David Droga deu detalhes da compra da agência pela Accenture, os planos a partir de agora, a relação entre criatividade e IA, entre outros
Na última quinta-feira (2) foi confirmada a notícia que já vinha circulando nos bastidores do mercado: a Accenture fechou a compra da Soko, que se tornará parte da Droga5.
Fundada em 2015, a Soko é uma das principais players, tendo conquistado alguns dos prêmios mais importantes de criatividade. Na última edição do Cannes Lions, por exemplo, a Soko levou cinco Bronzes.
Com a aquisição da Soko, a Droga5 pretende acelerar sua missão de entregar criatividade enraizada em estratégia e propósito, além de ser obcecada pela humanidade e com experiências se conectam profundamente com as pessoas e agregam valor às suas vidas.
Essa ideia, aliás, foi uma das ideias defendidas por David Droga, que está no Brasil e conversou com o propmark nesta segunda-feira (6). Na entrevista, Droga fala por que a Soko foi a agência escolhida pela Accenture, os planos a partir de agora, além da relação entre inteligência artificial e tecnologia.
Por que a Soko foi a escolhida para ser comprada pela Accenture Song?Nós escolhemos a Soko por conta de uma cultura pura e autêntica, construída em torno das pessoas, da sociedade e, sobretudo, do ótimo trabalho que eles vêm realizando durante todo esse tempo. E eu posso afirmar que não é apenas um negócio, trata-se de uma comunidade que construiu um negócio, e há uma grande diferença. Além disso, vejo similaridades com a Droga5, ao mesmo tempo em que podemos aprender bastante com as diferenças, com a personalidade própria da agência. Então, para nós, isso foi o bastante.
Você se lembra da primeira vez que ouviu falar da Soko?
Eu já estava por dentro de coisas diferentes que vinham dos mais diversos mercados. Quando eu comecei a me juntar à Accenture, eles apontaram para muitas campanhas que eu já havia visto antes e eu havia achado simplesmente incrível. O Eco, o Rodolfo e o Camila me falaram sobre a agência, o que me deixou muito animado e feliz de saber que aqueles cases vieram de um único lugar, da Soko.
A partir de agora, com essa aquisição, quais são as habilidades que serão fortalecidas?
Excelência em múltiplos níveis. Excelência na crença em um ótimo trabalho, excelência no conceito de comunidade. E isso não é apenas sobre o mercado brasileiro, mas, sim, sobre o trabalho de impacto que eles fazem no Brasil e como somos influenciados por isso globalmente. É sobre a personalidade deles, seus alcances, suas ambições, empurrando e dirigindo a Droga5 em outros lugares do mundo. Também gosto de destacar sobre o ecossistema natural, que começa sempre com as pessoas e suas crenças. E não sei se você sabe, mas antes de eu vender a Droga5 para a Accenture, as pessoas queriam de todo o jeito que abríssemos a agência em todo o mundo. Nós resistimos e mesmo agora, que somos parte da (Accenture) Song, insisto na ideia de sermos muito técnicos nessas escolhas, e também privilegiados que eles quiseram fazer negócio com a gente.
Qual é a importância do Brasil para a Droga5?
É muito crucial e importante. É um mercado com uma economia crescente, e muito influente. Agora, se você olhar sob a perspectiva do talento, eu adoro a diversidade, eu adoro o espírito brasileiro da improvisação, o que justifica o país ter os melhores jogadores de futebol no mundo, e os músicos. É apenas a capacidade de poder fluir com a criatividade e que, no meu ponto de vista, é a coisa certa a se fazer. Isso é muito bonito, porque existem outros mercados potencialmente maiores, mas que são mais rígidos.
Claro que queremos continuar crescendo neste mercado, e adicionar impacto e provar o nosso valor. Você não pode ser ótimo no Brasil sem influenciar outros mercados, e vice-versa. E isso nos dá uma plataforma ainda maior. Eu quero que as pessoas nos mercados europeu e de Nova York, por exemplo, sejam inspiradas e emocionadas com seus novos irmãos e irmãs. Para mim, isso é uma verdadeira cooperação que está sendo construída em comunidade. Nós não olhamos as coisas apenas em dólares e centavos; somos pessoas criativas, o que significa que estamos cheios de empatia, de consciência, ambição e otimismo. E, se você faz disso um negócio, você pode construir algo espetacular. Para isso, no entanto, são necessárias grandes pessoas, grandes mentes.
Onde a Droga5 quer chegar?
Vamos dar um passo de volta e olhar a Droga5 como parte da Accenture Song, porque ela não é mais apenas um pequeno jardim independente. A Song é o maior grupo criativo-tecnológico do mundo, e nós temos uma grande influência nisso. Já a Droga5 tem um DNA criativo no contexto das marcas, da narrativa, tecnologia e dados. Nossa ambição não é ter 100 escritórios da Droga5 no mundo, mas, taticamente, ter uma excelência que possa ser escalada, que suas capilaridades possam influenciar. Eu posso dizer que, se eu não os conhecesse até agora, poderia afirmar que eles (a Soko) eram da Droga5 que eu comecei há 15 anos, com os mesmos valores.
Tem planos de adquirir outras agências na América Latina?
A gente tem talentos brilhantes e, como eu disse, estamos crescendo três vezes mais que a concorrência, o que nos dá a certeza que qualquer aquisição que fazemos não é para marcar território no mapa, e sim por causa das pessoas que trazemos para o nosso grupo. Nós investimos em capacidade e talento para o futuro, porque uma mente criativa se encaixa em qualquer conteúdo e oportunidade.
Quais são as suas preocupações em relação a inteligência artificial?
Nós temos uma oportunidade agora, com essa nova marcha de tecnologia omnichannel, que é fazer com que nós fôssemos mais pensativos e responsáveis. Porque as interações anteriores de tecnologia as guardas responsáveis vieram em segundo lugar. Obviamente, eu acho que temos de fazer com que a humanidade tenha um papel nisso. Mas muitas pessoas esperam que eu esteja contra isso porque elas acham que a IA vai derrotar toda a criatividade.
Criatividade que nem sempre poderá ser salva, porque muita criatividade é medíocre e a IA pode fazer melhor. No entanto, o original, o que vem das pessoas, sempre será necessário. Eu me preocupo com a IA tirando nossa conexão com o mundo real, com a personalidade, com o aprendizado. E lembre-se: é apenas uma ferramenta.
Além da tecnologia e da criatividade, o que uma agência precisa ter, na sua opinião, para ser relevante na vida do cliente?
Essa é uma pergunta muito importante. Você precisa ter uma real apreciação do negócio, de um ponto de vista de conhecimento, de por que você está fazendo o que está fazendo, e também uma compreensão sobre por que eles estão perguntando. Quanto mais dimensionado você entende o problema do negócio que você está tentando resolver, maiores são as chances de resolvê-lo. Eu diria que temos de olhar as coisas de uma forma menos transacional. E isso vem de dados, de diversidade de empregos. Então você vê as coisas de uma forma mais holística.