O esforço do festival em aumentar o número de profissionais no júri vindos de vários países refletiu nas discussões, afirmam brasileiros
Mais diversidade nos júris, explosão de energia com os debates presenciais, poucos trabalhos com uso de inteligência artificial e como é importante ter um festival como o D&AD Awards, que celebra a criatividade e o craft. Esses foram alguns dos insights dos jurados brasileiros na edição deste ano do festival realizado na semana passada, em Londres.
Para Rodrigo Sobral, que mora há 20 anos na Inglaterra e hoje é CCO global da Oliver, houve uma explosão de energia com a volta do presencial no D&AD. “Está sendo muito legal ver o entusiasmo e o otimismo das pessoas, porque muita gente teve Burnout nos últimos três anos”, diz ele.
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Em relação aos trabalhos, Sobral afirma que tem muita coisa boa. Segundo ele, o Brasil foi bem em Direct, categoria em que foi jurado. “Foi um recorde de inscrições este ano. Começamos o julgamento com cerca de 600 trabalhos. O Brasil foi muito bem-sucedido em Direct. Ficou muito clara a obsessão pela ideia com uma execução brilhante em todos os pontos de contato”.
O criativo destacou que a área tem evoluído com o fato de conseguir personalizar, cada vez mais, as mensagens para as pessoas com o uso de tecnologia em escala. “Mas não vimos muitos trabalhos que fizeram uso de inteligência artificial. Claramente, tudo está muito no começo, em fase de teste. Ninguém sabe legalmente o que pode fazer. Acho que isso está segurando um pouco. Vimos bastante aplicação de Midjourney, mas fica a impressão de que a imagem não é real”, pondera Sobral.
Já Dani Ribeiro, ECD da Publicis Brasil, jurada em Radio & Audio, levantou uma questão importante sobre o craft. “Estamos em um festival de craft, onde o craft e a ideia são o sentido de tudo. E eu acho que, muitas vezes, o craft está sendo colocado para o final da fila das prioridades do nosso dia a dia, porque os meios estão mais fluidos, mais rápidos, e o conteúdo fica menos tempo no ar, e daí subentende-se que não precisa investir tanto no craft. E a gente sabe que o craft tem uma força incrível, a estética engaja muito. A estética reflete a nossa cultura e acho que a gente não pode perder isso. E não estou falando só do craft gráfico, mas sim de uma adequação de linguagem”, observa a publicitária.
Sobre os trabalhos em Radio & Audio, Dani revelou que o júri achou interessante/preocupante o fato de só ter passado para a shortlist uma peça na subcategoria comercial 30 segundos e, ainda assim, ela não sobreviveu à discussão da shortlist. Enquanto isso, na subcategoria Entertainment, o volume de ideias de alta qualidade foi grande.
“Esse contraste nos dá um caminho, afinal as premiações são um registro de para onde o mercado está indo. A gente percebe como podcasts e entretenimento estão crescendo e isso reflete como o rádio não é mais o grande meio para se propagar o áudio como ferramenta de engajamento. É um sinal dos tempos. A gente só precisa entender o comportamento e começar a pensar no som cada vez mais como um propulsor de ideias e mensagens em outras plataformas”, diz Dani, pontuando que o Brasil não teve uma boa performance na categoria.
Única brasileira presidente de júri no D&AD deste ano, Keka Morelle revela que buscou conduzir as conversas com os jurados de Art Direction no sentido de premiar trabalhos em que a direção de arte teve um papel estratégico na execução da ideia e não apenas a estética.
Segundo ela, o júri abriu uma discussão importante sobre o que é um approach visual para uma marca nos dias de hoje. “Vivemos numa sociedade que tem múltiplos olhares e quando uma marca quer se conectar com uma cultura, a direção de arte, o visual e a estética são muito importantes. Tivemos muita conversa sobre os contextos culturais. Foi um júri com pessoas de vários lugares, então isso foi muito interessante, porque as perspectivas eram bem diferentes”, conta a CCO da WT Brasil. “Foi um marco na minha carreira ter sido presidente de júri de Art Direction, porque o meu background é direção de arte”, pontua Keka.
Diversidade
Pela primeira vez no júri de um festival, a diretora de cena Thatiane Almeida afirma que encerrou o julgamento em Direction bastante feliz, porque a lista final da categoria foi bem representativa e diversa. “Não só em termos de representatividade e diversidade em relação aos realizadores dos filmes, mas também nas linguagens utilizadas”, revelou ela, acrescentando que o júri também foi diverso, o que fez a diferença.
“A gente não combinou, mas aconteceu de chegarmos ao consenso de premiar filmes que fazem a diferença para o mundo no sentido de ter um impacto cultural. É uma categoria muito sobre craft, linguagem, mas naturalmente fomos priorizando as mensagens que importam para o mundo de alguma maneira por motivos diferentes. Todo mundo saiu inspirado com causas, lugares e questões relevantes para o mundo para além da estética e linguagem”, conta a diretora da produtora MagMacx. Sobre a participação brasileira, ela dá um spoiler: “Tinham poucos filmes brasileiros, mas que chegaram longe”.
A diversidade no júri, com a presença de criativos de vários países do mundo, com visões e backgrounds diferentes, foi fundamental para enriquecer os debates na categoria Experential, compartilhou Dedé Laurentino, CCO da Ogilvy UK.
“A categoria de Experiência é muito ampla, vai desde marketing de relacionamento, que pode ser um meio, um serviço digital ou um evento na vida real. Como é muito amplo, precisa observar vários pontos de vista. E é muito bom ter um júri com uma visão global, havia gente da Ásia, de Taiwan, da Índia, latino-americanos, dos Estados Unidos, da Inglaterra, da Romênia e da Holanda. Cada pessoa traz sua experiência, seu jeito de ver aquela mesma peça, analisando os diversos pontos”, reflete ele.
Segundo ele, o júri terminou premiando uma gama de peças equilibrada entre o trabalho comercial de vender um produto e o trabalho de responsabilidade social de uma empresa. “Tem peça brasileira premiada na categoria, mas eu esperava mais. Acho que Experiência não é uma área onde o Brasil se sobreponha em quantidade. Qualidade, sim, tanto que tem peça brasileira premiada”, observa Dedé.
O criativo destaca que julgou mais de 400 peças, mas que não havia cases com inteligência artificial. “Houve, claro, uso de tecnologia de realidade aumentada, mas especificamente IA não vimos. Precisamos entender melhor a tecnologia para usá-la com segurança para as marcas. Por enquanto, estamos só fazendo uso experimental na Ogilvy London”, afirma.
Leia a íntegra da reportagem na edição impressa de 15 de maio