O assunto divide opiniões e, independentemente da decisão favorável ou contrária do Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) em relação à campanha, a polêmica já foi instalada. O Conselho abriu na última semana processo para julgar a campanha Digitau, após receber denúncia de 15 consumidores, que consideraram que o comercial pode induzir as crianças a escreverem errado. Nas redes sociais, os internautas também intensificaram manifestações: ora a favor, ora contra a propaganda. Há aqueles que dizem, por exemplo, que ‘a patrulha’ contra a publicidade está muito chata.

A campanha multimídia foi criada pela Africa e lançada na primeira quinzena de janeiro, fazendo um trocadilho com o nome do Itaú para divulgar as plataformas digitais do banco para pagamentos, transferências etc. O processo pode começar a ser julgado na primeira reunião do ano do Conar, em 18 de fevereiro, ou a partir de março. O Conselho pode pedir alteração ou suspensão da comunicação. Até o fechamento desta edição, não havia nenhuma medida cautelar para que o filme fosse retirado do ar, a não ser que o próprio anunciante queira fazer isso.

No comercial, crianças cantam “Ele é o ‘Di’/ ele é o ‘Gi’/ ele é o ‘T’ o ‘A’ e o ‘U’/ Ele é o Banco Digital/ Ele é o Banco Itaú”. Logo após a abertura do processo no Conar, a Africa lançou outro filme para explicar Qual a Diferença Entre Digital e Digitau? O comercial começa com a pergunta “o que é digital?” e faz uma gracinha com emoticons para mostrar que o digital é o seu mundo, seu celular… e digital com ‘U’ é transferir dinheiro como mensagem, pagar como quem tira uma foto… e ao final diz: “O mundo é digital com ‘L’ e digital com ‘U’ é o apelido do Itaú feito para esse mundo”.

Especialistas ouvidos pelo PROPMARK não acreditam que uma campanha publicitária tenha o poder de influenciar o aprendizado a ponto de criar uma confusão. “A criança que está no processo de letramento já faz essa troca naturalmente, e não é uma campanha que vai influenciar no aprendizado. Não existe maturidade, na maioria dos casos, nessa faixa etária, que permita a compreensão das regras ao usar o ‘L’ ou o ‘U’”, diz Aline Magnani, mestre em Psicologia  da Aprendizagem  e do Desenvolvimento Humano e professora da Universidade São  Judas Tadeu. 

Na opinião de Isilda Lozano Perez, mestre em educação pela USP e professora de alfabetização na Unicid (Universidade Cidade de São Paulo), trata-se de um preciosismo. “É uma questão de semiótica, é um jogo de sentidos. Eu acredito que seja um preciosismo achar que isso vai influenciar na escrita das crianças. Eu não defenderia que as crianças podem ser levadas ao equívoco da escrita, até porque as crianças em período de alfabetização fazem essa troca naturalmente, e elas fazem isso independentemente de estarem expostas à publicidade. É uma utilização da semiose e faz um jogo de sentidos, ligando o nome do banco ao uso digital”.

Em comunicado, o Itaú respondeu que “a campanha tem como objetivo promover os canais de atendimento digitais do banco, retratando situações cotidianas nas quais os clientes do Itaú ganham tempo ao utilizar os aplicativos do banco no celular. Nos materiais da campanha reforçamos que digital é com ‘L’ – a forma ortográfica correta – e que digital com ‘U’ é apenas um jeito bem-humorado e publicitário de apresentar o novo apelido do Itaú para sua atuação no mundo digital.”

*Colaborou MARIANA ZIRONDI

Relembre os comerciais: