A vida imita a arte. Ou, ao menos, é inspirada por ela na DMV, agência especializada em comunicação para shoppings. No último dia 10, o aposentado Guilherme Lobarinhas, de 68 anos, começou a trabalhar como estagiário na empresa. O profissional, que dedicou sua carreira à área de vendas, participará do programa usualmente feito por jovens: passar uma semana em cada área da agência e cumprir o que restar dos seis meses do contrato onde se encaixar melhor. Caso se mostre necessário ao negócio, ele será efetivado, como ocorre com todos os estagiários.

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A ideia de contratar um profissional experiente para ocupar o cargo foi inspirada no filme Um Senhor Estagiário, com Robert De Niro e Anne Hathaway. Na trama, um site de vendas de roupa, criado há menos de dois anos, abre um programa para contratar idosos como estagiários. “Minha filha estava assistindo o filme em casa e eu pensei: ‘por que a gente não tem um cara assim?’. No dia seguinte, fiz o anúncio no Facebook”, explica Sergio Molina, sócio-diretor da agência. Por mais que esperasse um bom retorno, Molina não tinha ideia de que teria mais de 130 mil compartilhamentos e quase mil candidatos à vaga.

“Foi muito legal porque todo mundo fazia comentários positivos nas redes sociais. Para nós, o importante era a experiência de vida da pessoa e não saber onde ela trabalhou”, conta o executivo. Foram escolhidos pouco mais de 30 currículos e os candidatos passaram por uma dinâmica dividida em dois grupos diferentes. “Foi muito emocionante. A gente acha que tem preconceito apenas contra gay, contra negro, mas contra os idosos (o preconceito) é assustador”, afirmou o executivo. De acordo com Molina, a seleção chegou a oito nomes finalistas.

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O sócio da agência conta que ficou impressionado com a disposição ao trabalho que os candidatos mostraram. “Até a última etapa, ninguém havia perguntado sobre o salário, que será de R$ 1.200”, diz.
Na carta de apresentação, enviada pelo candidato escolhido, ele comparou o anúncio da agência ao do seu primeiro emprego, como vendedor de enciclopédia, e elogiou a atitude da empresa. “Em muito breve, vocês estarão em busca de mais profissionais com essas características. Estou pronto e ansioso por ser sua escolha. Garanto que, no mínimo, todos vão trabalhar com muita alegria e risos, pois sou um ser que acredita que (essas características) são fundamentais para conquistar objetivos e amigos, e não simplesmente colegas de trabalho. A máxima que aprendi muito cedo: atrás de um faxineiro ou de um presidente de empresa sempre existe, sim, um ser humano igual a todos nós, com defeitos, qualidades e, principalmente, emoções, e é com elas que eu me relaciono com o mundo”, dizia na carta.