Gudanzinho, Blant, Mada e Bica, Kiliquinha, Bono, Estopinha, Chico, Frederico, Malcom, Miu, Mu & Morcega… O que eles têm em comum? Perfis em redes sociais, alcançam até milhões de pessoas e emprestam seus rostos para diferentes marcas. Ou seriam focinhos? Afinal, estamos falando de cachorros e gatos.
Com personalidades bem definidas, os chamados pet influencers conquistam o carinho – e o tempo – de seus seguidores diariamente com imagens e vídeos elaborados e divertidos.
E não são seguidores fazendo apenas números. Um levantamento da Squid, martech especializada em marketing de influência e comunidades no Brasil, aponta que a categoria de PET ficou em 1º lugar na Taxa de Engajamento média na categoria post com 20,96% e em 8º lugar na categoria stories com 5.34%. Em seguida estão Decoração do lar, móveis e jardim, Livros e Literatura, e Humor.
Rafael Arty, sócio e diretor comercial da Squid, observa é que ao olhar 2019 e começo de 2020, havia alta de nichos como lifestyle e viagens, mas a pandemia mudou o comportamento do usuário e seu consumo de conteúdo também. “Nichos como pets, decoração do lar e literatura tiveram uma evidência interessante devido aos hábitos caseiros recém adquiridos. No meio de tanta notícia ruim, quem não se sente contemplado em ver um lindo conteúdo pet para alegrar o dia ou um meme com algum bichinho no Tik Tok?”, reflete.
Nesse contexto, os perfis crescem não só entre pais e mães de pets, mas entre pessoas que buscam um conteúdo leve, fofo e bem feito. Porque não basta apenas apontar a câmera e gravar ‘qualquer coisa’. Os perfis são muito construídos com direcionamento, planejamento e estrutura para gerenciar a presença do pet em todas as plataformas.
Do Facebook pra Instagram, TikTok, YouTube, Kwai e o que mais aparecer
A “blogueira por profissão, fazedora de arte por opção” Estopinha é uma das veteranas no mundo digital.
Ela entrou no Facebook em 2011 porque sempre que seu pai, Alexandre Rossi Dr. Pet, aparecia na TV, palestras ou em eventos, todo mundo perguntava dela.
Rossi percebeu que o jeitinho arteiro e educado da cachorrinha gerava identificação nas pessoas e que isso poderia ajudar sua missão na educação pet.
Hoje ela está no Facebook, Instagram e Youtube (num canal conjunto da família Rossi), e a equipe estuda entrar para o TikTok. Os irmãos Barthô e a gatinha Miah também têm suas redes sociais, cada um com sua personalidade.
Ao longo desses dez anos, Estopinha já fez parcerias com marcas como Fedex, Magazine Luiza, Gol, Purina, Petz, Pet Delícia e Universal. Atualmente, as fixas são com a MSD Saúde Animal e a DOGTV. “Como a Estopinha é uma referência de pet influencer (já chegou a ser o animal mais seguido no Facebook no mundo todo) e também tem como “papis” um grande especialista em comportamento, saúde e bem-estar animal, as marcas veem como uma ótima oportunidade de mostrar seu produto com credibilidade e de forma descontraída. Nunca tivemos reclamação dos seguidores sobre as publicidades postadas nas redes da Estopinha”, conta Samantha Melo, responsável pelo conteúdo da pet.
A escolha é criteriosa. Samantha conta que todas as empresas parcerias são marcas que eles confiam e acreditam, e que o Alexandre seleciona com calma. “Ele gosta de testar os produtos de verdade. Por exemplo: a Estopinha ama petisco, mas não saímos falando de qualquer marca que nos procura, pois se ela indicar, todo mundo vai sair comprando! E se não for de boa qualidade? E se fizer mal? Preferimos perder parceiros que prejudicar os animais e seus tutores, que são seguidores tão fiéis. Outra coisa: buscamos dar uma dica sempre para ajudar. Exemplo: se indicamos viagem com a GOL, também explicamos como adaptar o pet para viajar, o que levar na viagem”, conta.
A rede de Mark Zuckerberg ainda tem nada mais, nada menos, que Estopinha e Catatau, os pinschers mais seguidos do mundo. Nos vídeos do cotidiano familiar, Ozeias, tutor da dupla, mostra o temperamento dos dois nas mais diversas situações.
Inspirada nas tremedeiras, rosnados e mordidas do pinscher, uma das publis mais famosas do Estopinha foi para o Telecine: 3 milhões de views somente no canal da empresa no YouTube.
No vídeo, ele e o tutor procuram um filme para o “momento cinema em família”. Enquanto Ozeias pensa em um filme para relaxar, Estopinha parece mais inclinado a um longa de terror e ação.
Também originado no Facebook, o Cansei de Ser Gato é um dos principais perfis felinos do país. Protagonizado pelo gato Chico, ele foi lançado pelas humanas Amanda Nori e Stéfany Guimarães em 2013 com o objetivo de criar conteúdos bem-humorados e educativos para gatos.
Um ano depois, o CDSG passou a comercializar produtos para felinos. Hoje está ainda no Spotify com o PodCat, um dos mais escutados em 2020. E em junho deste ano, a plataforma de conteúdo foi adquirida pela Petz. “Chico, 09, ator, modelo, dançarino, escritor, influencer, podcaster, blogueiro, CEO e líder da dominação mundial felina”, avisa a bio do gato no Instagram.
Cinco vezes campeão Mundial de SurfDog, Bono, o cão surfista é um labrador de 11 anos que já surfou em locais como Califórnia, Peru e Havaí. Apaixonado por água, o cãozinho está sempre viajando com seus humanos e os parceiros Cacau e Bigorna.
Em seus posts ele “fala” sobre vida saudável, bem-estar e experiências em família. Em março, seu tutor contou à Folha que há oito anos não viaja sem Bono. “As pessoas estão entendendo que o pet é um membro da família. A ideia com o Bono é justamente incentivar esse lifestyle de fazer tudo junto”, comentou.
Entre os parceiros, Bono é embaixador pet da BMW e também trabalha com a Bravecto, Zee.Dog, Veloe e DrogaVet.
Outra família que também faz muito sucesso na internet é a Família Turbo, formada pelos huskys Gudan, Blant e seus humanos. Juntos eles somam em seus perfis mais de 13 milhões de seguidores, e suas personalidades são verbalizadas em vozes do pai Zanq.
Em menos de dois anos, empresas como Netflix, Ifood, Petlove, Suvinil e Waze já apostaram neles para publicidade.
Zanq conta que antes de aceitar qualquer proposta, a família pesquisa a marca para entender se ela é séria, se possui algum posicionamento que fere os princípios da Família. “Olhamos como o trabalho da empresa é recebido pelo público, em geral. Prezamos pela idoneidade da empresa para nos unirmos a ela. No segundo momento analisamos se essa marca ou produto que vamos anunciar faz sentido ser publicado em um perfil pet. Se está dentro da narrativa do Gudan ou da Blant”, diz.
Tendo vozes e personalidades marcantes, o conteúdo costuma seguir uma narrativa muito específica que os fãs já conhecem de tal forma que passaram a usar termos e até o jeito de “falar” do Gudan e/ou da Blant. Por isso, a liberdade criativa nas parcerias é fundamental.
Segundo Zanq, cada publicidade é diferente da outra e eles prezam por essa liberdade de adaptar quando necessário. “Em alguns casos, o roteiro fica livre, apenas com o direcionamento do que a marca quer passar. E mesmo nos roteiros que são fechados, sempre fazemos alterações para ficar um conteúdo com a cara do Gudan e a Blant. Algo realmente personalizado. Tem algumas falas que já vêm do briefing que não se encaixam com a personalidade do Gudan. Fazemos adaptações para que fique realmente dentro da realidade dos nossos cachorros”, explica o “homano”, como é chamado pelos pets.
Com um engajamento bastante alto e título de pet influencer, Gudan conheceu recentemente ‘a primeira pet influencer’, Priscila, ícone dos anos 90. Em ação da Petlove, que fez um “cãoback” com direito a clipe da música “Eu Não Largo o Osso” e dois novos personagens, a Gata Sensata e o vira-lata Oscar A. Melo, Gudan fez um react para a marca.
Também no círculo de pet amigos da Priscila, a dupla Mada e Bica surgiram de uma quase brincadeira do tutor Leonardo Bagarolo, que acabou virando coisa séria. Só no TikTok são 7,5 milhões de seguidores.
Hoje, ele se dedica 100% do tempo aos perfis de seus pets (tem ainda a Lola Maria, sua gata) e conta com o suporte da Play9. “Considerando todas as redes gravamos cerca de 250 vídeos por mês, sem contar stories”, diz Léo, que participou do PROPCAST #29, disponível em breve.
A irreverência e o cotidiano dão a base para criar os materiais. Formado em Cinema, o jovem usa bastante do que aprendeu para a parte técnica e criativa, e também faz as vozes das duas cachorras.
Além do dia a dia da família, o perfil tem ainda alguns quadros como o “De frente com Maria Bica”, que chamou atenção do Prime Video recentemente.
E como toda boa turma de influencers, eles também se encontram em eventos e ações diversas para criar conteúdos conjuntos. Um desses encontros aconteceu na primeira edição da Pet Mansão, realizada em Búzios (RJ).
Pet modelos? Casting de animais? Sim e há 11 anos
E há ainda outro mercado de pet influencers, digamos, tem animais famosos, mas de uma forma diferente. A Pet Model Brasil, que atua desde 2010 no agenciamento online de animais. No histórico a empresa tem cerca de 40 parcerias e atualmente faz mais de dez produções mensais.
Segundo Deborah Zeigelboim, diretora executiva da empresa, a filosofia é de que a segurança e bem-estar do animal venha em primeiro lugar. “Não aprovamos trabalhos que não nos garantem isso e também estudamos o cliente e produto, qualidade, ética e mensagem a ser passada. Criamos uma cartilha de segurança nos baseando no Estatuto da Criança e do Adolescente em produções audiovisuais. Temos espaço para todas as espécies e raças de animais em nosso elenco”, explica.
Ela lembra que no início foi difícil, como é para qualquer atividade, e o desafio foi ainda maior por se tratar de algo novo no mercado, porque o público-alvo ainda não entendia o conceito de uma agência de modelos pet, principalmente tutores.
Mas isso mudou bastante com a transformação do comportamento entre humanos e animais. “Hoje conquistamos nosso espaço com muita credibilidade e profissionalismo – sempre garantindo a segurança e o bem-estar de nossos pets em sets de produção. Cada vez mais temos grandes oportunidades no mercado, visto que associar pets em produtos e serviços têm crescido muito no país e no mundo”, explica.
A Pet Model Brasil atua exclusivamente via website. Os cadastros são preenchidos pelo tutor do animal fornecendo os dados, imagens e vídeos. Não é essencial que o pet saiba truques ou comandos, porém, se ele tiver essas aptidões, facilita para o agenciamento. “Quando a agência recebe o pré-cadastro do animal, as imagens passam por uma triagem, tratamento e produção de um portfólio com espaço para cotação reservado a produtoras. A agência funciona como uma ferramenta de divulgação para produtoras audiovisuais”, explica.
Com a pandemia, o trabalho ficou suspenso e começou a voltar no final de 2020. Os pedidos de casting começaram a chegar e estão respeitando as normas de segurança. “Apenas eventos ainda não voltaram, acreditamos que ficará para 2022. Esperamos suprir com a demanda do mercado audiovisual fornecendo opções de casting e dando mais oportunidades ao nosso elenco que hoje conta com mais de 2500 pets em várias regiões do país. Temos planos de expansão da marca e abertura de novas frentes de serviços e produtos”, sinaliza.
Especial Mercado Pet
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