Lembra do tempo em que você tinha certeza de que o que você comprou pertencia a você: Pois é, não é mais assim.
O que você comprou e pagou por é seu, mas, mais ou menos, depende, veja bem…
Outro dia minha Smart TV Samsung me comunicou, apenas desconectando sem o meu consentimento e vontade, que a minha assinatura do Spotify não rodaria mais na TV que eu tinha absoluta certeza e convicção que era minha. Mas não era, ou melhor, era, em termos.
Esqueci-me que as TVs inteligentes são movidas a programas, que esses programas têm dono.
Assemelham-se, sob esse aspecto, mais a computadores, notebooks, tablets e smartphones do que às velhas e boas TVs que eram nossas de verdade e por inteiro.
Agora o móvel é meu – oba! –, mas toda a inteligência, com exceção dos conteúdos grátis, os tais de canais abertos, inteligência que dá acesso ao digital, essa inteligência do meu TV inteligente pertence à marca da TV que eu acreditava que era minha, mas veja bem, mais ou menos…
A minha TV é minha, o conteúdo da memória da minha TV é provisoriamente meu, mas a inteligência da minha TV é da Samsung. Isso a Samsung não me vendeu… e eu não sabia…
E assim, há mais de seis meses, não consigo mais ouvir as minhas músicas e seleções na sala de minha casa. Só no celular e no escritório…
A Samsung brigou com o Spotify e as
minhas músicas emudeceram… E aí veio uma matéria do The Economist que tenta esclarecer tudo.
Diz: “Desde o advento dos smartphones os consumidores vêm tendo de se conformar com o fato de que não controlam os softwares de seus dispositivos. Têm única e exclusivamente licença para utilizar e dentro de certas condições…”.
E aí os exemplos foram revelando-se aos borbotões. Quem comprar um carro elétrico da Tesla, jamais poderá trabalhar para o Uber. O carro não roda. A Tesla não permite, porque a inteligência do carro é da Tesla.
E quando você vai conversar com os fabricantes das traquitanas que você comprou e supõe que pertencem a você eles advertem: se você não seguir
o combinado não nos responsabilizamos ou, pura e simplesmente, não vai funcionar…
Outro dia tive um problema no meu smartphone Samsung e levei num lugar para consertar.
E o técnico me disse que determinadas áreas dos aparelhos são bloqueadas pela empresa e ninguém consegue fazer absolutamente nada…
Conclusão, compramos, mas não é nosso. Podemos, sim, mas, dentro de certos limites.
De verdade, mesmo tudo o que temos é licença e permissão de transporte, posse e uso. Mas, definitivamente, não nos pertence. Um conceito novo e inimaginável de propriedade…
Tá ligado? Tá, tô, mas, mais ou menos…
Atenção, não se desespere. Mais adiante tudo será assim. Você estará na miséria, não terá mais nada. Graças a Deus! Livre, leve e solto para ser feliz! Já era hora! Vamos encher a cara juntos!!!
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)
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