No próximo dia 3, o publicitário Ênio Vergeiro completa 42 anos de atuação no mercado. A inspiração para seguir na profissão veio do pai, Nestor Vergeiro, também publicitário, que teve passagens por diversas empresas, como, por exemplo, a ex-Salles, onde atuou de 1960 a 1993.
“Fui trabalhar em publicidade muito influenciado pelo meu pai, que sempre trabalhou em agência. Aliás, inspirou todos em casa, pois meus irmãos também seguiram na área. Porém, por uma orientação dele, comecei a trabalhar em veículo. Ele achava que era um bom lugar para se relacionar com o mercado. Com isso, iniciei em 1978 como trainee de publicidade na Editora Abril”, revela Ênio Vergeiro, presidente da Associação dos Profissionais de Propaganda (APP).
A trajetória na Editora Abril foi longínqua, durou 15 anos. O executivo adquiriu experiências em vários setores até se tornar diretor de publicidade de todas as publicações da companhia.
“Passei por diversas áreas dentro da Abril até chegar como contato nas revistas femininas. Depois me tornei diretor de publicidade das revistas Veja e Exame. Posteriormente, assumi a comercialização de toda a editora. Na época, era o mais jovem diretor da empresa. Em 1993, houve uma mudança dentro da companhia e grande parte da equipe dos diretores saiu. Com isso, segui para outros desafios”, diz. Porém, no retorno de uma viagem ao Rio de Janeiro, um encontro inusitado dentro do avião com Affonso Serra Júnior e Nizan Guanaes – que junto com Guga Valente construíram a DM9DDB – trouxe novos ares para a carreira de Vergeiro.
“Os dois me convidaram para conhecer o escritório em São Paulo. Cheguei lá, conversei com eles e fui convidado a fazer parte do time de novos negócios. Na época, eles não tinham muitos clientes, mas conseguimos observar grandes oportunidades, prospectamos e trouxemos muita coisa. Durante os três anos que estive por lá fui muito feliz”, comenta.
O fascínio pela área de veículos fez com que o executivo voltasse para a Editora Abril, em 1996. “Gostava muito de trabalhar em veículo. Com isso, voltei lá para cuidar da Editora Azul, que era uma segunda empresa da companhia. Realizei o processo de transição e cuidei dos 12 títulos que eles possuíam para que ela pudesse integrar a Abril. Porém, em dezembro de 1997, recebi um convite para ser publisher da nova revista semanal da Editora Globo, a revista Época. Gostei da ideia e aceitei o desafio. Já nos anos 2000, fui para o jornal O Estado de S.Paulo, onde trabalhei por quatro anos”, relembra.
Força do impresso
Apesar das inúmeras transformações que a indústria de comunicação sofreu nos últimos anos, o executivo não deixou de acreditar na força do impresso. Afinal, possui um vasto know-how na área de veículos que trabalham com publicações deste meio.
“Acredito muito na força do impresso. Ela é fundamental. Em países como Alemanha e Itália, as revistas perderam audiência ao longo dos anos, mas, agora, já estão se recuperando. As revistas segmentadas ganham cada vez mais força e, os anúncios, também, fazem parte deste movimento. É preciso preservar o meio. Ele traz mais credibilidade e confiabilidade para as marcas que estão nele. Por exemplo, quando uma empresa ganha um prêmio, geralmente, ela não faz um banner digital e, sim, um anúncio impresso. Os veículos se perderam quando começaram a vender espaço e não audiência. Mas acredito no refortalecimento do meio impresso”, diz.
Ainda segundo o executivo, o digital é o meio que vai auxiliar o mercado de revistas e jornais no futuro. “Nosso mercado precisa se tornar totalmente digital. As pessoas também vão precisar entender que é preciso pagar por isso, pois no começo tudo foi dado de graça e, agora, a educação será mais difícil. No final, vão prevalecer as marcas que possuem qualidade de conteúdo. O que ainda precisamos descobrir é como se interage com esse leitor e lidamos com a audiência”, reforça.
Outro movimento que fortalece o meio é a crescente demanda do brandend content. Afinal, o consumidor não gosta de ser interrompido quando está consumindo o seu conteúdo. E o método, em sua essência, traz um material produzido pelo veículo e com a marca inserida como parte da história. “Isso sempre aconteceu. Quando comecei a trabalhar na área ouvíamos muito que o comercial e o editorial não se misturavam. Com o tempo, começaram a ser veiculadas matérias pagas, informes publicitários, publieditoriais, enfim, apareceram diversas nomenclaturas para o que chamamos hoje de branded content. Acredito que quem inventou isso foi o Adolpho Bloch, nos anos 1970”, ressalta.
Este movimento não fica restrito aos veículos. De olho neste mercado, grandes empresas também estão produzindo conteúdo. Recentemente, o banco BTG Pactual anunciou a aquisição da revista Exame por R$ 72,3 milhões. “Achei muito interessante este movimento. Mas, na minha opinião, a publicação realizada de forma independente possui mais credibilidade e confiabilidade do que feita por uma empresa que está inserida no mercado. Porém, é uma maneira de a instituição conversar com a sua audiência”, diz Vergeiro.
Gestão da APP
Com mais de 80 anos de atuação no mercado, a APP (Associação dos Profissionais de Propaganda) sempre ajudou na construção e profissionalização da indústria com a criação de diversas entidades como IVC, Cenp, Conar, Grupo de Mídia, Grupo de Atendimento e Grupo de Planejamento, entre outros. “Sou associado da APP desde 1982. Sempre gostei de participar das palestras, do Fest’Up, enfim, muita coisa bacana já rolou por lá. Nas salas da associação, por exemplo, eram discutidos os entornos da Lei de Regulamentação da Publicidade, a 4.680, pois era um lugar mais neutro. Além disso, era um espaço de networking para os profissionais desenvolverem novas entidades. Hoje, poderíamos dizer que ela era uma espécie de incubadora para novas ideias”, revela.
Em seu quinto mandato como presidente (2011-2021), Vergeiro enfrenta agora o desafio de manter a associação em pé, já que a APP, que não possui fins lucrativos, perdeu grandes apoiadores ao longo de sua trajetória.
“Tentamos manter com muita dificuldade o nosso trabalho. Não pela perda de propósito, mas pela carência dos apoiadores. Antigamente, os veículos mantinham a associação através de uma cota anual. Então, contávamos com grandes parceiros como, por exemplo, Editora Abril, Globo e Folha. Agora, só conseguimos apoios pontuais para alguns eventos. Enfim, não temos recursos financeiros, tivemos de vender a nossa sede, mas temos recursos humanos. É importante dizer que somos todos voluntários. Fazemos isso pelo bem da indústria”, reforça.
A falta de um maior engajamento dos jovens líderes do mercado também preocupa a associação. “Sabemos que, diferentemente dos antigos profissionais, eles não tiveram a mesma relação participativa com a APP, e, por isso, falta muito apoio. Antes, os donos das empresas estimulavam o profissional a participar das entidades do mercado. Hoje, isso quase não acontece. Acredito que isso ocorre pelo fato de as multinacionais não entenderem a importância de seus líderes participarem do movimento. Com isso, não querem apoiar e participar”, ressalta.
Para 2020, a APP anunciou uma série de ações para o mercado. Entre as novidades, está a Câmara Nacional de Arbitragem na Comunicação (CNAMEC), que tem como objetivo solucionar, extrajudicialmente, controvérsias e litígios entre pessoas jurídicas de direito privado ou físicas, através de mecanismos de mediação, conciliação e arbitragem.
“Este projeto já possui alguns anos, mas agora começa a funcionar a pleno vapor. A maioria dos casos atendidos é de produtoras com as agências, direitos autorais e algumas discussões de RH, pois no mercado há muitos contratos jurídicos. Mas todos os contratos já estão sendo analisados pela arbitragem”, diz. Vergeiro termina a sua participação em mais uma entrevista da série Encontros ressaltando que o desafio da APP é se manter relevante, forte e neutra. “O grande papel da associação é atualização, qualificação e valorização do profissional de propaganda”, finaliza.