Armando Ferrentini: "quem governa um país, tão simples quanto dois mais dois são quatro, deve governar para todos os seus habitantes"

1. O recado às autoridades republicanas brasileiras foi dado em 15 de março, quando 2 milhões de cidadãos saíram às ruas em todo o país para protestar pacificamente contra a corrupção nos órgãos públicos e seus derivados.

Por mais que o governo tente jogar a atual crise na conta de todo o planeta, a população está conscientizada de que o problema é aqui mesmo, resultado não só de grandes desonestidades praticadas, como também da utopia de imaginar que se resolve o grave problema da miséria de parte dessa mesma população apenas distribuindo benesses.

E, ainda pior, jogando brasileiros contra brasileiros, na mais clara intenção de dividir para governar, como ensinava Maquiavel.

Os tempos, porém, são outros e não é mais possível sacrificar em brancas nuvens determinadas camadas sociais com benefícios prometidos e pouco cumpridos a favor de outras menos favorecidas, por governos demagógicos que, não podendo nivelar todos por cima, nivelam, como consequência dos seus atos, todos por baixo.

Quem governa um país, tão simples quanto dois mais dois são quatro, deve governar para todos os seus habitantes, com a sapiência de estimular e aproveitar cada vez mais os talentos que dentre eles afloram. É com certeza um erro condenar de forma indiscriminada os vencedores, tentando desqualificá-los com pejorativos como elite branca, como se a maior parte dos que nos governam não fosse branca e, por consequência das altas remunerações e benefícios que se auto atribuem, não fosse igualmente elite, hoje com certeza a maior e mais segura de todas.

É da natureza desse tipo de pregação ideológica que assistimos no país, o inevitável: os que se proclamam defensores do povo costumam sair dessa luta abastados em sua grande maioria, quando nela não entram já nesse estado de posses.

2. Se o recado, como registramos, foi bem dado a quem não é poder, mas apenas está no poder, é necessário que a população se conscientize – noves fora os que saem em movimentos ditos sociais pelas ruas em troca de algum cachê e dois sanduíches frios – de que o mais importante já foi feito e na contagem dos manifestantes do bem, mesmo com “urnas eletrônicas” calculando muito para baixo o número de pessoas presentes, revelou-se um extrato de inconformados que é no mínimo preocupante.

Além do mais e como se não bastasse essa indubitável manifestação cívica, 48 horas depois o Datafolha revelou um índice de não aprovação do atual governo da ordem de 62%, o que nem Fernando Collor, hoje aliado do Planalto, conseguiu obter nas vésperas do seu merecido impeachment.

3. Por isso, acreditamos serem desnecessárias novas passeatas com o mesmo objetivo. Qualquer diminuição eventual do número dos futuros participantes seria imediatamente aproveitada pela máquina oficial visando desqualificar um dia glorioso para o país como o último 15 de março, que fez o governo sentir, como ainda não havia sentido até então, o peso das suas contrariedades.

A festa cívica daquele domingo já pertence aos anais da história da democracia brasileira, a que emana do povo para o povo, como aprendemos nos primeiros bancos escolares, e não a que usurpa seu nome para disfarçar o que não passa de outro tipo de ditadura, que não veste farda, mas nem por isso é menos repulsiva.

Repare, todavia, o leitor que ambas têm pontos em comum, sendo como são formas de ditaduras. O principal deles é atacar a mídia, objetivando o seu controle. Simplesmente porque a liberdade de expressão incomoda os poderosos de plantão.

Basta imaginar, usando-se um fato grave que prossegue ocupando as primeiras páginas dos nossos jornais, como seria bom para os envolvidos no escândalo do petrolão se tivéssemos os meios de comunicação censurados.

4. Não vamos, pois, cair no erro de repetir passeatas como repetem os que podem realizá-las nos dias úteis de cada semana. O recado, repetimos, está dado. Compete às autoridades agir para que nossa insatisfação diminua e o país volte a crescer, propiciando uma vida se possível melhor para todos. Temos para nós que o governo tomou consciência da importância que representou o último 15 de março, que deve até ter surpreendido alguns setores oficiais mais extremados. A própria presidente Dilma Rousseff tem se mostrado nestes últimos dias mais atenta aos rumos do país, em busca de providências que abreviem a crise estimada pelos experts para durar até o fim deste ano. O Brasil não aguentará tanto tempo e a sensibilidade feminina de Dilma Rousseff percebeu isso.

5. Enquanto esperamos e torcemos para que o resultado desse jogo perigoso para todos seja virado o quanto antes, é de se esperar que o empresariado não desista da força da comunicação publicitária, arma potente sempre ao dispor de um sério combate às diversas formas de crise entre si parecidas, como essa que atravessamos agora.

A propaganda gera estímulo e é disso que mais precisamos. Como também precisamos de uma campanha nacional desenvolvida pela iniciativa privada, com o mote de Acredite no Brasil.

Já escrevemos sobre isso recentemente e, se ainda ela não surgiu, a hora pode ser agora, quando a crise hídrica ameaça diminuir, provocando uma preocupação a menos nas cabeças de todos.

Acreditar sempre no país é um chamamento que mexe com todos, porque no fundo somos todos, absolutamente todos, 202 milhões de patriotas e sentimentais. Basta ver como nos emocionamos – novamente todos, absolutamente todos – ao som do Hino Nacional.

A hora é agora: acredite no Brasil.

* Presidente da Editora Referência, que edita o propmark e as revistas Propaganda e Marketing