Nos próximos dias deverá ser anunciada a soma Embraer e Boeing. Pessoas antigas e conservadoras continuam acreditando e apostando em casamentos convencionais. Casais jovens juntam, combinam regras e, antes de uma sociedade formal, querem ver se é necessário dois virarem um ou dois continuarem sendo dois para dar origem ao três. Um terceiro negócio. Amando-se e multiplicando os resultados, sem necessariamente caírem na tolice de tentar somar incompatibilidades, diferenças e culturas. Sem confrontarem egos de diretorias abarrotadas de pavões e cisnes. Quase sempre morando em casas separadas ou, se juntos, cada um em seu quarto.

No Sharing World, da Sharing Economy, empresas não compram empresas. Somam-se em direção a objetivos comuns, complementando competências, compensando deficiências, superando dificuldades. Fazem Sharing Business. Criam Sharing Companies. Meses atrás Boeing e Embraer, Embraer e Boeing, anunciaram o noivado. Quem faz o maior, faz o menor? Até faz, mas não é eficaz e muito menos produtivo. A cultura interna nas empresas dos Wide Bodies é uma; na dos Narrow Bodies, outra.

Assim, não foi por acaso que Airbus e Bombardier somaram suas operações, da mesma forma que inexoravelmente Boeing e Embraer farão o mesmo. E por que essa pressa toda? Pela simples razão que Boeing e Airbus – Wide Bodies – não conseguiriam, no devido tempo, organizarem-se para produzir aviões de porte menor – Narrow Bodies. E que é para onde caminha a aviação comercial em todo o mundo.

Nos últimos dados divulgados pela FlightGlobal, consultoria inglesa que monitora o negócio da aviação, as perspectivas de médio e longo prazo são as melhores possíveis, e as projeções e números surpreendentes. E como avião não se decide, planeja, projeta, constrói do dia para a noite – alguns modelos demandam mais de uma década – a hora de decidir e somar é agora.

Até 2021, apenas para atender o crescimento orgânico da demanda, as empresas aéreas terão de investir US$ 125 bilhões por ano. No fim do primeiro semestre de 2018, Boeing e Airbus, somadas, tinham em carteira um volume de encomendas de 13,2 mil aeronaves. Agora vamos conferir as projeções da Iata, que tem como sócias as 275 maiores empresas aéreas do mundo.

O tráfego aéreo vai quase dobrar de tamanho até 2036. Dos atuais 4 bilhões de embarques, para 7,8 bilhões. E onde aumentará de forma substancial a demanda? Nos voos de curta e média distância, nos aviões de até 150 lugares e um único corredor. Com o adensamento de voos e passageiros prevalecerá uma mudança na configuração das aeronaves Narrow Body. Que, para garantir maior velocidade no embarque e desembarque, muito provavelmente, terão de ser repensadas e redesenhadas para comportarem dois corredores.

É isso, amigos. Quando o mercado em que atuamos implica em planejamentos e longo prazo, onde as decisões de hoje levam anos, algumas vezes décadas para serem implementadas, em quase todas as situações, somar, fazer alianças, compartilhar, é o caminho mais seguro para se preservar no jogo e de forma competitiva. Assim, o casamento de empresas como o conhecemos perdeu a razão de ser. É complicado, difícil, demorado, entediante. E quando não dá certo é uma epopeia para ser desfeito. Portanto, brevemente, nos maiores aeroportos do mundo e nos céus dos cinco continentes, os novos aviões da EmbraBoeing, ou BoeingEmbra. Da Bombarbus ou Airbardiere. Que sejam felizes para sempre até que o mercado sinalize em nova direção. Agora, afivelem os cintos e atentem às instruções… Vamos decolar.

Francisco Alberto Madia de Souza (famadia@madiamm.com.br)