Dizer que a TV está com os dias contados já entrou para a mesma lista de clichês que também decreta o fim do rádio há mais de 50 anos e outros lugares comuns típicos de quando surge uma nova tecnologia. O meio, aliás, está mais vivo do que nunca. Segundo dados do Kantar Ibope Media, o tempo médio que o telespectador dedicou ao consumo da mídia aumentou em mais de uma hora nos últimos 10 anos.
Essa sustentação nos lares brasileiros tem sido possível devido à combinação de dois fatores: a evolução tecnológica da TV para a oferta no digital ao mesmo tempo em que mantém sua essência democrática e gratuita. “Cada vez mais teremos uma nova forma de interação com a TV aberta. Essa mudança já é visível atualmente. As emissoras tiveram de se adaptar e buscar uma presença multiplataforma, engajando as pessoas que estão no celular, consumindo conteúdos mais simples ou oferecendo uma megaprodução que poderá ser assistida na TV de forma compartilhada”, analisa Marcos Facó, diretor de comunicação e marketing da FGV.
Ao mesmo tempo, o DNA popular da TV, que entrega conteúdo gratuito para toda a população, garante sua permanência como queridinha do público. Para Melissa Vogel, CEO do Kantar Ibope Media, apesar do inegável avanço das tecnologias e dispositivos conectados, uma grande parcela da população ainda possui um modelo antigo de televisão com uma antena conectada em canais gratuitos. Daí a importância de as emissoras equilibrarem suas estratégias. “A TV está presente em praticamente todos os lares do país e é um meio garantido no dia a dia da população. Com o avanço das tecnologias, a televisão se fortaleceu”. Os números do Kantar Ibope reforçam a posição da executiva. Em 2007, os telespectadores passavam, em média, 5 horas e 11 minutos assistindo TV por dia. Em 2016, foram 6 horas e 17 minutos dedicados a telinha.
O teor democrático do meio é um de seus principais pilares. Está em sua essência e vai garantir o sucesso do modelo por muitos anos. Essa é a aposta de Cristina Padiglione, que assina o site TelePadi, no portal da Folha de S.Paulo. “Pelo rumo que as coisas vão, com grande oferta de TV por streaming e toda uma geração que já não vê transmissões de TV, mas programação sob demanda, a TV linear aberta só endossa sua condição democrática: ela ainda é e será por muitos anos o entretenimento feito para todos”.
EVOLUÇÃO NECESSÁRIA
Se, por um lado, o bom conteúdo acessível garante seu espaço, as emissoras não têm se acomodado. A TV tem se transformado e adaptado seu conteúdo em uma relação simbiótica com o digital. Nesse sentido, pode-se dizer que a televisão, aos poucos, se despede de seu modelo linear em busca de uma comunicação mais plural.
A busca agora é justamente por uma comunicação de via de mão dupla, favorecida pela associação com as redes sociais e plataformas de streaming. Não faltam exemplos bem-sucedidos, como o Globo Play ou os canais no YouTube de atrações como de Fabio Porchat, na Record, e de Eliana, no SBT, recordistas de um novo tipo de audiência. “A TV continua vivendo visceralmente de conteúdo, não importa a tela, a hora ou o modo de transmissão. As redes sociais só tornaram a experiência de ver TV um comportamento amplamente social, com monte de gente na sua sala de estar”, finaliza Padiglione.
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