O artigo “Normatividade algorítmica e o consumo midiático no YouTube por jovens universitários”, da professora Egle Müller Spinelli, da ESPM-SP, escrito em co-autoria com Daniela Osvald Ramos (USP), explora a percepção da influência do algoritmo no consumo midiático de jovens do primeiro ano universitário no YouTube, visando compreender implicações referentes ao uso da plataforma.
Apesar das ações algorítmicas serem processadas dentro de caixas pretas inacessíveis aos usuários, as autoras demostram que isso não impede que elas sejam pesquisadas. As discussões e resultados preliminares demonstram que os jovens se consideram conhecedores de como as decisões algorítmicas são processadas, mas o grau de influência destes processos na vida deles ainda é bastante difuso.
Os dados preliminares se referem as entrevistas com 81 jovens (realizadas entre 22 de abril a 22 de maio de 2020), com o seguinte perfil demográfico: em sua maioria, de 17 a 20 anos de idade (79,1%); predominância de respondentes mulheres (64,2%) e de escola particular (53,8, mas com uma significativa parcela de escola pública – 46,2%); matriculados em diferentes cursos de graduação.
Conforme dados da pesquisa “Video Viewers: como os brasileiros estão consumindo vídeos”, realizada em 2018, o YouTube é a principal plataforma de consumo de vídeo no Brasil. Segundo o estudo, 44% dos entrevistados usam o YouTube como canal preferido para assistir a vídeos online. Em seguida, vem o Netflix, que tomou o lugar do WhatsApp no comparativo com 2017.
O dispositivo que qual mais assistem vídeos no YouTube é o celular (76,5%). O grande acesso à plataforma é para a pesquisa de música (87,7%). Em segundo lugar, os jovens buscam tutoriais de “como fazer” (66,7%), bem como procuram por vídeos de humor (66,7%). Em quarta posição, os que apresentam temática no campo educacional (59,13%).
Este último resultado pode ter relação com o ensino remoto que se iniciou em larga escala no país devido a pandemia de Covid19, em meados de março de 2020.
No geral, percebe-se uma propensão ao uso da plataforma para o consumo de novos conceitos e habilidades, no sentido de ampliar o repertório sobre determinado assunto de interesse relacionado à alguma atividade, produto ou segmento, e também para o entretenimento, como a música e vídeos humorísticos.
A busca por um conteúdo específico ocorre principalmente pela inserção da palavra-chave de seu interesse (90,1%), em segundo pela sugestão dada pelo próprio YouTube (67,9%) e em seguida pela indicação de redes sociais (50,6%).
Os pesquisados se consideram bastante aptos (97%) para reconhecer os tipos de mensagem nos vídeos e diferenciar uma informação de um veículo profissional de uma publicidade, por exemplo, o que pode ser embaralhado na recomendação do algoritmo.
Um pouco mais da metade (57%) diz compreender como funciona o algoritmo do YouTube e como pode usá-lo em seu favor (69,2%), o que demonstra uma certa familiaridade com as funcionalidades da plataforma para receber vídeos que tenham a ver com o seu perfil, o que acontece, ao que se sabe (mas, talvez não somente), por meio do uso de like, deslike, assinatura de canais e comentários.
Também apontam ter competências para entender (95,1%) porque determinados vídeos foram recomendados pelo YouTube, o que retrata um uso da plataforma que vai de encontro aos seus interesses de consumo.
Os apontamentos iniciais desta sondagem quantitativa apontam certo domínio dos jovens com relação ao impulsionamento das ações algorítmicas para seu consumo midiático.
Mais da metade demonstram competência para usar a plataforma a seu favor, no que diz respeito às recomendações automáticas, e sabem que seus dados são coletados como estratégia para que continuem assistindo vídeos que tenham a ver com suas preferências.
Este fato demonstra que os jovens dominam certas funcionalidades (likes, comentários, etc) para que o algoritmo forneça mais vídeos relacionados ao seu perfil, pois compreendem as regras da plataforma de um ponto de vista técnico e operacional.