Raphael Vicente tem 21 anos, sete produzindo conteúdo para a internet. Hoje no casting da Play9, ele começou a gravar vídeos aos 14 anos no Vine, passou por outras redes, mas foi no TikTok que bombou e tem hoje 2,3 milhões de seguidores, além de 349 mil no Instagram e 140 mil no Twitter. Morador do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, ele se define como o “esnobado pelo Oscar que faz vídeos com a família” e recria situações cotidianas. Seus vídeos bem elaborados, com roteiros, edição e trilha sonora, conquistaram personalidades e investimentos de marcas como Spotify, Rayovac, Nokia, HBO Max, Elo, Rexona e iFood. A seguir, ele fala sobre internet, redes sociais, suas origens, família, publicidade, representatividade e rotina.
14 ANOS
Comecei no Vine, que nem existe mais, e fui mudando. Sempre quero fazer várias coisas e quando não me acho em uma, vou para outra. Ano passado entrei no TikTok, foi quando as pessoas conheceram meu trabalho e passei a viver do que faço. Não fiz curso. Aprendi fazendo e vendo tutorial. Quanto mais você criar, mais experiência terá. Mas não bombei sozinho, bombei com minha família. Recriamos aquele meme do vídeo do caixão. Hoje se eu postar vídeo sem eles, acho que as pessoas dão unfollow.
ORIGENS E SONHO
Moro no Complexo da Maré desde que me entendo por gente. A minha casa nova será aqui dentro também. Tenho o sonho de que, com os meus vídeos, as pessoas vejam a nossa realidade. Uma pessoa que não mora aqui não sabe como é, tem uma visão totalmente diferente. Não faria sentido eu ter esse sonho de vida e não viver aqui. Eu amo as pessoas daqui. Quero mudar a realidade que eu vivi, colocar a minha cor, a favela em tudo que eu faço.
EXPERIÊNCIA COM REDES
Aprendi que tudo passa. Sempre penso se o que estou vivendo agora é um momento ou se vai durar. Por exemplo, passei para dança na UFRJ, mas veio a pandemia, voltou em EAD, mas eu já estava vivendo de vídeo. Decidi trancar para viver isso, a faculdade posso fazer em outro momento. Penso nisso porque a internet muda sempre. As pessoas mudam, os temas, as plataformas… Se você não se adaptar, fica para trás.
DEPOIS DAS PUBLIS
A primeira grande foi pra Rexona. Faz só um ano. Minha vida mudou. Consegui comprar minha casa, coisa que eu jamais imaginaria. E consegui alcançar a meta que tinha há muito tempo, que era ajudar minha família. Trabalhava como estagiário na Caixa, ganhava pouquinho e não conseguia nem me ajudar. Consegui ajudar não só minha avó, mas minha família toda, e me manter. Sou grato todos os dias porque estou numa das fases mais felizes da minha vida.
PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA
Quando chega o briefing geralmente vem escrito vídeo para ‘Rapha e família’, mas às vezes, se não vem, eu escolho colocar eles. Eles são tranquilos e bem soltos para gravar. Algumas marcas falam que gostam de mim porque sou “família”. A metade não é meu parente de sangue. As pessoas podem falar que não estão acostumadas a ver uma família sem pai e mãe, mas estão sim, porque no Brasil o que mais tem é família que não tem o pai, a mãe, ou os dois. Gosto de quando chegam mensagens falando que lembram da avó ou da dinda.
ESTRUTURA
A Play9 me oferece ajuda com roteiro e gravação se eu pedir, mas ainda não consigo. Eu me envolvo muito, gosto de fazer para não perder a minha essência. E equipamentos eu uso meu celular mesmo, tenho minhas luzes desde quando fazia vídeos para o YouTube. Uso tudo que eu tenho em casa.
VOLUME DE PUBLICIDADE
Eu me cobro muito para não encher meu feed de publi. Os vídeos às vezes acumulam porque os prazos batem. Quando isso acontece, eu fico mal porque não consigo fazer os meus vídeos. Tento criar uma narrativa para deixar as publis de uma forma que a pessoa só vê que é publi pela hashtag.
RECONHECIMENTO
Ainda não acostumei. Nunca ia imaginar que a Netflix, com aquele vídeo da Nete Felix, ia me colocar como capa deles. Eu crio, gravo e coloco no ar. Não sei o que vai acontecer. Outro exemplo foi o vídeo da vacinação. Queria que bombasse, por ser sobre conscientização, mas não esperava que fosse atingir tanta gente. Apareci na Globo a semana inteira.
INSPIRAÇÃO
Gosto muito de me inspirar em filmes, seja para temas ou ângulos de câmera. E pego muito tema aqui de casa. Se eu sentar com eles em 5 minutos escrevo 20 roteiros. São coisas que toda a família fala.
Confira a íntegra da entrevista.