Antes eram só as mulheres (ou, pelo menos, eles não confessavam), mas o fato é que agora os homens também passam algumas horas no salão para darem um trato no visual e parecerem bem. Uma das razões deste incremento foi a mudança no comportamento masculino com relação a hábitos de cuidado pessoal, higiene e beleza. Se os homens antes tinham certo pudor em cuidar da aparência e do corpo, hoje se sentem mais confortáveis em espaços exclusivamente masculinos.

 

Pesquisa do Instituto Qualibest realizada recentemente mostrou que 43% dos homens já se consideram vaidosos e 54% frequentam regularmente salões e barbearias. A Minds&Hearts, especializada em estudos comportamentais, entrevistou no primeiro semestre do ano passado 414 brasileiros de 16 a 59 anos, das classes A, B e C, e descobriu que 45% deles buscam com frequência informações sobre tratamentos e cosméticos masculinos na internet ou em outros.

 

Segundo João Carlos Basilio, presidente executivo da ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), “cada vez mais, o público masculino se conscientiza da importância desses tratamentos para o fortalecimento da autoestima, do bem-estar, da saúde e do sucesso pessoal e profissional”. A variedade de serviços tem sido um atrativo para o homem, que descobriu o prazer de se cuidar de forma mais completa. A pele recebe limpeza, os cabelos podem ser tintos, a depilação e massagem são tratamentos a que eles perderam o medo de se submeter. Os dados de faturamento reforçam essa tendência. Nos cinco últimos anos, o setor de estética masculina cresceu 94,4% no Brasil. Saltou de R$ 10,07 bilhões para R$ 19,6 bilhões no período entre 2011 e 2016.  “Os homens se conscientizaram da importância desses tratamentos para o fortalecimento da autoestima, do bem-estar, da saúde e do sucesso pessoal e profissional”, completa Basílio.

 

São números que se comprovaram neste Natal, em uma das novidades em franquia que se espalhou pela cidade de São Paulo: as redes de barbearia e estética masculina.  Com nove unidades, espalhadas pela capital paulista, a rede de barbearias Garagem, Barba, Cabelo e Bem-Estar, esteve com 70% dos horários reservados para os dias 23 e 24 de dezembro, sábado e domingo até o fechamento desta edição. E mais: pela primeira vez, as lojas abriram nos dois domingos que antecederam o Natal (10 e 17 de dezembro) para atender a enorme demanda de homens interessados em dar um up no visual, incluindo pôr a depilação em dia, pintar costeletas, cortar cabelos e barba, enfim, tudo visando as festas de fim de ano e, também, fazer bonito na praia, durante as férias.

 

“Os homens definitivamente assumiram a vaidade e estão investindo em outros serviços, muito além de barba e cabelo. Se antes apenas cortavam e aparavam a barba, hoje ousam mais. Um homem que só cortava o cabelo, agora também faz o pé, tira sobrancelhas, depila o corpo, investe em luzes e também em uma massagem relaxante, tudo para se preparar para a véspera de Natal e para o período de férias. Ou seja, agora, eles também se tratam igualzinho ao público feminino”, diz Fernanda Dib, proprietária da rede Garagem.

 

Cuidados com a saúde

A busca de orientação para cuidar da pele, da barba e do cabelo tem levado mais brasileiros a procurar ajuda médica. A dermatologista Denise Steiner conta que há dez anos era raro um homem aparecer em seu consultório com queixa relacionada à qualidade da pele, aparecimento de rugas ou manchas. “Agora, cerca de 30% dos meus pacientes são homens”, ela diz. “Eles vêm espontaneamente em busca de soluções para melhorar a aparência da pele, prevenir o envelhecimento e manter um rosto mais bem cuidado.”

 

O tricologista Luciano Barsanti, diretor médico do Instituto do Cabelo e presidente da Sociedade Brasileira de Tricologia (SBC), confirma essa tendência. Segundo ele, no passado o que levava os homens ao consultório era principalmente a luta contra a calvície. “Hoje, chegam por diversos motivos”, afirma. “Buscam, por exemplo, orientações ou tratamentos para tornar a barba mais densa, hidratada e brilhante ou para cuidar de acnes, dermatites ou foliculites.”

 

Estimular a ida dos homens ao médico, mesmo que inicialmente apenas por razões estéticas, é outro benefício dessa transformação. A partir do dermatologista, eles podem receber orientação e incentivo para buscar outros tratamentos preventivos, um cuidado que, como se sabe, não é uma prática comum entre os brasileiros.