Além de atrair o público que assistiu à primeira versão, obras têm o poder de cativar os mais jovens pelo buzz gerado com nova roupagem
A cada semana, uma novela das 21h da Globo, sozinha, atinge 70 milhões de pessoas, o que uma plataforma de vídeo leva quase um ano para alcançar somando todos os seus conteúdos. Os dados internos da emissora demonstram a força do formato e como ele está vivo, levando inclusive serviços de streaming a produzirem novelas também.
O que tem chamado a atenção é que, nos últimos dois anos, a Globo vem apostando mais em remakes de novelas. Primeiro foi com ‘Pantanal’, em 2022, e neste ano lançou uma nova versão de ‘Renascer’. E por que a emissora decidiu resgatar esses sucessos do passado em um espaço tão curto? Amauri Soares, diretor dos Estúdios Globo, TV Globo e Afiliadas, afirma que os remakes são uma oportunidade.
“A Globo produz releituras de obras clássicas desde a década de 1980, quando levamos ao ar novas versões de ‘Amor com amor se paga’, ‘Roque Santeiro’ e ‘A gata comeu’. Nos últimos 40 anos, fizemos 26 remakes distribuídos nos três horários de novelas da programação da Globo. A nossa curadoria busca sempre a melhor história para determinado momento. Pode ser uma história inédita ou um remake”, diz Soares.
E engana-se quem pensa que novela não atrai os jovens brasileiros. Segundo a Globo, o gênero de conteúdo mais visto pelos jovens no Brasil é a telenovela: 85% dos jovens brasileiros com mais de 12 anos assistem novela. E, no horário nobre, a TV Globo tem mais jovens na audiência do que todos os streamings somados.
“Isso mostra duas coisas: a vitalidade do formato e a atratividade das histórias que temos escolhido para contar. O vínculo da audiência brasileira com as nossas novelas é profundo. Por isso, as novelas são nossa prioridade máxima. Elas alcançam mais de 173 milhões de pessoas ano após ano, quase a população brasileira inteira”, complementa o diretor dos Estúdios Globo.
As novelas das nove são a maior audiência da TV brasileira há décadas. E, de acordo com Soares, são também o conteúdo mais consumido no Globoplay, tanto no sinal ao vivo da TV Globo como sob demanda. “É uma audiência muito potente e, por isso, nossas escolhas precisam ser feitas com um conhecimento muito profundo dos brasileiros.”
Para Pedro Curi, coordenador do curso de cinema e audiovisual da ESPM e especialista em cultura de fãs, remakes têm uma possibilidade de sucesso muito grande porque conseguem resgatar o público da versão anterior e, por meio de uma “nova roupagem”, conquistar novos públicos. Ou seja, existe o resgate da memória afetiva, criando um buzz em torno da novela e fazendo com que um público mais jovem tenha interesse em assistir. “Podemos ver isso tanto em ‘Pantanal’ quanto em ‘Renascer’ e outros remakes realizados pela Globo e pelo cinema. Remake do cinema e da televisão há muito tempo é uma estratégia de resgatar histórias que tiveram uma grande relevância e reconhecimento do público e do mercado e passam a ser atuais novamente. ‘Pantanal’ retorna em um momento importante de discussão sobre o meio ambiente e ‘Renascer’ tem várias questões que podem ser atualizadas e na época não tinham tanta relevância, mas hoje podem ser resgatadas”, afirma Curi.
Da mesma forma que o cinema não cansa de adaptar histórias clássicas, há novelas de autores consagrados e o remake é uma forma de valorizar essa obra e a dramaturgia nacional. “Apesar de ter uma força muito grande no Brasil, a novela vai perdendo aos poucos o público e é preciso renová-lo. E o resgate dessas novelas traz um público ‘perdido’. Tem muita gente na faixa dos 40 anos que assistiu a essas novelas, que deixou de ver e passou a assistir séries, mas que por meio dos remakes (com linguagem renovada) acaba voltando ao hábito de ver novelas”, avalia o professor da ESPM.
Curi acredita que o modelo da novela não morre, observando o crescimento da popularidade das novelas turcas, por exemplo, e o próprio Globoplay tendo novelas estrangeiras como originais.
Leia a matéria completa na edição do propmark de 18 de março de 2024