A publicitária Carolina Campos e a pesquisadora Ana Carla Carneiro lançam o Estúdio Nina, que tem o objetivo de entender, decodificar e compartilhar conhecimento sobre o público negro. O propósito é ser a ponte que conecta mais da metade dos consumidores brasileiros às marcas que atuam no Brasil.
“Falar de diversidade ou apenas incluir pessoas negras nas campanhas é insuficiente. É necessário estabelecer uma comunicação real e mais efetiva, e isso só é possível ouvindo esse consumidor. O mercado de pesquisa apresenta uma lacuna grave: não olha os negros, não tem dados e não se volta para suas necessidades particulares.”, explica Ana Carla.
Segundo a agência, mencionando estudos do IBGE, as famílias negras são responsáveis por um percentual muito elevado dos gastos da grande maioria de categorias: 61% de leite em pó, 49% de biscoito, 44% de sabonete, por exemplo.
“As campanhas publicitárias moldam comportamentos e geram identificação do consumidor. Se as marcas e as agências passassem a entender melhor esse target, já avançaríamos bastante. Somente é possível alcançá-los quando são evitados os estereótipos, as narrativas e a estética que reforçam a desigualdade e o preconceito. E a única maneira de se fazer isso é ouvindo os próprios negros”, complementa Carolina.
Casa
Para seu projeto inaugural, o Estúdio Nina desenvolveu o estudo “A Casa e seu Significado”, que compreendeu fases qualitativa e quantitativa, em que foram entrevistadas mais de 400 mulheres na cidade de São Paulo das classes B2 e C1. O objetivo era compreender se haviam diferenças no que diz respeito aos significados que tem a casa, a limpeza e a sujeira, bem como às necessidades associadas à casa, e sua rotina de cuidados com o lar.
Alguns dos dados mostram que 78% das entrevistadas negras pintam as paredes pelo menos uma vez ao ano, 68% alteram a decoração pelo menos 1 vez por semestre, 37% mudam os móveis de lugar a cada trimestre e 24% mexem na decoração da casa uma ou mais vezes por mês.
Além disso, para negras, segundo o estudo, receber em casa tende a ser um evento cotidiano e corriqueiro, com amigos que entram e saem a qualquer hora. Para brancas, a hospitalidade está mais associada a momentos distintos do cotidiano.