As agências de publicidade são férteis em criar para seus clientes campanhas que defendem causas – as mais diversas. Campanhas que chamam a atenção da opinião pública para um determinado problema, gerando sinergia com o receptor, como, por exemplo, quando se fala sobre saúde mental. Por isso, vamos tocar em uma ferida muito chata. O que ocorre quando passamos de pedra a telhado? E mais, quando precisamos e devemos jogar a pedra em muitos desses nossos telhados? A recente campanha Project 84, da Adam & Eve/DDB, de Londres, para a CALM, instituição de saúde mental masculina, colocou 84 esculturas em tamanho real no topo da ITV Tower, na capital inglesa, para simbolizar o número de homens que tiram suas vidas toda semana no Reino Unido por causa da depressão.
Campanha forte, que mereceu o Leão de prata em Creative Effectiveness na edição deste ano do Cannes Lions Festival. Podemos dizer que é mais louvável ainda o fato de a campanha levar 220 mil pessoas a assinar petição da Change.org para o secretário de Saúde, Jeremy Hunt, e para Theresa May, então primeira-ministra, pedindo que o governo desse maior atenção à prevenção do suicídio. Esse tipo de resposta deixa a nós, criativos, muito orgulhosos. Afinal, gostamos de causas e, quando podemos defendê-las com um cliente também disposto a abraçá-las, unimos propósito social à criatividade para entregar o melhor resultado possível.
Mas e quando precisamos mudar a direção da bússola e olhar o próprio umbigo? Estudos apontam que nossa profissão é uma das mais estressantes que existem. Somos uma das categorias que mais sofrem com a síndrome de Burnout, distúrbio psíquico caracterizado pela tensão emocional e o estresse provocados por condições de trabalho desgastantes, classificado como doença pela Organização Mundial de Saúde. Também de acordo com a OMS, o Brasil é o país mais depressivo da América Latina e possui o triplo da média mundial quando o assunto é transtorno de ansiedade. Nosso dia a dia possui prazos curtos, busca pelos melhores resultados, cobranças e tudo que cerca a profissão – para o bem e para o mal. Ao fim do dia, muitas vezes não vemos o que acontece conosco e com nosso colega ao lado. O simples “mudar a visão” pode trazer uma nova realidade. Pequenas coisas podem ser o começo de um progresso maior em prol da nossa saúde mental. Para o bem e para o mal. As agências procuram, indistintamente, fazer o melhor, com programas e ações para mudar esse cenário.
Temos muitos bons exemplos de empresas – do setor ou não – que fomentam e promovem ações, programas internos e projetos cujos objetivos são criar um ambiente em que se estimule a se praticar o autocuidado. Programas que levam às agências, por exemplo, especialistas em meditação, alimentação ayurvédica, reiki, aromaterapia, respiração consciente, enfim, meios que ajudem na dura caminhada do nosso ofício. Além de um bom bate-papo sobre esses assuntos, cria-se um momento de meditação coletiva, relaxamento e “desestresse” nas agências. Vale a reflexão. Isso é solução? Não. Problemas vão surgir, mas, dependendo da forma como os encaramos, temos melhores consequências para nossas vidas e para o dia a dia no trabalho. A resiliência é fundamental para crescer profissionalmente no cenário atual. No entanto, o sucesso não pode ter um preço tão alto. Não adiantam prêmios se eles nos custam o nosso maior bem: nossa saúde física e mental. Pensar nisso e agir pela mudança no nosso pensamento – e na nossa atividade – é um dever de todos. Vamos juntos?
Morena Melo e Priscilla Carvalho
Redatora e produtora da Ampla Comunicação, respectivamente