Slogan 'União e Reconstrução' substituiu o 'Pátria Amada Brasil', do governo Bolsonaro
Divulgada oficialmente durante a cerimônia de posse, no domingo (1º), a identidade visual do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva traz o slogan ‘União e Reconstrução’. Visualmente, a nova marca tem as cores da bandeira do Brasil – verde, amarela e azul – e vermelho e cinza.
Pela segunda vez na história, a marca institucional do Governo Federal traz a palavra 'união' – o primeiro foi com Itamar Franco, que assumiu o comando do país em dezembro de 1992, substituindo Fernando Collor, que sofreu impeachment naquele ano.
No entanto, muito embora seja a mesma palavra – 'união' –, o significado é diferente, sobretudo, se levarmos em consideração a divisão política demonstrada nos resultados das urnas do ano passado. João Ricardo Matta, professor de MBA da FGV-SP, destacou a palavra 'união', presente no slogan.
“O conceito da marca é bom, porque trata da união nacional, da frente ampla que foi montada para derrotar o ex-presidente. E, ao mesmo tempo, a questão da reconstrução no sentido de contraponto de dizer que o de antes não era bom”, explicou.
Em relação à identidade visual, Matta destaca que o colorido mostra a diversidade social do brasileiro. "Entretanto, essa identidade visual não me agrada, porque eu acho que ficou um tanto quanto infantil", disse. "Trazer essa multicor para o logo do governo não é uma novidade, pois tentaram fazer uma releitura do passado, o que fez perder a percepção visual", completou o especialista.
A marca institucional do primeiro e segundo mandato do presidente Lula, entre 2003 e 2010, traziam o 'Brasil' escrito em diferentes cores, sobre o slogan 'Um País de Todos'. No governo Dilma Rousseff, primeiro e metade do segundo, dois slogans – 'País Rico é País sem Pobreza' e 'Pátria Educadora'.
Em 2016, no governo de Michel Temer, o conceito foi tirado da bandeira brasileira, 'Ordem e Progresso'. Criada pelo publicitário Elsinho Mouco, a logo era azul e branca, com o verde e amarelo mais discreto, além de ter a esfera da bandeira no centro e a inserção de ‘governo federal”, abaixo de Brasil.
No mandato do agora ex-presidente Bolsonaro, o lema foi 'Pátria Amada Brasil', reproduzindo um trecho do hino. A marca trazia a bandeira nacional, que chegou a ganhar novos contornos – veja abaixo as marcas dos governos de Collor a Bolsonaro.
Professor de marketing político da ESPM, Marcelo Vitorino também remete à marca dos primeiros governos do petista, assim como o especialista da FGV. "A última marca que ele usou já tinha uma mistura de cores que incluía preto e vermelho", lembrou.
"Contudo, naquela época não vivíamos um momento de tanta polarização ideológica entre conservadores e sociais-democratas. Dado o atual momento, talvez uma escolha menos ideológica na composição de cores seria mais prudente, mas também não é algo que deva ser levado como algo relevante", ponderou.
Vitorino acredita que a escolha das formas geométricas na composição do corpo da fonte tenha sido feita devido ao slogan que trata sobre reconstrução. Neste ponto, para ele, pode ser o 'maior problema'. "Marcas de governo costumam ser utilizadas por períodos de quatro anos, e ficar carregando 'reconstrução' por esse tempo pode ser exagerado, além de dar um peso muito grande ao protagonismo dessa gestão".
Antídoto para a polarização?
Mariana Munis é professora de Marketing e Comportamento do Consumidor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em Campinas (SP), e diz que as cores da bandeira, junto com o vermelho e cinza – que, segundo ela, simboliza a classe trabalhadora –, simbolizam a união do povo brasileiro.
"A fonte arredondada remete à proximidade, e os cantos mais pontudos, formados pelas formas geométricas, passam, ao mesmo tempo, sobriedade e firmeza. As formas geométricas da tipografia passam a sensação de diversidade", afirmou.
A 'união', uma das palavras do slogan, vê uma presença da mensagem muito repetida durante a campanha, destacou o diretor de criação na Agência3, João Netto. "Quanto às cores aplicadas, o vermelho pode causar uma certa estranheza em parte das pessoas, ainda mais se olharmos o cenário político, mas vejo também como uma referência a sua última gestão, 2003 -2010, quando a marca já havia trabalhado com elementos em vermelho", disse.
Hilaine Yaccoub, Ph.D e mestre em Antropologia do Consumo pela Universidade Federal Fluminense (UFF), ainda sobre a palavra 'união', disse que, após tumultos motivados por discussões políticas, o país precisa de um objetivo que 'afete positivamente todos os brasileiros'.
"Acredito que a 'união' será o maior desafio do novo governo, pois os ânimos estão acirrados e o brasileiro mudou a forma de ver e fazer política. Com o celular na mão, ele reproduz notícias sem conferir a fonte. Apertar um botão do celular pode criar um tsunami destruidor caso o conteúdo seja devastador".
Já para Renato Figueiredo, fundador da iAZ Estratégia de Marca, a 'primeira retomada' é a preponderância para a palavra 'Brasil'. "Há também uma retomada de outra ordem, a da referência ao movimento modernista, período de forte influência na construção do Brasil moderno, com a presença de traços geométricos e o uso de cores chapadas sobrepostas".