1. Estamos assistindo a uma parte das consequências do desgoverno que o país vem sofrendo nos últimos tempos, com as faturas para consertar os rombos chegando diariamente às nossas mãos.

A pergunta que não quer calar para a maioria dos cidadãos conscientes e verdadeiramente patriotas do Brasil é sobre o grau de culpa que nos cabe por termos governos e governantes exageradamente caóticos e alguns deliberadamente desonestos.

Nosso exame de consciência aponta para um distanciamento próprio de quem não tem meios para evitar o grande mal que assola o país, cujos principais símbolos neste momento são representados pelo petrolão e pelas crises hídrica e energética.

Claro que há muito mais que isso, mas seria provavelmente suportável sem esses megamalfeitos que pairam sobre nós.

Os aumentos dos tributos que estão chegando desmentem todo o quadro cor-de-rosa que nos traçaram na última campanha eleitoral, para não caminharmos em demasia para trás.

Não completaram ainda quatro meses os discursos que nos enfiaram goela abaixo no famigerado horário eleitoral gratuito e nos debates na mídia eletrônica, quando o país do qual então se tratava na ocasião era um exemplo para o mundo.

A engabelação não tardou a se revelar, provavelmente mais cedo até do que previam seus autores. De um lado, os vitoriosos nas urnas para os cargos eletivos do governo federal e do outro, aqueles que se elegeram dois anos antes nos Estados e que participaram ativamente desta última eleição que simbolicamente realizou-se com a população ainda amargando o fracasso da Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo.

Não há palavras que possam exprimir com clareza o que estamos sentindo de revolta e nojo, diante do petrolão, apagões e crise da água. A natureza pode ter a sua parte de culpa, mas a incúria é dos nossos governantes, que não tomaram a tempo as devidas providências diante de uma tragédia de há muito anunciada.

Crises hídricas e de energia elétrica têm nos visitado com certa frequência de 50 anos para cá, mas os governantes de plantão se permitiam em suas respectivas épocas, varrê-las para debaixo dos tapetes palacianos, porque entre outros motivos, não se permitiam iniciar obras que não iriam inaugurar.

Quanto à crise do petrolão, sucessora do mensalão, a culpa inicial também pode ser atribuída à natureza, porém a outro tipo de sua manifestação: a natureza humana de certos indivíduos descarados e ladrões da pior espécie, que por ocuparem altos cargos na República, multiplicam os efeitos dos seus atos espúrios, contaminando o país com a certeza da impunidade e fazendo por isso boa parte da população importar do passado e embutir no seu dia a dia, a reflexão de Rui quando pôs no papel o que para ele era um retrato do momento: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, rir-se da honra e ter vergonha de ser honesto.”

Mal sabia o Águia de Haia que a sua verdade prevaleceria até os nossos dias e ainda com maior força nesta quadra da vida nacional, onde manda quem pode e obedece quem tem juízo, infelizmente.

Não há pior malfeitor vestido de autoridade do que aquele que usa os pobres como escada para as suas condenáveis ambições. O inferno será pouco para esse tipo de gente.

2. Sempre que nos perguntam – principalmente os moços – sobre a nossa opinião a respeito da regulação da mídia, ora tão repetida por conhecidas autoridades brasileiras, a resposta é com outra pergunta: “Para quê?”

Sim, para que a regulação da mídia, disfarçada em conter monopólios e oligopólios, como se o próprio governo atual não fosse um monopólio de poucos? Para quê?

Aos abusos, existe a legislação civil e criminal ao dispor dos atingidos, como ocorre com qualquer outro tipo de ultraje.

O mais estranho nessa balela é que os áulicos da censura à imprensa são os mesmos ou sucessores ideológicos daqueles dos idos do AI-5, que decretou entre outras monstruosidades a censura da mídia, provocando em todos os setores da população brasileira, inclusive nos que hoje querem a regulação, dor e revolta.

Como se explica a contradição atual? Provavelmente, a natureza dos mesmos objetivos: silenciar a nação diante dos seus, digamos, excessos.

*Presidente da Editora Referência, que edita o jornal propmark e as revistas Propaganda e Marketing