Barra: nossa habilidade de entender o cérebro humano tem melhorado exponencialmente

 

Revoluções tanto em software e hardware, impulsionadas pela força das gigantes de tecnologia do Vale do Silício (EUA), mostram que vivemos em tempos exponenciais: o desenvolvimento de tecnologias e a sua adoção não acontecem de forma linear, mas em progressão geométrica. A indicação é de Hugo Barra, vice-presidente do Google para o Android, que falou sobre o futuro da computação móvel durante apresentação na InfoTrends, evento da revista Info realizado nesta sexta-feira (2), em São Paulo.

 

De acordo com o executivo brasileiro que lidera a expansão do Android no mundo, o futuro diz cada vez mais respeito ao armazenamento e gerenciamento das informações na nuvem e a dispositivos conectados entre si – e não a smartphones e tablets. Ele aponta que tendências como a tecnologia vestível, redes neurais de conhecimento profundo, a lei do retorno acelerado e a computação ambiental estão moldando a indústria de forma irreversível.

“Nossa habilidade de entender o cérebro humano tem melhorado exponencialmente e isso permite criar dispositivos inspirados em características biológicas”, afirma. As redes neurais são um exemplo disso. O conceito é antigo, explica Barra, mas só recentemente a indústria desenvolveu a riqueza computacional necessária para alimentá-la. Inspiradas no funcionamento do cérebro humano, elas estão por trás de funções como reconhecimento de voz, tradução automática e automação complexa, como protótipos de carros autodirigíveis.

O Google atualmente investe no desenvolvimento de redes neurais para serem aplicadas no refinamento dos seus produtos. “Colocamos 16 mil computadores do nosso data center com dados sobre a internet para alimentar nossas redes neurais. Elas são capazes de identificar padrões e encontrar, por exemplo, se pedirmos, fotos não tageadas e sem qualquer descrição, como ‘flores’ ou ‘carros’ e até mesmo conceitos abstratos, como ‘natal’ ou ‘jantar’”, aponta o executivo.

Elas estão por trás da organização e melhora automática do álbum de fotos do sistema Android e, em breve, o Google Now irá usar a tecnologia. “Comparada com o cérebro humano, as redes neurais ainda são muito simples, porque é difícil treiná-las. Para que elas cheguem perto do cérebro humano, é necessário um grande salto, que talvez venha da computação quântica”, diz o executivo. O Google é detentor de um dos poucos computadores quânticos do mundo, o Dware2, o que indica o salto que a companhia espera dar na área de software.

Tecnologia de vestir

Na esfera do hardware, Barra aponta tendências como a “wearable computing”, ou tecnologia vestível, com gadgtes como o Google Glass e relógios inteligentes similares ao Peddle. “Nos últimos anos, surgiu a economia dos apps. O mesmo fenômeno está prestes a se repetir na era do hardware. Estamos entrando na economia dos gadgets”, analisa Barra. A possibilidade de criar dispositivos fora de um ambiente fabril impulsiona o fenômeno, afirma. “Hoje, por US$ 347, você compra uma impressora 3D e imprime em casa os componentes que precisa para construir um dispositivo. Sistemas Open Source, como o Raspberry, vendem pequenos computadores do tamanho de um cartão de crédito capazes de rodar sistema Android. Com os dois, você pode criar dispositivos inteligentes de casa. Isso era impensável há alguns anos”, observa.

Até mesmo o desafio de ter o capital para produzir, em escala, dispositivos criados dessa forma deixou de ser um problema para pequenos empreendedores, diz. Plataformas como o Kickstarter, que auxilia o desenvolvedor a levantar quantias pela internet para financiar seu projeto, ajuda a tirar ideias do papel.

De acordo com Barra, um dos principais efeitos das revoluções de software e de hardware é a revisão de processos, impulsionados pela alta quantidade de dispositivos conectados à nuvem. Segundo o executivo, mesmo com a lentidão do ciclo de desenvolvimento das indústrias de eletrodomésticos e da automobilística, é esperado que todos os dispositivos conversem entre si no futuro. “Estamos vivendo uma era de ganhos exponenciais em hardware e software. O mundo passará por uma reinvenção inevitável de processos”, afirma.

Futuro

Sob as lentes do Google, o futuro parece empolgante, mas também assustador. Questionado se o desenvolvimento da computação não levaria a um empoderamento exagerado da máquina, o executivo disse que não há o que temer. “A tecnologia é uma ferramenta criada pelo ser humano para o ser humano. Nós a controlamos”.