Armando Ferrentini, presidente da Editora Referência: "nesta terra firme, a esperança é mesmo a última que morre"

1. Embora lentamente, a economia brasileira sinaliza para uma recuperação, com todos torcendo para que de fato isso ocorra e se possível com brevidade.

Para tanto, necessário se torna que a corrupção como nunca antes se viu neste país tenha chegado ao fim – o que soa até ingênuo supor – ou que se desarticule por um bom tempo, possibilitando aos empreendedores e trabalhadores recuperar ao menos parte das suas perdas e voltarmos todos a nele acreditar.

Seria oportuno, então, que a classe política brasileira falasse menos e produzisse mais, em prol do fortalecimento das instituições e em benefício dos 202 milhões de brasileiros, com grande parte deles ainda estupefata diante de todos os malfeitos que vêm sendo revelados sem interrupção pela imprensa livre deste país.

Sabemos que, mesmo diante da coragem do juiz Moro, alguns salafrários serão contemplados com todos os benefícios que as nossas esdrúxulas leis penais possibilitam, tornando quase sempre positivo o mandamento de que o crime não compensa.

Há sempre bons e caros advogados dispostos a defender o que a todos, ou no mínimo à maioria, parece indefensável. E há o Supremo, composto por membros não todos juízes e, pior, nomeados pelo Executivo com o aval do Legislativo, o que conflita de forma gritante com a propalada independência dos Poderes da República.

Eles podem até ser harmônicos entre si e, às vezes, são até demais, mas independentes, com essa condição inacreditável de dois deles escolherem os mais altos integrantes do terceiro, que poderá vir a julgá-los lá adiante, é que não são.

Voltemos, porém, à terra firme, onde se trabalha e se pagam altíssimos impostos para não só financiar os nobres e necessários serviços de educação e saúde, dentre outros, como também para cobrir rombos imensos causados ao erário por um tipo de malandragem que chocou e continua chocando a todos, pois há ainda muita desfaçatez espalhada nas falas de determinadas mulheres e homens públicos que deveriam – ao invés – pedir desculpas pelos seus erros colossais.

Nesta terra firme, a esperança é mesmo a última que morre. O esforço de quem sai cedo de casa e só retorna à noite, de quem não para de pensar em como resolver problemas que não foram causados por culpa sua, mas cujas soluções são tiradas dos seus parcos recursos, esse esforço é o que acabará propiciando um cenário melhor.

É para ele que apelamos, na crença de que não há outra saída a não ser essa. Às vésperas de mais um 1º de maio, é oportuno relembrar as sempre atuais palavras de Eça de Queirós (1845-1900), no seu texto “O Povo”, que o saudoso publicitário Carlito Maia distribuía a amigos e adversários nesta semana do ano que já foi melhor interpretada em tempos idos: “Há no mundo uma raça de homens com instintos sagrados e luminosos, com divinas bondades do coração, com uma inteligência serena e lúcida, com dedicações profundas, cheias de amor pelo trabalho e de adoração pelo bem, que sofrem, que se lamentam em vão.

Estes homens são o Povo.

Estes homens estão sob o peso de calor e de sol, transidos pelas chuvas, roídos de frio, descalços, mal nutridos; lavram a terra, revolvem-na, gastam a sua vida, a sua força, para criar o pão, o alimento de todos.

Estes são o Povo, e são os que nos alimentam.

Estes homens vivem nas fábricas, pálidos, doentes, sem família, sem doces noites, sem um olhar amigo que os console, sem ter o repouso do corpo e a expansão da alma, e fabricam o linho, o pano, a seda, os estofos.

Estes homens são o Povo, e são os que nos vestem.

Estes homens vivem debaixo das minas, sem o sol e as doçuras consoladoras da Natureza, respiram mal, comendo pouco, sempre na véspera da morte, rotos, sujos, curvados, e extraem o metal, o minério, o cobre, o ferro, e toda a matéria das indústrias.

Estes homens são o Povo, e são os que nos enriquecem.

Estes homens, nos tempos de lutas e de crises, tomam as velhas armas da Pátria e vão, dormindo mal, com marchas terríveis, à neve, à chuva, aos frios, aos calores pesados, combater e morrer longe dos filhos e das mães, sem ventura, esquecidos, para que nós conservemos o nosso descanso opulento.

Estes homens são o Povo, e são os que nos defendem.

Estes homens formam as equipagens dos navios, são lenhadores, guardadores de gado, servos mal retribuídos e desprezados.

Estes homens são os que nos servem.

E o mundo oficial, opulento, soberano, o que faz a estes homens que o vestem, que o alimentam, que o enriquecem, que o defendem, que o servem?

Primeiro, despreza-os; não pensa neles, não vela por eles, trata-os como se tratam os bois; deixa-lhes apenas uma pequena porção dos seus trabalhos dolorosos; não lhes melhora a sorte, cerca-os de obstáculos e de dificuldades, forma-lhes em redor uma servidão que os prende e uma miséria que os esmaga; não lhes dá proteção; e, terrível coisa, não os instrui: deixa-lhes morrer a alma.

É por isso que os que têm coração e alma, e amam a justiça, devem lutar e combater pelo Povo.

E ainda que não sejam escutados, têm na amizade dele uma consolação suprema”.

2. Completamos: e é em nome desse Povo que alguns malandros hoje dizem agir, praticando exatamente o oposto.

3. O prefeito de São Paulo deveria também se preocupar, além de bicicletas e limitação da velocidade de veículos automotores em vias antes expressas, com as placas indicativas dos nomes das ruas, avenidas e praças da cidade. Nesse quesito, São Paulo vive em completo abandono, desde que foi promulgada a famigerada Lei da Cidade Limpa, que proibiu a publicidade nos totens que sustentavam essas placas nas esquinas da cidade.

Confira o próprio leitor mais essa calamidade imposta à população paulistana.

*Presidente da Editora Referência, que edita o propmark e as revistas Propaganda e Marketing