As pessoas querem resolver o problema sem contribuir com a solução, não se vacinam, não querem usar máscara e álcool em gel, mas querem ir a shows e estádios
As decisões para contenção do coronavírus continuam dividindo opiniões. Uma das mais polêmicas é a efetividade das restrições de público a fim de manter o distanciamento social e evitar aglomerações. O assunto volta à tona com o avanço da variante Ômicron, que resultou em um novo limite, de 70% de ocupação em jogos de futebol e eventos, determinado pelo governo de São Paulo.
“Tem de restringir. As pessoas querem resolver o problema sem contribuir com a solução, não se vacinam, não querem usar máscara e álcool em gel, mas querem ir a shows e estádios”, pontua VanDyck Silveira, CEO da Trevisan Escola de Negócios.
Mas o economista faz uma ressalva. Faltam estudos capazes de atestar a eficácia das medidas restritivas. Além disso, o baixo índice de testagem deixa as políticas públicas no escuro. “Tomam-se decisões atabalhoadas por não se conhecer o foco da doença”, diz Silveira. O executivo cita o modelo de enfrentamento da China, que recorre a testagens em massa para saber onde estão as fontes de novos surtos e fazer lockdowns seletivos.
“É uma atuação eficiente para um país tão extenso. O Brasil poderia seguir o mesmo exemplo, unindo saúde e economia, duas variáveis que precisam ser atacadas ao mesmo tempo”, sugere o economista. O contexto é irrefutável. Apesar de ser mais transmissível, a Ômicron só não provocou mais mortes e casos graves devido à vacinação. “A vacina não impede a contaminação, mas protege das formas graves”, lembra Silveira.
Celio Ashcar Jr., sócio da akm Performma e sócio-fundador da Konecte.me, concorda com a eficácia da vacinação, mas questiona as medidas restritivas.
“Sou favorável à vacinação e à comprovação da vacina para entrar em qualquer lugar. Mas as novas medidas do governo significam uma atitude isolada e sem fundamento. É muito míope achar que o problema está na capacidade de pessoas num evento”, critica o executivo, que acaba de assumir como presidente do Conselho da Associação de Marketing Promocional/Live Marketing (Ampro) no biênio 2022 e 2023.
Ashcar Jr. lembra que é preciso um plano de proteção para todos os ambientes. “Os aeroportos estão lotados, com filas gigantes por falta de atendimento de equipe. Colocam duas pessoas para atender milhares de passageiros, que ficam aglomerados”, observa.
A falta de conscientização das pessoas sobre a importância da vacinação e o uso de máscaras é outra constatação flagrante. “Acredito que, por meio da vacinação, conscientização e fiscalização, aprenderemos a conviver com esse vírus, que a cada hora aparece num formato”, conclui Ashcar Jr.
No futebol, a perda é inevitável. “É fato. Os estádios não vão elevar as receitas vindas das bilheterias. Neste momento, a fotografia é de queda”, avalia Amir Somoggi, especialista em marketing esportivo e sócio-diretor da Sports Value.
Segundo estudos da consultoria, a receita das bilheterias foi uma das que mais caíram durante a quarentena da Covid-19. As perdas totais dos clubes brasileiros, considerando 2020 e 2021, alcançaram quase R$ 500 milhões. De acordo com dados do Datafolha citados por Somoggi, apenas 20% dos brasileiros frequentam estádios. Preço e distância estão entre os principais fatores que explicam a baixa presença.
Ainda assim, é uma fonte de renda que ganha novas oportunidades com a tecnologia. Uma das alternativas que despontam no mercado é o smart stadium, cuja operação contempla a maneira como as pessoas assistem, interagem e consomem as transmissões dos jogos.
Gestão e instalação se conectam a todo um aparato digital capaz de otimizar a operação das arenas. A solução transporta a experiência do estádio para o digital “trazendo receita ilimitada”, diz Somoggi. É a tecnologia tentando salvar gols em mais um ataque da Covid-19.
No dia 23 de janeiro, às 16h, Novorizontino e Palmeiras estreiam no Campeonato Paulista em jogo que será realizado no Estádio Dr. Jorge Ismael de Biasi, em Novo Horizonte. Esta será a primeira partida com público limitado a 70% em 2022.