1. Parodiando a limitação de velocidade nas vias marginais expressas de São Paulo, o início do segundo semestre (no mercado publicitário julho é um mês intermediário entre o primeiro e o segundo semestre) pode significar um aumento de velocidade na movimentação dos negócios, fazendo com que todos saiam dos 30/40 km por hora, para alcançar pelo menos os 50.
Já será alguma coisa, em um ano que vem castigando o Brasil e os brasileiros como poucas vezes registra a nossa história. A propósito, totalmente sem nexo a nova ideia assoprada pelo publicitário João Santana à presidente Dilma Rousseff, recomendando a todas as lideranças do principal partido situacionista, que lembrem em suas manifestações públicas que o país já esteve pior que agora.
Essa tese conformista não tem nada a ver com o tom da campanha eleitoral – criada pelo mesmo publicitário – que levou Dilma Rousseff ao segundo mandato. E, também, que tipo de mensagem solta no ar é essa, que procura comparar com o pior, quando o que se almeja é superar nossos melhores momentos?
Já que estamos em ano pré-olímpico, seria o mesmo que glorificar atletas perdedores, porque não seriam os piores; já tivemos desempenhos inferiores no passado, diria Santana.
O que se quer e deseja é o retorno a tempos no mínimo semelhantes aos que consagraram os governos de Fernando Henrique Cardoso e do próprio presidente Lula da Silva, quando elevaram os padrões de vida de parte considerável da população brasileira, com resultados mais significativos na base da pirâmide.
O que se quer, deixando de lado comparações com governos anteriores, é que se cumpram minimamente as promessas da última campanha presidencial, para que deixe de permanecer nos brasileiros o gosto amargo do engodo.
2. Voltando ao mercado da comunicação do marketing, é necessário também, em busca da meta dos 50 km por hora, que os anunciantes reflitam sobre a importância da publicidade não apenas no desenvolvimento dos negócios, como também – e por causa disso – no estímulo e na reação em cadeia que a retomada da propaganda sem dúvida proporcionará, como sempre tem ocorrido nessas fases da nossa história econômica que João Santana quer reviver com outros objetivos.
Se a propaganda é a alma do negócio, como sempre repetimos, não podemos esperar pelo aumento da velocidade nas transações econômicas, sem que cada player desse imenso tabuleiro chamado Brasil deposite sua fé nessa alma.
Não se trata de fazer caridade, mas de voltarmos todos a acreditar no beabá de uma atividade econômica que sempre nos fascinou e fascina, porque invariavelmente ganhou o jogo a que foi levada a jogar.
Não cabe ao mercado publicitário, em especial aos anunciantes, fazer coro, neste momento, com a maioria da população do país que anda de cabeça baixa diante dos descalabros que não cessam de vir à tona. Essa mesma grande parcela da população que está condenada a pagar uma conta que não produziu, mesmo aqueles que apertaram o botão errado nas últimas eleições presidenciais. Porque, se assim procederam, agiram em boa fé, ludibriados – agora se vê – por falsas promessas de uma vida melhor para todos.
Compete a nosso ver aos anunciantes, às agências, à mídia em geral, às produtoras e fornecedores do mercado e outras instituições que com ele têm contribuído para uma escalada de aperfeiçoamento elogiada em todo o planeta, cabe a todo o povo inteligente, hábil e sensível da nossa comunicação do marketing, a tarefa, embora árdua, de se contrapor a esse estado de espírito que tomou conta da grande maioria da população brasileira, lançando campanhas de recuperação nacional ao mesmo tempo em que vendem seus produtos e serviços.
Novamente, se dermos uma olhada na história do mundo nos últimos 100 anos, a partir de quando a atividade publicitária passou a se organizar empresarial e profissionalmente, encontraremos um sem número de campanhas, nos mais variados países – inclusive no Brasil – que se propuseram a levantar o moral dos mercados onde os anunciantes atuavam, inclusive governos de territórios arrasados que todavia não perderam a compostura.
Se aqui no Brasil o governo também anda de cabeça baixa, como facilmente se percebe, não é ele quem deve liberar essa corrente positiva, nem sequer dela participar.
Cabe uma vez mais à iniciativa privada essa missão, que pode ser para o bem de todos e felicidade geral da nação. Se isso for muito, que ao menos recupere parte da nossa autoestima, que o resto virá com o tempo e com outros governos.
3. Pode ser aditada ao texto acima, observação do nosso colaborador Humberto Mendes, VP executivo da Fenapro, sobre a iniciativa de um grande anunciante mundial: “Durante a Segunda Guerra, a indústria americana praticamente se transformou em indústria bélica, com todas as empresas produzindo os insumos necessários ao enfrentamento de uma conflagração que já tomava de assalto quase toda a Europa e Ásia. Foi em meio a essa situação difícil que Henry Ford, com sua visão de futuro, autorizou uma grande campanha criada pela Thompson, lançando o olhar da montadora no fim do conflito mundial. O tema era ‘Há um Ford em seu futuro’, frase que forrou os muros, paredes dos postos de serviço automotivo e dos locais onde se permitia publicidade, indo para o interior do país, para as porteiras das fazendas e espaços de veiculação permitidos nas praças e ruas das cidadezinhas norte-americanas. Com o fim da guerra, a Ford colheu os frutos da sua coragem em não desistir e insinuar junto à população que a paz poderia estar se avizinhando. A Ford esgotou sua produção com o final do conflito. Muitas empresas que não anunciaram, quebraram. O país ganhou a guerra, mas elas perderam a batalha de continuar no mercado”.
*Presidente da Editora Referência, que edita o jornal promark e as revistas Propaganda e Marketing