Tem um monte de gente dedicada a estudar as gerações dos mais jovens. Há muitas pesquisas e estudos voltados à geração Y ou à dos Millennials. É natural, além de ser um fenômeno importante, trata-se de analisar o futuro.
E, além do mais, analisar jovens é sempre interessante. Só tem um problema: estão se esquecendo dos “velhinhos”. Um estudo recente da Locomotiva, apresentado em evento da ABA no fim do ano passado, me fez resgatar o assunto que já fora tema de um artigo que escrevi em 2013.
Naquele momento, a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) estimava que os brasileiros com mais de 60 anos movimentavam nada menos do que R$ 400 bilhões, o equivalente ao PIB da Irlanda.
Esse número já era 45% maior do que cinco anos antes. Eram 22,3 milhões de pessoas, das quais 5,4 milhões ainda estavam no mercado de trabalho, com ou sem carteira assinada.
O estudo mais recente, da Locomotiva, estima que a população econômica com mais de 50 anos já representa no Brasil uma Espanha inteira ou duas Austrálias. Em 2045, seremos 93 milhões de brasileiros com mais de 50 anos.
Esses tais “velhinhos” – tecnicamente considerados idosos a partir de 60 anos – já preocupam governantes de todo o mundo, que assistem a um crescimento constante da participação dessa faixa etária no estrato demográfico da sociedade.
É paradoxal considerar idosos aqueles com mais de 60 anos, quando observamos, na mesma proporção do crescimento da população nessa faixa, o aumento da qualidade de vida que faz um “velhinho” de 60 e poucos anos levar uma vida de intensa atividade física, profissional e intelectual.
Na minha infância, alguém com 60 anos era o estereótipo do aposentado, de pijamas, arrastando o chinelo pela casa, com rabugices da idade. Hoje, eles estão nos bares, teatro, viajando e se confundindo com “jovens” quarentões.
Difícil acertar a idade dos neoidosos. Muitos se vestem de forma jovial e se comportam de forma muito diferente daquela estereotipada do velhinho aposentado. É nessa faixa etária o crescimento mais expressivo de usuários de internet.
Nada menos que 5,2 milhões de pessoas acima dos 60 anos têm acesso à internet no país – 21% da população que está na terceira idade. Vovós e vovôs povoam as redes sociais e se comunicam com familiares com desenvoltura crescente.
Nota-se uma clara preferência do mercado por focar jovens e, mais recentemente, retratar na comunicação de marketing uma igualdade de gêneros, algo que virou fixação de uns tempos para cá. Tudo bem! Altamente justificável a preocupação.
Mas e a geração “enta” (a dos com mais de quarenta anos de idade)? É menos charmoso e moderninho expor as rugas e os cabelos brancos, mas não dá para deixar de lado um mercado crescente no mundo inteiro.
O fato é que a tradicional pirâmide populacional rapidamente vem se transformando num formato mais retangular, quando se observa o número de idosos com peso equivalente ao dos mais jovens.
O Brasil passou de uma taxa de fecundidade de 6 filhos por mulher na década de 1960 para 4,5 no fim da década de 1970.
Em 2010, conforme dados divulgados pelo IBGE, a taxa média de fecundidade no Brasil era de 1,86 filho por mulher, semelhante à dos países desenvolvidos e abaixo da taxa de reposição populacional, que é de 2,1 filhos por mulher.
Ou seja, o Brasil deixou de ser um país jovem e entrou no time dos países preocupados com a sustentabilidade da Previdência. Se, por um lado, as previsões geram uma preocupação, por outro, uma oportunidade.
Em 2050, os idosos serão 2 bilhões no mundo! E mais ativos que nunca! Terão mais saúde e disposição para se movimentar e consumir. Estenderão sua capacidade de trabalhar e movimentar a economia. Se você ainda não pôs a geração “enta” no radar, repense sua estratégia de longo prazo.