Em meio à maior crise das últimas décadas, a maior depois da 2ª Grande Guerra, a da Covid-19, o jornal Valor comemorou seus primeiros 20 anos de existência. E, para tanto, imprimiu toda uma edição de sábado/domingo e segunda-feira, dias 2, 3 e 4 de maio, em papel couché fosco de dupla gramatura. Mas, sem muitas comemorações. Como dizia a música de Ivan Lins, por outras razões e motivos, “os tempos eram assim…”.
Mais que merecia, mas, os desafios da coronacrise, mais que atrapalharam a mais que merecida comemoração. Mais, mais, mais… Menos. “Coisas do mundo, minha nega…”, como canta Paulinho da Viola. Quando o Valor nasceu, o principal dos jornais desse território, a Gazeta Mercantil, agonizava. E assim seguiu durante esses 20 anos… E depois do fim da Gazeta Mercantil, sem nenhum outro concorrente específico. Mas com muitos concorrentes genéricos, na medida em que os principais jornais do país, todos, passaram a ter cadernos de economia e negócios. Todos, sem exceção. Inclusive os sócios de Valor no nascimento, Folha e O Globo.
Na edição comemorativa, Valor não retornou ao seu início, apresentou um gráfico sobre a evolução da circulação. Restringindo-se aos últimos cinco anos. Em 2015, Valor alcançou uma circulação média no impresso de 41.431 exemplares, e no digital, de 18.291. O digital, como de certa forma vem ocorrendo com todas as demais plataformas de comunicação, cresceu em todos esses 5 anos. Saltando dos 18 mil, de 2015, para 24 mil em 2016; de 26 mil, em 2017, para 57 mil em 2018; 70 mil em 2019 e, neste momento, 2020, uma circulação de 81 mil exemplares… Já no papel, no analógico, vem caindo. Dos 41 mil de 2015, para 36 mil, em 2016; 31 mil, 2017; 30 mil, 2018; 27 mil, 2019; e, 25 mil neste ano de 2020. Originalmente Valor era uma parceria entre o Grupo Globo e o Grupo Folha. No dia 13 de janeiro de 2016, os dois grupos sócios em Valor anunciam a venda da participação da Folha para O Globo. Curiosamente, a separação foi anunciada pela Época Negócios, da Editora Globo, da seguinte e patética maneira: “Grupo Globo compra participação do Grupo Folha no Valor Econômico. Jornal especializado em economia passa a pertencer integralmente à empresa carioca…”. Socorro! Grupo nacional requentando o “bairrismo”… E agora, meses atrás, em plena pandemia, comemorando seu 20º aniversário, a diretoria de redação do jornal assim se posicionou:
“Registramos, com os jornalistas isolados em suas residências e com a mesma incredulidade das pessoas em todo o mundo, essa avassaladora pandemia e suas consequências. Contamos, consternados, as mortes, as dificuldades de nosso sistema de saúde, a queda abrupta da renda das pessoas, as crises em muitas empresas cujas histórias de expansão acompanhamos, a brutal destruição de riquezas e as muitas manifestações de solidariedade. Nunca as histórias que contamos foram tão tristes em seu conjunto, mas nunca, nesses 20 anos, nosso trabalho deixou de levar informações aos leitores das mais relevantes”.
Assim, em meu nome, de todos os consultores da Madia e de todos os empresários, profissionais e estudantes empreendedores do Brasil, parabéns, Valor, pelo valor inestimável que tem agregado às nossas vidas, empresas, conhecimento. Ainda que não possamos, neste momento, nem ajudá-lo a apagar as 20 velas, nem cortar o bolo, nem mesmo brindarmos com uma taça de champanhe. Independentemente dos desafios do momento, mais que valeu, Valor! Em tempo: acho bobagem e maluquice os jornais de verdade continuarem referindo-se aos seus desempenhos somando o papel ao digital. Não existe jornal no digital. Jornal é no papel. No digital é qualquer outra coisa, mesmo repetindo na íntegra tudo o que está no papel. Mas, não é jornal. É uma outra qualquer insípida, inodora, estática, causa inapetência e anorexia, não permite movimentar-se os braços, pescoço, olhos.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)