Uma gestão governamental equilibrada, que priorize a estabilidade econômica e seja fundamentada na educação é a chave para que o Brasil permaneça no caminho do desenvolvimento. Essa foi a mensagem passada pelos expositores do seminário “Uma agenda para o desenvolvimento do Brasil”, parte do programa do 13º Fórum de Comandatuba, na Bahia, realizado pelo Lide (Grupo de Líderes Empresariais).
Participaram do seminário o senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB à presidência; o pré-candidato pelo PSB, Eduardo Campos; Marina Silva, pré-candidata a vice pelo PSB e ex-ministra do Meio Ambiente; representantes de diversas áreas do Lide e outras figuras políticas e empresariais.
A abertura foi feita por João Doria Jr, fundador e presidente do Lide. Doria lembrou a importância de convocar para o mesmo debate figuras públicas e do empresariado. Ele, porém, deixou claro que os dois pré-candidatos presentes aceitaram o convite para participar do fórum, diferentemente da presidente Dilma Rousseff, que declinou devido à agenda. Ainda assim, o empresário expressou o desejo de que a mandatária possa se fazer presente nos outros eventos de discussão promovidos pelo Lide. Depois, reiterou o papel do encontro. “A democracia não tem preço. Um debate franco e aberto para discutir o nosso país é algo que enche de orgulho e emoção. Espero que possamos sair do debate melhores que quando chegamos, com a certeza de que ajudamos a escrever aqui parte da história do país”.
Os pré-candidatos aproveitaram o tema e o público presente – representantes de alto nível de mais de 150 empresas de diversos setores – para falar sobre seus projetos de governo, uma vez que devem disputar as eleições presidenciais em outubro. Apesar disso, a agenda para o desenvolvimento dominou o discurso de ambos e teve um ponto em comum – a retomada do equilíbrio econômico.
Em sua fala, Campos apontou a importância da decisão que os brasileiros tomarão nas urnas. “Nesse ano, vamos tomar a decisão de qual o papel que o Brasil vai ter no mundo. Estamos com uma conjuntura desafiadora, um cenário econômico que não é dos melhores. Precisamos fazer a leitura desse ambiente como quem precisa encarar o problema e resolvê-lo”, disse o pré-candidato do PSB. O primeiro passo, continuou, é “fazer um debate franco, verdadeiro, e não esconder o problema”.
De acordo com Campos, a agenda do desenvolvimento deve ser construída em dois momentos. O primeiro trata da macroeconomia, na qual é preciso equilíbrio. “Isso se constrói quando há uma ambiência, uma regra para quem quer empreender, uma política econômica que não será mudada com qualquer vento”, disse ele, referindo-se ao sentimento de desconfiança que tem tomado os investidores nos últimos anos e colocado em xeque as oportunidades de injeção de capital no país. Resgatar a confiança dos agentes macroeconômicos, completou, é a chave desta etapa.
Uma vez atingido esse objetivo, é hora de mirar a educação, essencial par ao crescimento sustentável. Campos defendeu uma educação mais igualitária, o que também garantirá o equilíbrio tão desejado. “Enquanto tivermos uma educação marcada pelo apartheid entre os que podem pagar e os que consomem qualquer educação ofertada, não vamos construir uma sociedade equilibrada”, disse.
O pré-candidato, por fim, afirmou que é preciso reinterpretar a sociedade brasileira para entender seus novos anseios, o que só ocorre com um debate aberto. Ele lembrou que quando o brasileiro conquistou o direito ao voto, com a Constituinte de 1988, ele transformou-se em eleitor e, mais tarde, ao ter acesso ao crédito e com a melhora da conjuntura econômica, passou a ser também consumidor. “Agora, o brasileiro quer ser cidadão, e isso quer dizer o mais difícil a ser feito, que é colocar os serviços públicos e privados para respeitá-lo”, declarou Campos. “É hora de o Brasil juntar os bons, os que têm capacidade, aprenderam a fazer. A nova agenda só pode ser feita se a gente tiver a coragem de quebrar o velho para fazer o novo. O novo não nasce sem dor, mas a dor que vamos sofrer é a dor do debate, do aprendizado”, concluiu.
Planejamento
Se havia receios de que o fórum servisse como plataforma de disputa política entre Campos e Aécio Neves, o senador desconstruiu qualquer suspeita logo no início de sua fala, ao afirmar que não consegue ver o pré-candidato do PSB como rival em um ambiente de debate sobre o progresso.
“Queremos a mesma coisa, todos nós queremos a mesma coisa. A imagem que me vinha à cabeça era de uma mesa de um lado só, onde estamos todos sentados e olhando para a mesma direção. Queremos um Brasil mais próspero, mais justo, onde todos tenham oportunidade de se desenvolver”, declarou o tucano.
Neves reconheceu as conquistas políticas, sociais e econômicas do Brasil, nos últimos anos, mas também tocou no assunto da estabilidade. Ele afirmou que os governos anteriores conquistaram esse equilíbrio, mas que a falta de planejamento flexibilizou essas bases, agora fragilizadas, o que fez o Brasil estagnar. “No momento em que deveríamos estar falando de aumento de produtividade e competitividade, estamos voltando a uma antiga agenda, a da estabilidade”, disse.
Inclinado à plataforma política, Neves criticou o afastamento do governo atual dos empresariado e, consequentemente, dos investimentos em áreas como infraestrutura e inovação. Falando aos participantes do Fórum de Comandatuba, ele deixou claro que o governo e a iniciativa privada não são adversários. Pelo contrário, devem trabalhar como parceiros. “Não se faz um pais crescer sem investimento, e não se faz investimentos em um pais que não respeita regras”, declarou, fazendo referência ao intervencionismo do governo na economia.
Para ele, o Brasil precisa de um governo que se atenha a um planejamento que tenha o desenvolvimento como prioridade. “Tenho esperanças enormes de que o Brasil está às vésperas de iniciar uma nova história. Planejamento é absolutamente essencial para uma gestão que vai ter o setor privado como parceiro, principalmente em infraestrutura que ajude o país a crescer”, disse o tucano, projetando uma futura gestão.