Alê Oliveira

Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, afirmou, durante encontro promovido na manhã desta sexta-feira (13) em São Paulo pelo Instituto Millenium, que “o que está se fazendo para a economia do Brasil melhorar é inútil”. Ele criticou severamente a atual política econômica do Brasil, mas poupou, de certa forma, o atual ministro da Fazenda, Joaquim Levy. “É difícil trabalhar sabendo que tudo foi criado pela chefe dele”, disse. 

Para o economista, que comandou o Banco Central de 1999 a 2003 durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso, o país precisaria de reformas urgentes e não de medidas que seriam paliativas, como a criação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) ou vendas de ativos que vão sanar os problemas fiscais do Brasil. 

“O nosso atual modelos político e econômico é composta por más ideias. Temos, no Brasil, um estado obeso”, revelou. A reforma política também foi comentada pelo economista. “Precisamos de uma reforma política, precisamos de uma conjunção de forças”, disse. 

Além disso, Fraga destacou a importância de uma reforma na Previdência Social, bem como a manutenção do fator previdenciário, e a desvinculação de 100% das despesas do Orçamento. 

Ele criticou também o atual sistema tributário do país. “É caótico”, taxou. “É um sistema que afeta o comércio dentro do Brasil, pois acaba complicando fazer negócio com outro estado, por exemplo”, completou. Fraga foi ainda mais além nas críticas. “O Brasil é um ambiente de alto risco com tendências a piorar, infelizmente”, ressaltou. 

O ex-presidente do BC, no entanto, reconheceu que houve um crescimento no país. “O Brasil evoluiu muito nos últimos anos, mas estamos correndo o risco de perder tudo isso”, disse. 

CARGA TRIBUTÁRIA
Outro ex-presidente do Banco Central e nome cotado para assumir uma possível vaga de Levy na Fazenda, Henrique Meirelles concordou com Armínio Fraga quando o assunto foi carga tributária. “Nossa carga é sensivelmente superior a de países com crescimento elevado”, disse. 

Meirelles também criticou a logística brasileira. “É deficiente, é abaixo de alguns dos nossos países vizinhos”, disse. “A logística é um campo que oferece ganhos rápidos”, destacou. A educação também foi elencada por Meirelles como ponto-chave para o desenvolvimento do país. 

“Temos, hoje, uma educação de baixa qualidade”, disse. 

Uma pergunta que não poderia ter faltado ao presidente do Banco Central na gestão Lula foi sobre a possibilidade de ocupar o Ministério da Fazenda. “Seria deselegante comentar sobre isso”, afirmou. 

Gustavo Franco, outro ex-presidente do BC, também participou do debate. Para ele, o Brasil está na adolescência. “O tempo é implacável. Não andamos em nada em termos de produtividade, de renda per capita”, destacou. 

Ele ainda afirmou que o Brasil é “um endividado com patrimônios”. “Mas continuamos sendo um país cujo futuro está na esquina”, finalizou.