Outro dia, num domingo, com a temperatura girando em torno dos 40 graus, resolvo trabalhar um pouco no escritório de casa. Devidamente abastecido com um branco bem gelado, vou ao computador para descobrir que estou sem internet. Calma, Lula! Podia ter quebrado o ar-condicionado. Tomo um gole de vinho e vou à luta. Teclo o número da operadora. Espero. Atendem rápido. E me botam uma musiquinha para esperar com calma. Muito tempo depois entra uma voz eufórica: “Olá! Sou Eduardo, seu atendente virtual!”. Só falta dizer que está infinitamente feliz por eu ter ligado. Não entendo por que alguém, mesmo virtual, esteja tão faceiro num domingo à tarde, atendendo chato por telefone. “Olá!”, penso em responder. “Como vai você?” Mas me lembro que não se trata de um ser humano. Não vou entrar nessa. Aguardo.
Ele começa a me passar um cardápio imenso de possibilidades de contato, a maioria com opções que eu não imagino que alguém, num domingo à tarde, esteja interessado. Tecle um para saber sua conta, dois para sei lá o que, três para adquirir novos produtos, novas promoções. São ofertas que Einstein entenderia: combos de pré-fixo, pós-pago com 40 mega e Whats- App sem limite ou o sensacional Plano Empresarial PlusVita de 50 mega mais fixo com celular e Facebook de perfil infinito, com direito a 180 minutos de chamadas de longa distância e internet acumulada semana a semana. Aliás, esse negócio de cobrar por semana é maracutaia. Quem tem salário por semana? Quem programa a vida por semana, não sendo americano e vivendo lá? Dezenove e noventa por semana são oitenta paus por mês, mas um João Santana da vida inventou que dezenove e noventa por semana não são oitenta por mês, e parece que todo mundo acreditou.
Ninguém mais nessa área fala em números redondos, nem em dinheiro nem em meses, anos, semestres. A culpa deve ser minha, por ser velho e burro. Depois da ladainha toda, incluindo uma hipótese quase irônica de que eu tenha resolvido saber informações sobre produtos da Oi (é domingo à tarde, eu só quero mandar minha coluna para o PROPMARK), ele pede meu número de telefone. E descobre que não é do que estava cadastrado que estou ligando. Claro, caralho! Estou ligando para dizer que meu telefone e minha internet estão fora do ar. Evidentemente só posso fazê-lo por outro telefone. Se pudesse ligar do meu telefone ou tivesse internet para falar com vocês, não o faria. Iria trabalhar, iria para a piscina, mas não ligaria para uma gravação com um ser virtual eufórico.
Fico calmo quando Eduardo me diz o que devo fazer. Cada vez mais animado, ele pede o número do telefone do qual estou ligando. Digito. Música. Entra outra voz e avisa que, para minha segurança (hein?), minha ligação está sendo gravada. Que bom! Que bom! Um dois três, testando! Sooooommmm! Volta o porra do Eduardo, o virtual, que me comunica, absolutamente fora de si de alegria, que meu plano é fodão, que vai me transferir para a área dos fodões. Sou transferido para a área VIP (será que VIP significa Vamos Importunar o Puto?). Entra uma voz. De quem? Eduardo – o eclético. Já transitando no ambiente dos fodões, sou avisado que basta digitar o número do meu código para ser atendido. Beleza. E o número do meu telefone. Teclo. Entro em outra área. Quem me atende? Surpresa! É o Eduardo. Só o Eduardo trabalha na Oi. E se diverte, pelo visto.
Lembro-me que a última atendente virtual dessa turma era a voz da Cláudia Cruz, mulher do Cunha. Mas a voz era mais sóbria, menos feliz. Ed pede para eu esperar um pouco. Entra um ruído de teclas sendo acionadas (quem inventou esta porra? Ruído de tecla sendo acionada para marcar passagem de tempo? Gênio!). Entra nova gravação. Vocês não vão acreditar. É o Dudu, o onipresente, o que tudo vê, tudo sabe, mas nada faz. Pede para eu esperar. E derrama mais cinco diferentes hipóteses de acessos. Incluindo, claro, um sensacional novo plano de combo total: celular, internet, tablet, fixo, chiclete e 18 léguas de papel higiênico por semana. Manda aguardar.
Uma outra gravação me dita um protocolo de atendimento com uns 15 números. Devo tê-lo em mãos, caso necessário. Mais música. Uma merda de uma música. Entra uma voz claramente nordestina (a melhor coisa até agora, um ser humano com aquele delicioso sotaque de Mossoró, a terra da flor de sal e do melão mais doce que qualquer doce) e me pergunta o que eu desejo. “Um amor infinito, uma tarde em Itapoã, a paz, uma ereção”. Penso, mas digo que desejo consertar minha internet. Ela me pede o número. Digito. Ela me recomenda desligar o modem, aguardar e religar. Desligo. Ela me fala que vai me telefonar. Aguardo. Nada acontece no telefone mudo. Ela volta: não está funcionando… Eu replico: nem a internet. Ela me diz: vou protocolar a ida de um técnico. Vamos confirmar seus dados. Digite seu telefone. Começo a digitar. Cai a linha. Volto a chamar. Entra o Eduardo: “Olá!” Olá, Eduardo, olá! Há quanto tempo!
Lula Vieira é publicitário, diretor da Mesa Consultoria de Comunicação, radialista, escritor, editor e professor