1. Uma vez mais o Brasil disse a que veio em Cannes, antes mesmo do início do principal evento do festival que é o Cannes Lions.

É que no “aperitivo” que se repete pela segunda vez este ano, o Lions Health, nosso país obteve 17 Leões, tendo sido o concorrente mais premiado na área de Wellness.

Estamos redigindo este editorial no início da tarde da última sexta (19), quando ainda havia a possibilidade de sucesso também no Young Lions Health, ocasião em que a dupla de brasileiros formada por Marcos Vinicius dos Santos Alves e Diego Gil de Oliveira Castelhero, situava-se entre as 18 duplas finalistas do certame. Mais tarde, soube-se que a vitória coube à dupla de outro país (leia nesta edição), cabendo, porém, aos nossos jovens concorrentes um honroso terceiro lugar.

O importante nos dois fatos acima é que o Brasil mantém a sua relevância no Cannes Lions, condição que ostenta desde há muito no mais importante concurso da comunicação mundial do marketing.

O leitor poderá acompanhar em tempo praticamente real, pelo hotsite especial do propmark, os resultados de todas as categorias disputadas em Cannes, além dos conteúdos de seminários e palestras previstos para o megaevento anual, que tem o Brasil como o segundo maior concorrente em número de inscrições, colocação que se repete nesse tipo de ranking há vários anos seguidos.

Tão importante quanto a competição, porém, é a grande feira de negócios em que se transformou o Cannes Lions, reunindo anualmente, na Riviera francesa, caciques representantes dos mais diversos segmentos que compõem o vasto mundo da comunicação comercial.

Se até há poucos anos era fraca a presença de anunciantes, hoje seus presidentes e diretores comparecem em grande número, tomando conhecimento ao vivo do que de melhor se faz e quem faz o melhor na comunicação do marketing.

Em Cannes, inovação é o nome do jogo e é exatamente isso que mais se exige hoje dos criativos, suas agências e players que compõem o conglomerado de atividades, que, em sua essência, objetiva o que sempre os primórdios da publicidade procuraram: a mais real e efetiva aproximação de quem produz (produtos, serviços, etc.), com quem compra, passando pelos intermediários e atingindo o chamado consumidor final.

E cada vez mais, nesses movimentos, alarga-se a participação de governos, ONGs e as mais diversas entidades do terceiro setor.

A comunicação publicitária, para ficar no rótulo mais assimilável por todos, com maior destaque nesse particular pelos consumidores, impôs-se de vez em um mundo que a inventou, a rejeitou em alguns sistemas políticos que o avanço da humanidade vem derrotando, esforçou-se por regulá-la e regulamentá-la, criando-lhe algumas trancas e barreiras, no que teve êxito e estava certo, para finalmente, nestes tempos em que vivemos apressados em busca de objetivos que, à medida em que nos parece alcançá-los, eles ainda mais se distanciam, essa mesma comunicação, cada vez mais aperfeiçoada e consentânea com o seu tempo, passa a ser, além de necessária, glorificada, e atingindo o grau de conteúdo jamais imaginado pelos consumidores.

Os menos jovens bem se lembram que, nos meios eletrônicos analógicos, era comum deixar o ambiente do aparelho emissor no intervalo comercial.

Hoje, ele é tão ou mais aguardado – dependendo da situação – do que a programação do conteúdo de cada emissora.

Esse comportamento passou a fazer parte do mundo digital desde o seu início, tendo sido um dos responsáveis pela rápida evolução desse admirável mundo novo.

O mesmo já havia ocorrido com os anúncios na mídia impressa, cada vez mais criativos, tanto no seu conteúdo quanto na forma de se apresentar nos meios representantes desse setor.

Se a propaganda é a alma do negócio, ela rapidamente atinge um status antes impensável: passa a conviver lado a lado com a alma do ser humano.

2. Senadores da República brasileira foram à Venezuela procurando visitar os presos políticos do vizinho país que o petróleo valorizou e que Chavez e seus seguidores, mesmo após sua morte, mantêm reféns de uma ditadura, onde só tem voz e vez quem pensa (e age) do seu jeito.

Nossos representantes – que estavam em missão oficial em nome do Senado – foram rechaçados já na saída do aeroporto em Caracas, ficando impedidos de ir e vir como em qualquer democracia, por simpatizantes de Nicolas Maduro (curiosa e coincidentemente a maioria vestindo camisetas vermelhas).

Ainda não caminhamos nessa direção aqui no Brasil, mas devemos ficar atentos, mesmo com o desprestígio sofrido pelo atual governo diante do fracasso da sua política econômica, cujas consequências atingem-nos a todos.

O populismo barato (caro para a nação e seu povo), cuja preocupação maior é criar cortinas de fumaça para incontáveis diatribes, tem sempre o mesmo caminho de percurso: iludir as massas, criar uma situação de vitimização para os que ocupam o poder e viver seus principais agentes uma vida quase comparável às maiores fortunas do capitalismo.

Como há muitos contingentes ingenuamente crédulos entre a população, costumam esses líderes levar vantagem até que as máscaras caiam, o que dificilmente ocorre de uma só vez.

O Brasil precisa com urgência definir o que quer e o que não quer.

O momento é propício.

3. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, um estranho no ninho, já deve ter percebido que em uma economia recessiva é quase impossível esperar muito da iniciativa privada.

As empresas estão demitindo, encolhendo-se e temerosas do futuro imediato, sobre o qual as previsões – inclusive as oficiais – têm sido as mais disparatadas possíveis.

Ninguém, absolutamente ninguém, tem certeza hoje no Brasil, de quando ocorrerá o fim dessa crise, cujos maiores responsáveis foram a incompetência e o desprezo das autoridades em fechar torneiras exuberantemente abertas.

Estamos a um passo do segundo semestre e quem achava que, sendo atingido, logo tudo melhoraria, já começa a transferir suas previsões para o início de 2016. Os mais pessimistas chegam a falar em 2017.

O que falta realmente são lideranças preparadas para enfrentar o pior (que, novamente os mais pessimistas, acham que ainda está por vir), apresentando à população soluções mais criativas que o costumeiro aumento da tributação.

Tais lideranças, porém, têm que ser críveis. Se existe algo de que todo o país está esgotado, são os falastrões que por muito tempo (recente) reinaram e que hoje deixam de ser ouvidos, a não ser pela sua própria tropa de choque remunerada e com direito a ração fria.

Esperar da iniciativa privada combalida, ministro Levy, equivale a esperar o impossível neste momento. Até que às vezes ele acontece, mas está cada vez mais difícil.

Quem sabe pode decorrer de menor pressão tributária do governo, dando mais tempo ao tempo para a recomposição dos números da administração pública.

Querer consertar apressadamente um colossal estrago, que vem de anos de desídia, é inconcebível até para um povo que sempre foi notoriamente esperançoso.