1. O recém-chegado membro do STF, ministro Luís Roberto Barroso, preocupa a sociedade brasileira com os seus comentários iniciais sobre o julgamento dos recursos do mensalão.
Expressões do tipo “é questionável afirmar que o mensalão foi o maior escândalo do país” ou “não há corrupção melhor ou pior, dos ‘nossos’ ou dos ‘deles’”, intriga quem espera pelo melhor (para o país) e não pelo pior na apreciação dos recursos (embargos) dos réus.
Ao propugnar pela reforma do modelo político brasileiro, tanto do sistema eleitoral quanto do sistema partidário, o ministro Barroso transfere a culpa dos que criaram e operaram o mensalão para o establishment político do país e não para os seus agentes responsáveis pelos fatos.
Melhor teria feito o ministro Barroso, a nosso ver, se, em uma manifestação destemida, contestasse a forma como são escolhidos os membros da mais alta Corte de Justiça do país, em sentido contrário à independência que os três Poderes da República devem ter entre si, segundo a Constituição.
Quem sabe não reside aí a necessidade da mais importante reforma a ser produzida na legislação brasileira?
2. Estamos acostumados a não esperar muito para elegermos, num piscar de olhos, qualquer fenômeno social como transformador, nele apostando nossas fichas para que o futuro seja imediatamente modificado.
Basta um fato diferente, uma manifestação de um grupo qualquer contrariando os alicerces e a própria história do que nos trouxe até aqui, para choverem aplausos e condenações ao que resistiu até agora, mas não mais resistirá graças à grande novidade surgida.
O cenário assim iniciado, que é frequente na história brasileira, provoca a repetição de uma série de exageros, valorizando em demasia o que geralmente não vem para ficar e muito menos para mudar coisa alguma.
O caso mais recente desse fenômeno – vamos chamar assim – e que extrapolou para a mídia, por se apresentar como uma nova e poderosa plataforma de comunicação, foi autodenominado pelos seus integrantes de Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação), com uma cartilha de princípios que não difere de outros grupos de jovens rebeldes surgidos através dos tempos e com maior intensidade, ao despertarem o interesse da mídia convencional pelas suas atitudes e formas de protesto.
O Mídia Ninja, aproximando-se das manifestações populares e até delas fazendo parte, criou um sistema de “cobertura jornalística” lamentável, narrando os acontecimentos por meio de algumas formas de instrumentos de comunicação digital, como os smartphones, e atrevendo-se a interpretá-los sem a mínima condição de uma análise concisa e imparcial, assemelhando-se mais a uma Porta dos Fundos ao ar livre do que a um esforço em busca de um novo tipo de jornalismo, atividade da qual está muito distante.
Mas, como o riso é gratuito e contagioso, não demoraram a surgir seus incentivadores do lado de cá da imprensa séria e combativa, que os governos mal-intencionados querem controlar porque denuncia as suas falcatruas.
Quando profissionais da TV ligados ao humorismo criaram o “Perdidos na Noite” em uma emissora de prestígio na época, e isso tem mais de 40 anos, foram batizados de profetas dos novos tempos da comédia televisiva, que prosseguiu como sempre, com seus altos e baixos, sem conseguir desbancar os tradicionais “Escolinha do Professor Raimundo” (veja reproduções no canal Viva) e a “Praça é Nossa”, que até hoje segue com o filho do seu idealizador e com o sucesso de sempre junto ao target.
Sempre houve, há e haverá esses espasmos tentando contrapor-se ao que está consolidado. Mas pela falta de melhor organização, pela ausência do objetivo comercial – mola mestra das grandes iniciativas do homem – e pelo niilismo que acaba sendo a bandeira de luta dos seus seguidores recalcitrantes, cedo se transformam em estrelas cadentes, decepcionando os seus admiradores. Estes logo aderirão a outra efêmera novidade transformadora, satisfazendo o inconformismo estacionado que carregam e que se deslumbra com pouco.
As grandes transformações sociais e a História estão aí para contar, tiveram enredos e motivações distintas desses tipos de grupos de pessoas no mínimo despreparadas.
Quem viu o “Roda Viva” da TV Cultura de São Paulo, no último dia 5, há de concordar com isso, a menos que, embora com a melhor das intenções, se empolgue facilmente e com pouco.
3. O varejo enfrenta o pior momento da sua história recente em nosso país. Com a economia em baixa e as ferramentas digitais que facilitam a vida do consumidor, impedindo-o, porém, de frequentar o recinto dos magazines e comprar o que não era o seu objetivo, os resultados têm sido pífios, com anos seguidos de queda nas vendas.
Há, também, um componente a mais interferindo nessa situação: a mudança do próprio consumidor, dos seus hábitos de compra e de consumo, do seu grau de exigência e de insatisfação e de um avanço na compreensão dos seus direitos por uma faixa imensa de cidadãos que antes se submetiam a práticas condenáveis como o empurrômetro e a mistificação de alguns itens à disposição nas lojas que não cumpriam com o prometido.
Além disso, há movimentos de aquisições de grandes redes de varejo por grupos de acionistas de outros países, que chegam trazendo a sua própria cultura e pretendendo com isso fazer rapidamente com que os consumidores assimilem e se entreguem às suas práticas.
Sendo isso improvável no curto prazo, abrem-se várias lacunas, derivadas basicamente de novos hábitos cultivados pelo consumidor e que não têm respaldo nas redes nacionais, de um lado, e de outro a resistência da grande massa de consumo ao novo comportamento exigido pelas internacionais. Cria-se com isso uma barreira entre as partes.
O varejo, aliás, também é tema da capa de hoje do propmark. O jornal traz matéria sobre a movimentação que algumas das principais empresas deste setor estão provocando no mercado de agências com a realização de três concorrências simultaneamente.
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2462 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 19 de agosto de 2013