Não me lembro de ter vivenciado um momento tão conturbado no campo sociopolítico-econômico no Brasil como o que estamos vivendo agora.
Manifestações que mobilizam milhares de pessoas, um mar de lama que não para de invadir os noticiários com novos casos de corrupção, divulgação de conteúdo de telefonemas com diálogos desconcertantes e uma guerra de informação com metralhadoras giratórias acionadas de dois lados opostos da opinião pública, fazendo as redes sociais bombarem. Como tocar a vida no meio desse caos?
Sim, a vida continua e nós não podemos nos dar ao “luxo” de parar tudo e ficar só na discussão de “coxinhas” versus “vermelhos”, sobre a legitimidade da ação de A ou B e outros assuntos que estão em todas as rodas de discussão desse nosso país.
Na semana passada estive na Fiesp para participar da reunião do Copagrem (Comitê da Cadeia Produtiva da Indústria Gráfica). Uma segunda-feira em que o ambiente do lado de fora era de mobilização constante: manifestantes acampados na calçada, buzinas de carros acionadas em sinal de adesão ao movimento pró-impeachment de Dilma, um estado de agitação constante…
Tudo isso em plena Avenida Paulista, uma das principais da maior cidade da América Latina. Não serei eu a questionar tal mobilização.
Eu mesmo estive na Paulista para engrossar o coro dos descontentes. Mas isso foi num domingo. Nos dias úteis, eu e a grande maioria dos privilegiados brasileiros ocupados precisamos continuar fazendo a roda a girar e manter a peteca no alto.
Mas, não tem jeito, não se começa uma reunião sem que, antes, venha o assunto do imbróglio socioeconômico que vivemos. E horas são perdidas nessa discussão, antes de se iniciar uma atividade produtiva.
Vou repetir, para deixar bem claro: concordo com a mobilização das pessoas e o engajamento aos movimentos que podem colocar nosso país outra vez nos trilhos. Mas o exagero atrapalha e gera desperdício de tempo e de foco.
Mas o que me animou a escrever este artigo foi o perigo da comunicação manipulada por inescrupulosos e tendenciosos no meio desse caos.
Um amigo compartilhou no Facebook um vídeo de uma coletiva do Obama sob título: Brasil é ridicularizado em fala de Obama. O vídeo mostra um objeto caindo de baixo do púlpito do presidente Obama (aparentemente um microfone oculto).
A reação do presidente dos EUA é tranquila e ele brinca: “Eu não estou preocupado com isso – vocês todos me conhecem –, mas tem alguém que pode estar preocupado lá atrás (nos bastidores)”. Até aí, tudo bem.
Mas só que, nos caracteres de uma suposta tradução do discurso do Obama, estava escrito “se fosse no Brasil, teria gente preocupada”.
Não foi isso que Obama disse, mas alguém manipulou a tradução e jogou nas redes sociais, onde esse tipo de post é como acender um rastilho de pólvora. E lá vai um monte de incauto acreditar nessa informação mentirosa. É nesse tipo de situação que vemos o valor da confiabilidade da fonte.
É algo para nós, que estamos por trás de planos de comunicação, refletirmos. Realmente, as redes sociais são mais rápidas do que alguns veículos formais de comunicação, mas antes de acreditarmos piamente na informação gerada por uma fonte qualquer, vamos atrás de um veículo confiável para nos certificarmos da veracidade do fato. Essa é a força dos veículos que conquistaram a confiança do público. O mesmo serve para as empresas.
Ao emitir uma comunicação, seja ela de qualquer natureza, a empresa receberá de volta um reação compatível com a sua imagem perante o receptor da mensagem. É por isso que os bons gestores de imagem das empresas sabem da importância de não se negligenciar um trabalho contínuo sobre a sua reputação, visando construir e manter sua credibilidade perante seus stakeholders.
Em tempos complicados como esses, ganharão aqueles com mais serenidade e atitudes transparentes. É o que esperamos.
Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências
de Propaganda)