Se no sábado o SXSW pareceu ter uma narrativa alinhada, levando, em diversos momentos, a política ao maior dos seus palcos, o domingo nos lembrou por que é tão difícil definir o festival. A programação do Ballroom D, “o” salão no Austin Convention Center com capacidade para 3000 pessoas, percorreu trilhas distintas e igualmente importantes.
O dia começou com Susan Fowler, ex-engenheira do Uber, responsável por denunciar uma série de abusos e assédios sofridos no período em que trabalhou na empresa, impulsionando uma série de mudanças na cultura da companhia. A programação evoluiu para um papo – talvez o mais leve do dia – entre a cantora e compositora Brandi Carlie e a atriz de The Handmaid’s Tale, Elisabeth Moss, que em seu novo filme, “Her Smell”, interpreta uma cantora de punk rock viciada em drogas.
A conversa ficou bem mais animada com a entrevista de Roger McNamee, ex mentor de Mark Zuckeberg e autor do livro Zucked, para o perspicaz Niclas Thompson, editor da Wired. McNamee colocou a questão de privacidade no centro e apontou para a necessidade urgente de Facebook e demais tech companies reverem seus modelos de negócios.
Segundo ele, o problema não consiste na captação dos dados para uso na experiência da própria empresa com seus usuários mas sim na sua comercialização entre terceiros. Michael Pollan, autor do best-seller “Como mudar sua mente”, encerrou o dia trazendo uma reflexão, menos próxima, sobre o uso de drogas em estudos sobre a consciência e a importância da regulamentação para que esses experimentos sejam estimulados.
Para coroar um dia (já) complexo como esse, só mesmo uma première na madrugada de algum cinema de rua de Austin, com direito a talk entre diretores e atores, além de pipoca, pizza, cerveja e todo tipo de reação, liberados ao longo de toda a exibição. Pelo que se vê por aqui, o festival leva mesmo a sério essa história de diversidade e pretende se afastar dos rótulos cada vez mais.