Agora foi Ciro Gomes, terceiro colocado na eleição presidencial de 2018, quem resolveu protestar contra a ascensão generalizada dos “estagiários”.
Além de declarar que Bolsonaro não termina o mandato, alfinetou o potencial candidato ao Palácio do Planalto em 2022, Luciano Huck, ao clamar que “chega de estagiário na Presidência!” Sou um leitor frequente dos portais de notícia, alternando minhas tarefas com visitas rápidas ao UOL e ao G1, para “ver se o mundo acabou”. (Hoje, com a internet ficou fácil tomar decisões na hora, depois de consultar os cenários. Mas, em 1990, por exemplo, não era assim. Lembro que no dia 16 de março daquele ano, então na Lara/Stalimir, combinei com o Lara de ficar na agência aguardando o pronunciamento da Zélia Cardoso de Mello, ministra da Fazenda do Collor, sobre o pacote de medidas econômicas que seria implementado, enquanto ele iria para uma reunião de aprovação de orçamento com um cliente. O desfecho todo mundo já sabe – o confisco do dinheiro dos brasileiros –, mas quem estava naquela reunião nem sonhava com o que estava ocorrendo. Só consegui falar com o Lara depois de muita insistência com a telefonista, pois “ele não podia atender e ligaria de volta assim que pudesse”. Todos seguiam negociando como se dinheiro disponível houvesse. Impensável uma coisa assim hoje em dia, estando cada um armado com seu smartphone).
Voltando aos estagiários, um dos hábitos que tenho ao consultar as notícias publicadas nos portais é o de ler os comentários dos leitores. Sim, a maioria é bobagem ou exercício de militância política, mas alguns expressam opiniões sinceras. Entre elas, está a recorrente crítica aos “estagiários”, responsabilizados por todos os defeitos percebidos nos textos, seja por conta da pobreza do conteúdo ou pelo amadorismo na forma.
Não acho que, necessariamente, textos escritos por estagiários hão de ser ruins. Podem revelar certa imaturidade ou experiência insuficiente para uma nota mais elaborada. Normal.
O que me parece interessante é essa associação automática que faz o leitor entre o estagiário e o padrão sofrível da informação oferecida pela mídia digital. É como se aceitasse com naturalidade que se trata de um meio mais barato. E que, portanto, trabalha com gente que custa menos.
Esse estagiário seria o “profissional” moldado para a circunstância econômica dos meios digitais.
Fazendo um paralelo com a publicidade, tenho percebido na oferta de vagas para a criação online uma exclusiva busca por juniores – redatores, designers, diretores de arte e (pasmem!) recentemente vi um post pedindo um diretor de criação júnior.
Sou de uma época em que estágio e vaga de júnior eram oportunidades de aprendizado com profissionais experientes. Hoje, me parece, é apenas uma questão de adequar custos de folha de pagamento às margens estreitas de resultados financeiros.
Ou seja, aparentemente, a comunicação digital “barateou” profissões antes valorizadas, não apenas pagando menos, mas, com total senso de realidade, focando mais na quantidade do que na qualidade.
Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing (stalimircom@gmail.com)