“Certo dia, enquanto conversava com um grupo de amigos, ouvi uma história muito interessante. Um deles estava contratando uma nova diarista e, ao final da entrevista, questionou sobre o valor dos serviços. Ela, prontamente, respondeu:

‘O valor que eu cobro depende de como o senhor quer que eu trabalhe. O senhor quer ‘com pense’ ou ‘sem pense’?’.

Como ele não entendeu o que significava ‘com pense’ ou ‘sem pense’ ela logo tratou de explicar. ‘Funciona assim: no modelo sem pense o senhor anota e me fala tudo que eu devo fazer na sua casa e eu vou seguir tudo o que for mandado. Já, no ‘com pense’, o senhor me diz o que espera de mim e como gosta das coisas. Depois disso, não precisa ficar se preocupando com mais nada, quando chegar em casa ficará satisfeito, tenho certeza. Vou fazer tudo que for necessário, comprar os produtos de limpeza, organizar as coisas da melhor forma possível…’.

Por mais simples e cotidiano que seja esse diálogo, é incrível o modo por meio do qual a diarista vendeu e posicionou seus serviços.

E essa história, além de me perseguir sempre, me faz pensar como profissional de mídia: qual é o tipo de serviço que nós estamos prestando para nossos clientes? Estamos sendo profissionais de mídia com pense ou sem pense? Recebemos um briefing do cliente e reproduzimos em um Excel e PPT exatamente o que é esperado ou vamos além disso, entregando um trabalho com pensamento, estratégia, entendimento e cuidado com os detalhes? Estamos fazendo um trabalho bom e correto ou estamos indo além disso e surpreendendo? Nosso trabalho é padrão, dentro da expectativa?

Enfim, estamos trabalhando ‘com pense’ ou ‘sem pense’? Com eficácia ou eficiência?

Antes de responder, lembre-se que as coisas mudaram muito. O que funcionava antes pode já não ser a melhor forma. Explico: o papel do profissional de mídia mudou. Hoje dedicamos mais tempo sendo ‘criativos’, além de ser a linha de frente de negócios.

Com isso, existem ainda oportunidades para se conquistar espaço no mercado de trabalho para profissionais de mídia ou veículos com conhecimento multimeios. Digo oportunidades, pois ainda existem profissionais com conhecimento somente em mídia tradicional, ou off-line, como se falava. Assim como existem muitos profissionais com conhecimento somente em digital. Mas o conhecimento multidisciplinar, cada dia mais, passa a ser uma exigência básica. Aproveite enquanto ainda é oportunidade para se destacar.

Trabalhar ‘com pense’ ou ‘sem pense’ também é uma questão importante e que precisa ser questionada nos veículos. Existem aqueles que passam o dia enviando propostas sem pensar na adequação e pertinência estratégica, olhando para o preço como fator de mobilização. Alguns podem ainda pensar que quanto mais propostas enviarem maiores são as chances de fecharem negócios. Por outro lado, existem muitos que a cada dia se envolvem mais no negócio dos clientes, pensam com as agências o que pode ser pertinente e como o resultado pode ser surpreendente. Em relação a estes últimos, observo que geralmente são os melhores colocados e são os que geralmente tem mais tempo na pauta dos profissionais de mídia e anunciantes. Coincidência? O que os executivos que trabalham com pense priorizam? Quem os contratou priorizou o relacionamento com o mercado ou a capacidade de construírem cases de sucesso para seus clientes? O fato é que acabou ou esta acabando a função de vendedor de mídia, tanto para agências como para veículos. A função estratégica da iniciativa vem antes da analise da rentabilidade do negócio, a qual não deixa de ser importante, mas é secundária quando o objetivo é a construção de marcas.

Essas perguntas, poderiam ser debatidas por dias sob diferentes pontos de vista, mas minha intenção aqui não é escrever um ponto de vista apenas e sim fazer mais perguntas, deixar a dúvida no ar, pois acredito que, mais importante do que ter as respostas, é saber quais são as perguntas a serem feitas. Um ponto é fato: muitos dos questionamentos na nossa vida como profissionais de mídia emergem no nosso dia a dia puxado pela mudança constante de comportamento no consumo de mídia. Enquanto essa mudança para os que trabalham sem pense pode assustar, para outros ela gera grandes oportunidades.

Voltando para a história da diarista, qual modelo de serviço você acha que meu amigo contratou? Se quiser o contato dela, pode ter certeza que ele não vai passar. Nesse mercado, assim como no nosso, profissionais ‘com pense’ é artigo de luxo e não dá para ser compartilhado.”

*Diretor de mídia da Africa