Executivos se reuniram em São Paulo para discutir a situação econômica mundial

 

O principal problema que tem afetado o Brasil no momento não é a deterioração dos índices de inflação ou das contas do governo, e sim a falta de confiança do mercado nos rumos do país. Essa é a visão de alguns empresários reunidos no fórum LAC Global Summit, realizado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e pela Prefeitura de São Paulo na capital paulista nesta terça-feira (10).

A mesa “Situação econômica mundial” reuniu André Esteves, presidente do BTG Pactual; Andres Gluski, CEO da AES; Luciano Coutinho, presidente do BNDES; Martin Sorrell, CEO do WPP; e Fábio Barbosa, CEO do Grupo Abril. Os executivos falaram sobre a recuperação da economia global após a crise de 2008, a desaceleração do Bric (grupo de países formado por Brasil, Rússia, China e Índia) desde 2012 e os desafios para o Brasil, que está no centro das atenções com o início da Copa do Mundo, nesta quinta-feira (12).

Esteves afirmou que a macroeconomia nacional não deve ser motivo de tanta atenção porque as contas do governo estão em dia. “Tem se criticado muito a macroeconomia brasileira, mas ela tem problemas que fazem parte do negócio e são fáceis de resolver. A grande questão do Brasil é a confiança. Ela é menos mensurável que os outros fundamentos macroeconômicos, mas é igualmente importante”, disse. “Perdemos bastante confiança do empresariado e isso precisa ser revertido. É necessário foco nesse ponto”.

O executivo disse que o principal desafio brasileiro é aumentar a produtividade e que o debate sobre as contas externas do governo ou a alta da inflação são temas secundários neste momento. “Deveríamos gastar a energia do debate na questão dos índices de produtividade do país. Nossa carga fiscal corresponde a 36% do PIB, o mesmo índice de países como Dinamarca, Japão e Estados Unidos. Mas esses países têm realidades muito diferentes do nosso mercado”, apontou.

Sorrell, do grupo britânico WPP, reforçou que é necessário melhorar a confiança do mercado internacional sobre o Brasil. Para ele, uma das formas de executar isso é mostrando qual o impacto dos grandes eventos na vida dos brasileiros. “É muito tarde para o país demonstrar o legado social da Copa do Mundo, mas certamente nas Olimpíadas será necessário uma declaração clara do país sobre o legado social do evento”.

O executivo inglês fez uma comparação com o Japão, que se prepara para receber os Jogos de 2020. “Visitei recentemente o Japão e a preocupação deles não é com a infraestrutura das Olimpíadas, e sim em deixar um legado para a Ásia com o evento. Eles estão trabalhando com uma antecedência de seis anos para deixar um legado para as pessoas daquela região. A mesma coisa tem que ser feita no Brasil”, destacou.

No entanto, o problema da falta de confiança não afeta somente o mercado brasileiro. A crise de 2008 que ecoou nos sistemas financeiros dos Estados Unidos e da Europa alterou a mentalidade de grandes corporações globais. “Se voltar a setembro de 2008, acreditamos que o impacto não foi tanto no consumidor, mas sim na mentalidade das companhias multinacionais”, avaliou Sorrell. A lenta recuperação econômica de EUA e dos países da zona do euro também afetam essas companhias. “O problema com quem dirige essas empresas é que eles estão muito preocupados e conscienciosos”, disse.

Apesar da falta de confiança do empresariado, Coutinho, do BNDES, avalia que mesmo com o arrefecimento da evolução econômica do Bric, esses países serão o vetor da economia global e continuarão atraindo capital estrangeiro. “Eles serão o esteio da economia global porque são eles que oferecem oportunidades para investir”.

Juntos, os países do Bric somam um PIB de US$ 1 trilhão, as únicas economias fora dos países-membros da OECD, que reúne as nações ricas, a registrar esse tamanho de mercado. Apesar da desaceleração prevista para os próximos anos – em 2008, a China cresceu, sozinha, 14,2% e esses países responderam por dois terços do crescimento do mundo – eles devem responder, nos próximos cinco anos, por metade do crescimento global.