Por Marcelo Sverzut*
Especial para o PROPMARK
Sou filho de professora. Foi ela que me ensinou a ler antes mesmo da escola.
Hoje vejo que talvez esse tenha sido o primeiro momento em que ela realmente mudou minha vida.
Encurtando a história, o que quero dizer é que, desde cedo, aprendi que o ato de ensinar é o que me inspira.
Então, obrigado, mãe! Este texto é para você.
Tenho pensado muito em como o ato de ensinar é tão pedagógico quanto o de aprender.
E me apaixonei por isso: por ensinar.
E também por aprender.
Quem ensina precisa revisitar os próprios conceitos, debulhar a própria lógica e criar o discurso que dará nestas “aulas”.
Mas, vai muito além disso: quando a gente se mete a ensinar alguém, nos vemos adaptando nossa linguagem e explicando de uma forma diferente para cada aluno.
No meu dia a dia, junto ao time criativo, me vejo sempre nessa posição de orientar o desenvolvimento de um projeto e me lembro da minha mãe tendo de ensinar uma criança pentelha de 5 anos a ler: não que os alunos sejam pentelhos como eu era, mas eu tento ser o professor que minha mãe era para mim.
Percebi o quanto é a dinâmica que me inspira e não propriamente o assunto.
É por isso que vivo me alternando entre a curiosidade de quem está aprendendo algo e, em seguida, o desafio de ensinar alguém sobre o mesmo assunto.
Aprendi a fotografar: e percebo o quanto tenho a melhorar quando um amigo me pergunta algo sobre as fotos de uma viagem.
Aprendi a lutar boxe: e vejo o quanto o discurso e a prática podem ser diferentes quando tomo um cruzado na orelha.
Aprendi a marcenar: e me desdobro para explicar como funciona serrar, desengrossar, esquadrilhar, raspar, lixar, colar, pregar, lixar de novo, envernizar e polir.
E que a ordem dos fatores altera o resultado.
Aprendi a viver com alguém, mas isso não me atrevo a ensinar porque acho que ainda tenho mais perguntas que respostas nesse sentido.
Inspira-me aprender e ensinar, aprender a ensinar, desaprender tudo e reaprender de novo.
Elejo meus professores a cada assunto.
Respeito meus professores de cada assunto.
Confronto meus professores de cada assunto e termino tentando ensinar a eles do meu jeito o que acabaram de me ensinar: é o meu jeito de tentar “passar de ano”.
Rever nossa lógica e reformulá-la para ensinar um assunto complexo é algo muito bonito.
E sutil.
Outra ocasião onde temos a chance de aprender sem estar buscando uma aula é quando a situação pede.
Para falar disso, vou recorrer a um “causo” recente: há alguns dias, numa noite de quarta-feira, tive uma aula nova ao lado de meus pares.
Tivemos de lidar com uma negociação complicada e urgente e foi uma aula de risk management: curso expresso, com prova final prática, sem consulta e cara a cara com os professores.
Quando resolvemos tudo e a adrenalina baixou, percebi que tinha aprendido algo. Fui dormir cansado, mas feliz.
Muitas vezes, a gente não percebe, mas o cansaço e o estresse de uma lição dura deveriam nos deixar felizes imediatamente ao final da aula ao constatarmos que “hoje foi um dia em que aprendi algo novo”.
Para terminar, quero deixar duas questões com vocês: Quem vocês elegem para ser seus professores? E quando foi a última vez que você percebeu que aprendeu algo e ficou feliz?
Escolham seus professores.
E respeitem seus professores.
Aprendi isso com minha mãe.