O mundo está ficando broxa. Pelo menos o Brasil está cada vez mais pau mole. Você quer provas, como reclamam os acusados na Lava Jato? Vou falar de evidências, como dizem os da acusação. Um indício da epidemia brutal de paumolência é o fato de que um dos segmentos que mais anunciam nas televisões é o de clínicas que se propõe a curar impotência. Ou ejaculação precoce, que é meio caminho andado.

Um país de broxas é o que somos, pois as clínicas que cuidam disso estão ganhando mais dinheiro do que os bordéis de antigamente. Dizem os chegados à psicanálise que a maior angústia do homem é ficar broxa. Tenho, diante dessa afirmativa, uma permanente atitude de desdém.

Evidentemente não é porque não temo ficar broxa. É que tenho outros medos também. Por exemplo: não ter assunto para escrever uma coluna. Ou não ocorrer uma ideia para criar uma campanha, um anúncio, um filme. No caso da broxura, há desculpas: estresse, Dilma, Temer, Bolsonaro, saudade da mãe, alguma coisa que eu comi. Ou não comi, mas tentei.

Nos angustiantes momentos que antecedem a hora de entregar um artigo, nos terríveis momentos que o prazo para apresentação de algum trabalho de criação está se esgotando, igual a ela estar deitada na cama olhando nos seus olhos e no seu bilau, não dá para simplesmente inventar uma desculpa ou afirmar com a maior segurança que jamais tinha ocorrido algo assim anteriormente.

Broxar, nessas horas, isto é, não encontrar um bom assunto ou não conseguir atinar com uma boa ideia, é como não conseguir uma ereção num palco de show pornográfico. É a broxada pública, inapelável, definitiva. Lembro-me até hoje da noite em que eu e o Zé Guilherme tínhamos de criar um comercial para a Veja e o prazo era curtíssimo, pois o Sabino (o cliente) iria viajar. O briefing era mais ou menos simples: estávamos em plena crise do governo Collor e Veja era a revista que melhor mostrava o que estava ocorrendo no Brasil daqueles tempos. Veja era a revista mais esperada, mais lida, mais necessária.

Veja era indispensável (slogan que perdura até hoje). Pois naquela noite, Zé Guilherme e eu, quase loucos de desespero, não conseguíamos chegar a conclusão alguma. Tudo que nos ocorria parecia muito simples, banal, esquemático, incapaz de emocionar. As horas iam passando e a porra da ideia não surgia.

A gente passou por mais de 30 roteiros. Nada prestava ou parecia prestar. Nessa hora, o humor se vai, aparece um suor esquisito, as mãos tremem. Juro. Dá vontade de chorar. Mais ainda: dá uma puta de uma vontade de morrer.

Faltavam minutos para o prazo acabar. Literalmente. Em cima da hora tivemos o primeiro fio de ideia. Aos gritos, fomos arrumando a estrutura do filme, dando-lhe as necesssárias doses de informação, ritmo, essas coisas. Acabei contando o roteiro pelo telefone, de memória, pois não tinha havido tempo nem de começar a passá-lo para o papel. Fomos salvos no último segundo, quase um milagre do santo padroeiro dos criadores em crise de impotência, um provável Santo Antonio do Pau Mole.

O resto foi quase só orgasmo. O Olivier Perroi e a Isabelle Tanuri melhoraram ainda mais a ideia, ganhamos um Colunistas, o Leão em Cannes, os Profissionais do Ano etecétera, etecétera e tal. Mas eu jamais vou esquecer aquelas horas de impotência inapelável. A certeza de ter escolhido a profissão errada. Graças a Deus tudo desaparece quando vem a ideia salvadora. Tudo é paz no final, seja após o sexo, o comercial criado ou a crônica feita.

Depois vem aquela sensação que os psicanalistas chamam de tédio pós-coito. A sensação de que a vida pode ser boa.

Lula Vieira é publicitário, diretor da Mesa Consultoria de Comunicação, radialista, escritor, editor e professor (lulavieira@grupomesa.com.br)