CEO da agência Casa Mais diz que o foco é atuar no atendimento das empresas locais e de filiais de multinacionais na Europa
Fábio Costa estava em um pub na Austrália, em 2010, quando reparou que havia uma pessoa fazendo vídeos com uma câmera diferente para a época, que captava tudo em 360 graus. “Então, pensei em todo o potencial que aquela tecnologia tinha para atender à demanda de muitas empresas”, contou.
Esse foi o start para criar a Casa Mais, agência que atua na produção de vídeos em Realidade Virtual e em campanhas com experiências em Realidade Aumentada, utilizando o metaverso. Hoje, com mais de dez anos de mercado, a empresa chega à Europa, com a inauguração de um escritório no Porto, Portugal. “Estabelecer uma sede física faz toda a diferença pela proximidade com o mercado”, afirmou.
Como a Casa Mais se posiciona hoje?
Apesar de termos nossos produtos, como realidade aumentada, realidade virtual e metaverso, não temos produtos predefinidos. Isso tem um motivo: a personalização necessária de cada campanha para cada empresa. Esse é nosso core business. Basicamente, recebemos as demandas do cliente e alinhamos com as tecnologias que temos à disposição, e aí está o principal motivo para os bons resultados. Muitas vezes, o que o cliente quer parece ser inviável. Mas, com conhecimento da tecnologia e uma equipe expert em programação, entre outros recursos, conseguimos chegar no resultado previsto ou, não raramente, sugerir meios e resultados finais ainda melhores.
E qual é o principal objetivo?
Um ponto importante é sempre entender o objetivo final do projeto vislumbrado pelo cliente. Ok, então você quer um treinamento virtual para os seus colaboradores, certo? Mas você precisa saber se eles realmente vão aprender o que é preciso. Então, criamos um ambiente no qual ele possa ser avaliado, muitas vezes de forma gamificada, em 3D. Mas, se o seu objetivo é fixar a sua marca na cabeça do consumidor final, podemos utilizar outras ferramentas, como um jogo dentro do seu metaverso que “brinque” com o seu produto ou serviço e, ao mesmo tempo, ative a memória afetiva do participante, de forma lúdica e imersiva. Mas esses são apenas alguns dos muitos exemplos. É justamente isso que me faz ser tão aficionado por isso. Temos muitas possibilidades em mãos, proporcionadas pelas tecnologias que trabalhamos e pela a união delas.
Em outubro, a agência passará a ter um escritório em Portugal, na cidade do Porto. Como essa expansão foi projetada e qual será o impacto dela no faturamento da agência no fim deste ano?
Já temos essa expansão em foco há um certo tempo. Trata-se do início da nossa expansão global e projetamos ela com alguns focos, como o atendimento das empresas locais e de filiais de multinacionais que estão por lá. Apesar de já termos cases fora do Brasil, estabelecer uma sede física faz toda diferença, pela proximidade com os mercados. Além disso, o foco não é somente Portugal, mas toda a Europa. Sobre o impacto, mensuramos que no primeiro ano não teremos aumentos superiores a 20% a 30%. Contudo, existe uma importância institucional e de planejamento estratégico nessa expansão em nosso planejamento para 2023.
A realidade aumentada sempre foi uma das especialidades da Casa Mais. Com a pandemia, a procura pela ferramenta aumentou? Como foi esse período?
Sim, sempre foi. Foi a segunda tecnologia na qual nos especializamos, sendo a primeira a realidade virtual e, posteriormente, o metaverso. Em relação à pandemia, sim, tivemos um aumento significativo. Mas também vejo isso como uma evolução natural, que ia acabar acontecendo mesmo sem a pandemia, ainda que de forma mais lenta. No começo da pandemia, criamos o REUNI, uma plataforma que consiste em criar ambientes virtuais corporativos em 3D e com diversas ferramentas digitais. Criamos pavilhões, salas de treinamento, showrooms, salas de reunião e outros ambientes gamificados nos quais as pessoas podiam trabalhar e se encontrar virtualmente para isso com os seus avatares. Ou seja, já tínhamos o metaverso, antes mesmo da mudança de marca do Facebook. Ao longo da pandemia, para atender às diversas demandas dos clientes e para oferecer mais para o mercado, aprimoramos o REUNI, com ferramentas e funcionalidades direcionadas para o desenvolvimento de tarefas convencionais e para a interação dentro da plataforma. Com isso, quando o Facebook mudou o nome para Meta e o metaverso começou a ser mais abordado, já tínhamos uma ferramenta imersiva bem avançada. E, claro, vamos seguir evoluindo o nosso metaverso, seguindo o que há de mais novo em relação às tecnologias que fazem parte desse novo mundo virtual.
A agência também atua com o metaverso, certo? Como está a procura de empresas por essa tecnologia?
Sim. Na verdade, o metaverso acabou sendo uma feliz convergência de todas as tecnologias que trabalhamos ao longo dos nossos mais de 10 anos de existência. Realidade virtual, realidade aumentada, realidade mista, experiências imersivas em 360 graus... enfim, tudo o que sempre trabalhamos e, inclusive, utilizamos nesse nosso começo do metaverso, que foi a plataforma REUNI, e continuamos aprimorando. É interessante falar sobre a busca por essa tecnologia. Engraçado conversar com alguns dos meus clientes da plataforma, que fizeram projetos conosco antes mesmo da popularização do termo metaverso, e perceber que eles entenderam que já tiveram esse espaço virtual antes mesmo dele ser pauta. Como foi o caso de clientes como GE, Porto Seguro, Colgate e Acer. Na época de pandemia, as empresas não mencionavam, por exemplo, que queriam fazer um evento no metaverso, mas era o que estavam fazendo. A busca deles era por soluções imersivas para aprimorar o trabalho remoto forçado pela Covid-19. Mas, como respondi no começo dessa entrevista, a situação que vimos durante a pandemia somente antecipou uma situação. Então, existe essa busca.
É um mercado aquecido?
Sim, por mais que a pandemia tenha passado, a cultura de home office mudou e, aparentemente, a quantidade de postos de trabalho nesse modelo também. Paralelamente, temos uma geração nova chegando no mercado de trabalho, que se dá muito bem com isso, o que gera uma perspectiva de que as pessoas vivam mais no mundo virtual, trabalhem, se divirtam e se encontrem. Muitas empresas grandes, como Nike, Walmart, Ambev, Itaú e Lojas Renner, já entenderam isso e já têm espaços no metaverso. Algumas empresas menores também. Uma opinião profissional minha: dar atenção a esse tema é algo ligado ao tipo de gestão de uma empresa. Se for uma empresa que visa o futuro, considerando a mão de obra e os mercados consumidores futuros, ela entende. Agora, se falarmos de empresas que não ligam para modernização, elas realmente não estão olhando para o metaverso. Claro, não vou dizer que essas empresas podem sucumbir somente por isso, mas, certamente, essa falta de atenção ao tema mostra uma administração que não se moderniza e isso, sim, pode causar o fracasso.
O brasileiro já entendeu o que é o metaverso e como isso será inserido no dia a dia das pessoas?
Acho que, na verdade, a pergunta não é se o brasileiro entendeu isso. Tem muito mais a ver com a geração do que com a nacionalidade. Obviamente, podemos ver uma leve diferença cultural e social que vai impactar nisso, mas não acho que é o principal foco de uma evolução do metaverso. Considerando o Brasil um país em desenvolvimento e com problemas para distribuição de tecnologias, acredito que a questão é mais um atraso na difusão do metaverso em relação aos países desenvolvidos. Agora, o fato relevante é mesmo a geração. Veja: os baby boomers até podem utilizar o celular, mas não da mesma forma que a geração X que, por sua vez, utiliza de forma diferente dos millennials. E agora temos a geração Z e a geração Alfa, que já nasceram inseridos na tecnologia e já vivem suas vidas virtuais em jogos, criando comunidades e até mesmo uma microeconomia, com compra e venda de itens. Já são quase dois pés no metaverso. Logo, respondendo à parte sobre a inserção disso tudo no dia a dia, para essas gerações e para as futuras, isso deve acontecer de forma natural.
E deve ser rápido?
É claro que tudo depende de como os ambientes virtuais vão ser criados, da acessibilidade dos headsets e aos hardwares, da chegada do 5G, de quais serão os atrativos e a forma como as pessoas se sentirão confortáveis dentro desse ambiente. Mas existem tecnologias sendo criadas, estudadas e aprimoradas, com foco nessas questões. Vejo muita evolução nas tecnologias de tracking de movimento, de diminuição do desconforto na utilização de óculos de realidade virtual, de realidade aumentada e mista (para que as pessoas possam continuar suas tarefas e necessidades em ambientes físicos sem sair totalmente do metaverso) e de senso de presença e interação. Então, acredito que teremos uma forte convergência entre o momento social, o momento da geração dominante e a evolução das tecnologias. O nosso papel na Casa Mais é aliar o mundo virtual ao mundo real. Já temos pilotos que estão sendo desenvolvidos para grandes empresas, nos quais o usuário vai entrar no metaverso do cliente e vai conseguir fazer uma compra, sendo que o produto vai chegar na casa dele, no mundo real. Esse é o nosso principal objetivo, sempre linkar os dois mundos (real e virtual), pois sabemos da importância do metaverso, mas também sabemos da importância da relação social física e do olho no olho.
A agência Casa Mais mantém, desde 2019, um projeto chamado Alegria Virtual. Como funciona essa iniciativa e de onde veio a ideia?
O Alegria Virtual tem a ver com responsabilidade social, mas vou falar agora como pessoa. A sensação e a emoção de nossas ações é algo que não tem preço. Imagine, por exemplo, uma criança com câncer, internada em uma das unidades do GRAACC, confinada em um espaço, que tem de realizar procedimentos, de quimioterapia por exemplo, o tempo todo. Agora, imagine que ela pode, por alguns momentos, viajar instantaneamente para algum outro lugar e esquecer de tudo aquilo que está passando. Não tem como as palavras descreverem a emoção que sinto ao proporcionar isso para ela. Também realizamos ações em abrigos de idosos e hospitais infantis, entre outras entidades. Eu acredito que muitos de nós já estivemos em lugares assim. É muito difícil não ficar abalado com algumas situações que vemos. Em determinado momento, pensei em como poderia ajudar, de forma efetiva, utilizando os conhecimentos que adquiri ao longo dos anos com essas tecnologias imersivas. Tive essa ideia e então fizemos um dia de teste em uma unidade do GRAACC, levando conteúdos em 360 graus e os óculos de realidade virtual para as crianças usarem antes de fazerem a quimioterapia. Logo percebemos que essa ação diminui a ansiedade das crianças, ajudando no tratamento. Com isso, criamos um vínculo com o GRAACC, fazendo ativações mensais, e abrimos o nosso leque para atender outras instituições carentes e ajudar ainda mais pessoas com o uso da realidade virtual, da realidade aumentada e, agora, do metaverso.