Estou escrevendo esse texto do meu novo escritório. Aliás, nem tão novo assim, já que estou sentado no mesmo lugar há aproximadamente uns seis meses. E escolhi um lugar bem peculiar da minha casa para fazer de escritório. No dia em que cheguei da agência, no começo da tarde, achando que o mundo ia acabar, eu coloquei meu computador, desktop e gigante, em cima da mesinha de centro da sala e sentei no tapete, encostado no sofá.

Era provisório. Virou definitivo. Em toda reunião que eu faço, as pessoas preveem um destino sombrio para a minha coluna, que, por enquanto, segue heroicamente firme.

E, nesse momento em que todo mundo chegou à conclusão que o home office funciona e, assim como para a minha coluna, um futuro sombrio também está sendo previsto para os escritórios corporativos, eu quero fazer uma ode aos escritórios. Não ao escritório em si, que nada mais é do que aquela coisa que se mede em metros quadrados, feita de tijolos, salas de reunião e máquinas de café. Minha ode é aos encontros. Encontros profissionais que são realizados em alguns escritórios apontam caminhos e mudam vidas.

Vou falar de um certo prédio na Lagoa. Ali pelos meus 16, 17 anos, eu não tinha a menor ideia do que eu queria fazer. Mas uma coisa eu sabia. Eu queria trabalhar num escritório, daqueles bem bacanas, num prédio de vidro escuro. E queria chegar em casa no fim do dia e tomar whisky com bastante gelo num copo largo, que ocupasse toda a mão. Que nem nas novelas. Achava isso chique. Meu jeito de ir trabalhar num escritório bacana, num prédio de vidro escuro, foi fazer propaganda.

Criação. Logo eu, que nem cartinha pras namoradas era bom de escrever. O primeiro prédio de vidro escuro em que eu trabalhei foi a Artplan. O endereço era incrível: de frente pra Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. Entrar naquele prédio, apertar o 5, andar da criação, e sentir o cheiro da cola que vinha do estúdio me transportava para o mundo de Mad Men.

E, olha que chegar ali não era fácil pra mim, não. Eu morava a uns 60 quilômetros de distância, em Campo Grande, que, pela milésima vez, não é o do Mato Grosso do Sul. Penúltimo bairro da cidade do Rio de Janeiro, Campo Grande fica onde Judas perdeu as botas, vizinho de Santa Cruz, bairro onde o vento faz a curva e retorna para refrescar paragens mais glamourosas da Cidade Maravilhosa.

A Lagoa era longe, bem longe. Mas naquele escritório tudo me encantava. O encontro de pessoas apaixonadas e inteligentes, os “brainstorms” frenéticos, os almoços descompromissados. O Roberto Medina lá no sétimo andar fazendo o Rock in Rio (a galera brincava que o andar da presidência era o sétimo céu, e o da criação era o quinto dos infernos!!!).

Não era o quinto dos infernos, muito pelo contrário. Se existia um lugar no mundo onde eu queria estar naquela época, esse lugar era o quinto andar daquele prédio na Lagoa. Estar ali, no meio daquelas pessoas que amavam a propaganda e criavam com tanto tesão e originalidade, me desafiava.

Lembro-me que eu pegava um job e labutava pra tirar uma ideia bacana da cachola, enquanto os caras faziam várias com uma facilidade irritante. Dei muitas voltas na Lagoa cabisbaixo. Invejei muito a vida dos peixinhos que ficavam na beirada, já que não tinham de criar nada pra ninguém. Amor e ódio. Muito do que levei pela minha vida profissional, eu aprendi ali. Dali veio o meu critério, se é que tenho algum.

Foi naquele escritório, naquele prédio na Lagoa, que eu aprendi a amar a boa propaganda. Vamos manter a distância regulamentar, por ora. Mas sem esquecer que a vida é feita de encontros.

Rodolfo Sampaio é sócio e CCO da Moma Pro (rodolfo@momapro.com.br).