1. O dr. Joaquim Levy parece um peixe fora d’água junto com os demais 38 ministros do governo da presidente Dilma Rousseff.
Não que seja mais capaz que eles, mas porque seu perfil tem pouco a ver com os companheiros.
Com todos os seus erros, Mantega – vaiado injustamente no Einstein recentemente e em um momento familiar difícil – assimilava-se mais com o conjunto que se desfez em dezembro passado.
A impressão que se tem, com a sua face enigmática, é que o doutor Joaquim Levy pode não estar totalmente arrependido por ter aceito o convite, recusado pelo chefe Trabuco. Mas, na mesma medida, não está totalmente satisfeito, porque seus pares têm ideologias distintas, o que pode a qualquer momento criar uma barreira para a continuidade de Levy.
Antes que esse comentário possa ser lido como um texto de defesa do novo ministro da Fazenda, é bom ressaltar que para nós o doutor Levy pegou pesado demais nas chamadas maldades, vitimando preferencialmente trabalhadores e empreendedores.
Os benefícios incrustados no Executivo, onde ele poderia facilmente mexer, estão preservados, logo provocando a observação popular de que é fácil mexer na casa dos outros, com o cuidado de preservar a nossa.
Ainda bem que, mesmo que por vingança, o presidente da Câmara Federal rejeitou a medida provisória que torna a onerar a folha de pagamento por parte das empresas e de forma excessiva quando aplica o índice de 150% de aumento para quem havia ficado no limite do 1% de imposto sobre a receita bruta.
Renan Calheiros, que todos sabemos não ser o que podemos chamar de parlamentar exemplar, recusou a medida provisória, o que foi imediatamente contraditado pelo Executivo com um projeto de lei.
Este pode até ser aprovado no prazo regimental e depois de muita discussão no plenário das Casas de Leis, mas representou mais um susto para o ministro Levy, que percebeu a partir daí a qualidade do terreno em que pisava.
O atual governo, considerando-se em seu terceiro mandato, levou 12 anos para deixar o país na atual situação que tem permitido a muitos sentir saudades do Plano Collor, por exemplo. Não é agora, em um ou dois meses, que pode se propor a corrigir muitos outros “escorregões” e “brincadeirinhas”, no jargão nada compatível do ministro da Fazenda.
Dizem os mais entendidos na alma popular brasileira, que o próximo dia 15 poderá representar a nota de corte para o sucesso do governo iniciante do 4º período da era PT.
Vamos aguardar, torcendo para que os resultados de mais essa provável conta não sejam entregues a nós e sim àqueles que fizeram o diabo para ganhar eleições.
2. Orlando Marques, presidente nacional da Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade), lendo o nosso editorial anterior, quando propusemos uma campanha publicitária a ser assinada por várias entidades classistas vendendo a ideia de que, apesar de tudo, devemos prosseguir acreditando no Brasil, revelou-nos que está trabalhando nesse sentido para que a campanha aconteça.
Sabemos, nós e ele, que não é tudo. Trata-se apenas de um ponto de referência que pode influenciar boa parte da população brasileira.
Mas, deve ser tentado, como já foi no passado, para que não nos entreguemos todos ao mais profundo desânimo, como tem acontecido nestes últimos três, quatro meses, com início deflagrado após tomarmos conhecimento do engodo da campanha eleitoral da candidata vitoriosa.
Pouco tardou para a população brasileira cair na real e constatar que o brilho das promessas de campanha transformou-se rapidamente em cinquenta tons de cinza. A avalanche despencou sobre todos, e hoje – ainda tão próximos das eleições – já vislumbramos eleitores de Dilma Rousseff arrependidos, considerando-se enganados pela prática reprovável de fazer o diabo para ganhar eleições.
A verdade é que a economia do país está paralisada, o mercado de serviços onde o marketing mais atua ainda não se reencontrou e a sucessão de absurdos – inclusive na lista de Janot, que poupou cabeças coroadas, com a artimanha de inserir uma da oposição para depois tirá-la, fingindo empatar o jogo – leva-nos a crer que o Brasil precisa ser reconstruído.
A tarefa não é fácil e poderá levar meses ou mesmo anos, o que aflige ainda mais. Se a tese do impeachment é rejeitada por boas cabeças pensantes, em troca de não termos o pior (no que concordamos piamente), resta-nos ficar com o que aí está até 31 de dezembro de 2018, um dia que ainda demorará muito a chegar.
O Brasil não merece mais esse castigo, mas tudo é consequência de certo desencanto dos cidadãos mais esclarecidos do país, que não se dispuseram, a seu tempo e hora, a combater este momento trágico que não cansou de ser inúmeras vezes anunciado.
O pior é que pode ser que o pior ainda não tenha acontecido, como por exemplo temem alguns: o Brasil ser outra Venezuela ou Argentina na América Latina. Por que não?
Boa parte dos que estão hoje no poder deixa transparecer gostar dessa ideia. Por que então duvidamos?
Sabemos que o Brasil – como aqui já foi dito – é grande demais para cair nesse abismo. Mas, o argumento dos que querem nos levar para ele é exatamente o de que estão lutando para que não ocorra.
Olhem para situações parecidas no mundo de ontem e de hoje e percebam como a dissimulação sempre acompanhou os mal-intencionados.
3. O publicitário Roberto Duailibi, sócio-fundador da DPZ, agência que tantas glórias trouxe e prossegue trazendo para o setor da comunicação do marketing nacional, preferiu, bem a seu modo, deixar a poeira da grafitagem da Av. 23 de Maio baixar, para dar a sua opinião a respeito. Isso ocorreu através de um muito bem alinhado artigo no Estadão de 4/3, página 2.
Dono de um texto sempre elogiável, que o fez transformar-se em um dos publicitários brasileiros mais conhecidos dentro e fora do país, Duailibi indaga logo de saída no título “Queremos ser a capital do grafite?”, instigando o leitor já discordante desse tipo de arte popular nas paredes da cidade, a encontrar maiores subsídios para o seu desagrado.
Embora reconhecendo, já no primeiro parágrafo do artigo, que São Paulo nunca foi um exemplo do quesito coerência estética, o autor concluiu que agora, com as intervenções visuais recentes, a cidade degringolou de vez.
E, para não atacar apenas a sofrível qualidade dos artistas populares responsáveis por essas obras, Duailibi deixa claro o absurdo dos governantes municipais franquearem fachadas públicas para os grafiteiros, sem consulta prévia à população e muito menos a respeito da seleção dos “artistas” (grifos dele).
E vai Duailibi por aí afora, transformando seu texto em um libelo acusatório contra essa avalanche de transgressões oficiais que a nova ordem que vem nos sendo imposta pratica, como uma horda de invasores famintos por desrespeitos invadindo território alheio.
Sem deixar de perguntar qual imagem estamos passando a quem nos visita (e que deve ser a pior possível nesse sentido), Roberto Duailibi escolhe para o parágrafo final o tom jocoso da sua personalidade, mas sempre verdadeiro quando o tema precisa ser tratado com seriedade: “Neste momento, as únicas pessoas felizes com o que está acontecendo creio que são os fabricantes de tintas e latas de spray, que nunca venderam tanto”. O autor não reconheceu felicidade sequer no responsável maior por esse desastre ambiental, nosso alcaide-inventor.
4. No Dia Internacional da Mulher, nosso reconhecimento à importância da data, que nem precisaria existir se diferente tivesse sido construída a civilização.
A elas, portanto, nossas homenagens e o mais justo respeito pelo trabalho que desenvolvem atingindo e em seguida mirando novas metas a serem ultrapassadas.
Essa escalada tem sido admirável.
*Presidente da Editora Referência, que edita o jornal propmark e as revistas Propaganda e Marketing