1. Falta ao governo um interlocutor de peso, que consiga se comunicar com a opinião pública brasileira interpretando o pensamento oficial, os planos de governo e quanto tempo mais durará o sacrifício imposto à população através do aumento brutal do custo de vida.
Não há, neste segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, esse tipo de estadista que se coloque como âncora do governo, mas explicando ao povo que o remédio amargo deverá ser tomado até tal momento da vida pública nacional.
Pelas atuais circunstâncias, quem mais deveria exercer esse papel é o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sem dúvida (segundo quem o conhece de perto) bastante competente, mas sem empatia para o diálogo com as massas, sejam elas de grande monta ou de números reduzidos.
O ministro Levy não tem o cacoete necessário para convencer multidões e seus pares no governo a ele se assemelham nesse quesito. A recorrência da presidente Dilma Rousseff ao seu vice, Michel Temer, pode ter aliviado seu dia a dia nos embates com o Congresso Nacional, mas não tem servido para a comunicação com o povo.
Há que se considerar nessa análise, que dificulta ainda mais procurar-se esse interlocutor dentre os mais próximos da Presidência da República devido ao descrédito que atingiu o governo, e aí estão as pesquisas de opinião pública a confirmar essa situação.
A presidente Dilma Rousseff não tem sequer uma tropa de choque a protegê-la e que possa realizar a ligação entre ela e os habitantes deste país.
Nas poucas vezes que tenta esse diálogo, o que se vê são ouvintes catequizados para escutá-la, portando dísticos vermelhos que revelam de saída o comprometimento ideológico desses “admiradores”.
A presidente perdeu a condição de se dirigir, calma e conscientemente, à nação, a partir já do início do seu segundo mandato, muito provavelmente em decorrência de uma campanha eleitoral mal conduzida, na qual de fato foi feito o diabo para se ganhar a eleição, mas não se soube no ato seguinte como expulsá-lo do grupo vencedor.
E o Diabo é um grande cobrador de contas. Quem lhe deve sabe que, mais dia, menos dia, vai tê-lo pela frente aprontando das suas e sem se preocupar com a consequência dos seus atos, até porque goza de um privilégio que o faz sobrepor-se àqueles que com ele celebraram parcerias, ainda que circunstanciais: ele é eterno, tem a vida inteira – no sentido mais amplo que essa expressão possa significar – para atazanar quem lhe deve.
2. Enquanto isso, a vida segue e os pobres mortais, como se dizia no passado, têm de prosseguir lutando e resistindo para que se evite o pior.
Por isso mesmo, já próximos do início do quinto mês do novo governo, resta-nos acreditar, ainda que por puro instinto de sobrevivência, que o pior já passou, se é mesmo que já passou.
No fundo, temos de pensar que sim e fazer, desse imenso limão que nos foi ofertado, uma possível e ainda que aguada limonada. Os mais velhos e a própria História garantem que já passamos por momentos piores, e essas mesmas fontes costumam atribuir às características do povo brasileiro uma grande dose de resistência, acrescentando ainda que esta sempre vem acompanhada de esperança e denodo.
Um exemplo bem recente desse comportamento foi visto na Avenida Paulista, quando da manifestação verde e amarela do dia 12 último: alguém assentou sobre o chão um caixote, providenciou um microfone e uma modesta caixa de som, vendendo por três reais o direito de quem quisesse fazer uso da palavra durante três minutos e sem censura.
Os mais próximos desse tipo de empreendedorismo e oportunismo garantem que o dono daquele minipalanque defendeu o almoço e o jantar daquele domingo.
É esse o espírito brasileiro que vai nos salvar ou, pelo menos, melhorar o pior. Temos a certeza de que, de fato, as coisas, embora lentamente, começam a acontecer. Um país de 202 milhões de habitantes não pode se entregar. O simples movimento diário dessa enorme população em busca de alimentos e outros mínimos bens para mantê-la em funcionamento faz a economia girar. E essa velocidade aumenta na medida em que surgem outras necessidades e desejos. Nada diferente, como se vê, da própria história do homem no planeta.
Sem dúvida, não precisaríamos chegar a tanto para recomeçar. Mas, pode estar aí, sem que ainda não tenhamos nos dado conta disso, o término de um ciclo da nossa História repleto de mentiras, promessas vãs e o protagonismo de muitos oportunistas iludindo suas presas, encantadas porque ouvindo o que finalmente alguém lhes falava o que queriam ouvir.
Pode estar chegando o dia, se é que já não chegou, de melhor amadurecermos para a realidade da vida, cuja essência pode ser melhor encontrada na capacidade de pensar e não apenas de ouvir.
A qual canção dos anos de chumbo pertence mesmo aquela inesquecível lição aos déspotas: “Parar de falar eu paro, mas não paro de pensar”?
3. Um registro todo especial do propmark – irmão poucos dias mais novo – à TV Globo, que estará completando, dia 26, meio século de inestimável contribuição ao desenvolvimento do país.
Qualquer balanço que se faça procurando estabelecer todas as realizações da Globo em prol do Brasil e do povo brasileiro, nunca será pleno. Sempre alguém ou um grupo de pessoas acabará se lembrando de ações e influências que o balanço não considerou e, no entanto, também muito ajudaram o país a ser o que é hoje. Apenas como exemplo da sua linha de conduta em prol de uma sociedade melhor, o que não dizer da importância da Globo na ingente tarefa da quebra de preconceitos?
Particularizando para o campo da comunicação do marketing, proposta editorial maior do propmark, esse setor não teria alcançado o nível atual de modernidade e eficácia, que o faz reconhecido em todo o planeta, não fosse a contribuição a ele prestada pelo desenvolvimento da Rede Globo.
Ela tem funcionado inclusive como o principal alicerce de um modelo de negócio que vem se deteriorando lá fora, sob a alegação do surgimento das chamadas novas mídias que, entretanto, ainda muito devem aos mercados, para se constituírem em grandes novas mídias, com a exclusividade pretendida.
A propósito, formas de mídias não desaparecem. São agregadas por outras, enaltecidas por apresentarem tecnologias avançadas, como igualmente ocorreu com suas antecessoras. Basta para tanto imaginar o que não significou o surgimento do rádio e posteriormente a televisão para a humanidade. E se hoje alguns profetizam o fim desses meios, podem estar enganados, como acreditamos, pois o que complementa e avança não elimina a origem.
*Presidente da Editora Referência, que edita o propmark e as revistas Propaganda e Marketing