamente diferente da mesma frase escrita e isso é muito legal”, opina.

Iris Santos (Divulgação)

Já Iris Santos, gerente de mídia da Jüssi, acredita que ouvir grandes nomes como Oprah Winfrey chamou a atenção do público, mas a restrição de acesso – que muitas vezes é feita propositalmente para que os servidores aguentem a demanda – também tornou a plataforma “cobiçada”. “Ou seja, para fazer parte da rede é necessário, neste primeiro momento, ser convidado e ser usuário de aparelhos com sistema iOS”, relembra.

“Por optar em lançar somente para iOS, a rede limita o público […], afinal todos sabemos os valores altos dos iPhones”, diz Vinícius Taddone, CEO e estrategista da VTaddone. É comum que apps desenvolvidos no Vale do Silício cheguem primeiro ao iPhone, aparelho bastante utilizado por desenvolvedores. Isso aconteceu, por exemplo, com o Instagram, lançado em 2010 e que chegou ao Android em 2012.

O Brasil está entre os cinco maiores mercados do Android no mundo: nove em cada 10 usam smartphones com o sistema operacional do Google. “Certamente lançarão para Android também posteriormente, o que vale um acompanhamento de como será a performance da rede com a massificação. Esse sentimento de exclusividade onde para adentrar você tem de ser convidado é muito interessante, pois é isso que gera ainda mais curiosidade de expectativa”, reflete Taddone.

Tal movimento não deve enfraquecer a plataforma, já que o que vale é o conteúdo e não o smartphone do participante. “Acredito que a grande sacada está em transformar todos ali em pessoas ‘iguais’. Você tira o visual, não enaltece o número de seguidores. Se tiver conteúdo, terá seu espaço”, afirma Marcelo Coffani, sócio fundador da Greenz.

Sobrevive?

A pergunta que muitos se fazem é: será que o app vai sobreviver ao hype? Com tantas redes para acompanhar, será que os profissionais de comunicação conseguem adicionar mais uma em sua lista?

“Já temos muitas redes sociais para atuar, formatos de áudio como o próprio podcast já consolidado e o próprio Twitter tem uma ferramenta muito parecida. Eu como usuário senti um pouco de FOMO (Fear Of Missing Out, algo como ‘medo de perder algo’), mas não é algo que se encaixe hoje no meu dia a dia para acompanhar e vejo que é o acontece com muitas pessoas que entraram e não tem tempo de acompanhar. Acho que toda rede social, app e serviço de internet que surge e viraliza rápido parte de demandas e necessidades das pessoas no dia a dia. O ClubHouse veio com uma ótima estratégia de aquisição, ativada com grandes influenciadores do mercado, o que atraiu muita gente, mas tem um desafio grande de retenção, ainda mais hoje, com tantas opções de entretenimento e redes sociais que temos. Entrar na rotina das pessoas creio que seja o grande desafio da empresa”, opina Rafael Martins, CEO do Share.

Barros, da Propeg, levanta um ponto interessante: “não vai demorar para a Clubhouse encontrar concorrência, principalmente nos grandes players do mercado, como o Facebook. Resta saber se a moda vai mesmo pegar ou não”.

E você? Já usou o app? O que achou? Comente.