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Aproximadamente 15 milhões de lares brasileiros entraram novamente na crise em 2018, elevando o total de domicílios impactados para 27 milhões. A conclusão é do estudo 360º Consumer View, realizado anualmente pela Nielsen. A pesquisa também detectou que as famílias estão vivenciando essa insegurança em looping nos últimos três anos, enfrentando desemprego, inadimplência e dificuldades orçamentárias.

A parcela que permanece imune à crise soma 14 milhões de lares, estável em 26% do total da população desde 2017. Além disso, a análise mostrou que 12 milhões de lares conseguiram sair dela em 2018. A conclusão mais importante é que, apesar do número relevante de lares saindo, os que entraram representam uma parcela maior de famílias, reforçando o cenário de looping que gera incertezas e dificuldades de forma mais duradoura.

Cautela e novas escolhas

“Existe um novo consumidor no Brasil. Ele é mais cauteloso, faz mais planejamento, pois não sabe como será seu futuro. A crise é muito dura e moldou esse novo comportamento”, afirmou o diretor do Painel de Lares da Nielsen Brasil, Ricardo Alvarenga. “Dessa forma, esse âmbito oscilante moldou um novo padrão de consumidor, que está mais aberto a troca de marcas, busca mais rendas alternativas, recorre ao crédito no mercado para ganhar poder de compra e amplia o número de canais de compra que visita, tudo para se adaptar a um orçamento restrito”, complementa o profissional. 

Dentro do grupo das famílias que entraram na crise, 38% passaram a trocar de marcas, 22% reduziram os gastos, 67% estão endividados no cartão de crédito, 12% recorreram ao crédito consignado. Além disso, a parcela que buscou rendas alternativas chegou a 68% neste ano, contra 58% em 2017. Entre as opções buscadas estão babás, diaristas, passeadores de animais de estimação, motoristas de aplicativos de mobilidade urbana, vendedores de catálogo de venda direta e de alimentos caseiros.

Indústria tenta se adaptar

A prova que essas famílias vivem a instabilidade de forma cíclica é que, mesmo aquelas que saíram da crise e hoje não estão impactadas pelo desemprego e/ou contas atrasadas, também mudam de comportamento. Ou seja, 36% continuam trocando de marcas, 64% estão com dívidas no cartão de crédito e 24% recorrendo ao consignado. O estudo projeta ainda para 2018 uma retração de 1,6% a 2,4% no faturamento das categorias de consumo massivo auditadas regularmente pela Nielsen. Apesar de negativo, o desempenho indica que será melhor que o verificado no ano anterior, com queda de 3,8%.

O Consumer 360º identificou que a indústria também se moldou, deixando para trás ações reativas de curto-prazo e dando espaço à propostas mais estratégicas a fim de construir valor no longo-prazo. Com esse raciocínio, as táticas convencionais de preço e promoção se mantiveram, porém a indústria investiu em novas ofertas de valor agregado, atendendo a demanda dos consumidores por produtos indulgentes e funcionais, que cresceram 5,2% e 1,4% respectivamente, contra quedas de 4,3% nos práticos e 4% nos básicos.

“Pode parecer um paradoxo, mas não é. O consumidor está em crise, mas reluta em diminuir seu padrão de vida. Busca todas as alternativas possíveis para tentar manter seu bem-estar. E como algumas indústrias se adaptam à essa realidade, ele encontra produtos de com benefícios adicionais, como os indulgentes e funcionais, com tamanhos, embalagens ou marcas acessíveis”, aponta o profissional.

O varejo e o futuro

Da mesma maneira, o varejo também procura atender as diferentes missões de compra desse novo consumidor, buscando caminhos para uma experiência cada vez mais personalizada e, consequentemente, mais satisfatória. Por meio da abertura de lojas em formatos mais bem definidos, oferecendo serviços e usando a tecnologia em favor de uma melhor relação dos clientes com o espaço físico, os varejistas tentam cumprir esse desafio e crescer. 

E o que esperar de 2019? A indústria e o varejo, nesse contexto, precisam atuar em colaboração para acessar esse consumidor, que está em constante mudança. “Não há mais espaço para esses dois gigantes do mercado atuarem apenas de forma reativa, com ações exclusivamente táticas e relacionadas a preço. Isso, além de impactar as margens de curto prazo, não ajudará o brasileiro a entender os benefícios e o posicionamento das marcas com as quais se relaciona”, conclui Alvarenga.