O ano de 2017 mal começou e já chega com esperança de dias melhores frente ao cenário conturbado de 2016. Acompanhando o desejo coletivo de renovação, a Pantone, famosa por fornecer padrões de cor que orientam o trabalho da indústria da moda e design, entre outros, apresentou a principal tendência de tonalidade para este ano.
Greenery reúne elementos da natureza que remetem à vitalidade das novas folhagens e, ao mesmo tempo, traduz a necessidade de reconexão da vida urbana com o meio ambiente. Essa comunicação não-verbal das cores refletida em sentimentos tem sido cada vez mais estudada por grandes marcas, interessadas em mais proximidade e identificação com o consumidor.
De acordo com Paula Csillag, integrante do grupo de estudos cromáticos da ECA/USP (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo) e professora do curso de design da ESPM, as cores têm grande poder no mercado porque despertam aspectos emocionais e fisiológicos. A acadêmica cita estudos científicos que descobriram, por exemplo, a relação entre o vermelho e a aceleração dos batimentos cardíacos, e o azul com a retomada da condição normal do coração. “Não à toa, o vermelho é bem utilizada para mensagens de alerta, como o semáforo ou na comunicação de produtos ligados à paixão”, explica.
Não é a primeira vez que o verde é evidenciado. Em 2013, a Pantone elegeu o verde-esmeralda e o vermelho-samba como cores do ano. Em 2014 foi a vez do Orquídea Radiante; em 2015, o Marsala; e em 2016, o Rosa Quartzo e Azul Serenidade.
A indústria da moda é um dos principais mercados para os padrões de cor e costuma adiantar tendências. Em setembro passado, por exemplo, a grife italiana Emilio Pucci já desfilava peças verde-folha dando um preview do que chegaria ao mercado.
Segundo a arquiteta Érica Giacomelli, os estudos para a eleição da cor do ano consideram diversos fatores, como análises de revistas de moda, lançamentos de produtos e design, essências e perfumes, além de observações culturais e socioeconômicas. “Quando todas essas referências são postas lado a lado, o resultado é visto quase que automaticamente, a cor salta aos olhos”.
Paula explica que cores que têm origem na natureza detêm simbolismo muito forte. Isso porque o consumidor facilmente associa o produto a algo próximo. “Já reparou que praticamente não há elementos comestíveis azuis na natureza? Isso explica por que raramente vemos produtos alimentícios nessa cor. Não há identificação para o consumo”.
Essa associação entre o simbolismo das cores e a comunicação visual tem sido bastante explorada no design. A aplicação deve levar em conta a essência da empresa e a estratégia de negócio, para que não perca a identidade. Segundo Luciano Montelatto, diretor-executivo da agência Boxx e consultor e estrategista de marca, dentro de um projeto de branding leva-se em consideração características mais peculiares e individuais, mas tendências de cores e imagens podem influenciar nessa construção, desde que estejam alinhadas à sua essência.
Paula concorda com o colega, ressaltando que o padrão de cor é uma questão mercadológica, sendo ferramenta de marketing relevante, mas nem sempre será aplicável. “Tudo vai depender da articulação desse padrão de cor nos nichos de mercado. A atriz principal de uma novela usar o esmalte da cor do ano, por exemplo, funciona muito bem. Essa protagonista vai influenciar um monte de gente a procurar o produto. É uma cadeia industrial complexa”.
Eliana Sanches, diretora de redação da revista Casa Claudia, ressalta que a temática também está no radar atento do design, arquitetura e decoração. “Não focamos apenas na cor, mas em todo seu entorno. Há um desejo enorme de conexão com a natureza, com a volta ao campo, aos valores básicos simples, e isso inclui desde a decoração e a arquitetura como outros itens, como a alimentação e até mesmo a relação com o trabalho”.