Estou no Facebook há nove anos. Todas as minhas publicações sempre foram públicas. Meus dados e fotos também sempre estiveram disponíveis para quem quisesse ver. Nunca pensei em ter na rede social um local para guarda de informações sigilosas ou de consulta restrita.

Desde o início, tive claro que estava usando uma ferramenta da minha conveniência para localizar amigos, interagir com eles, abrir novas possibilidades de relacionamentos, ter acesso a opiniões de outros e expor as minhas, ser brindado com postagens que reproduzissem reportagens, textos, vídeos e fotos do meu interesse, num primeiro momento. Nunca tive a expectativa de que um serviço gratuito fosse também, gratuitamente, me disponibilizar oportunidades de ganhar dinheiro.

Tampouco, imaginei que o Facebook, que é um negócio e sendo um negócio alguma coisa haverá de negociar, não fosse se utilizar dos meus dados. Aliás, não vejo novidade nenhuma nisso. Editoras de jornais e revistas sempre negociaram os mailings de seus assinantes, bem como cartões de crédito, só para ficar nos exemplos mais óbvios. Hoje, qualquer comércio, virtual ou não, dispondo do nosso CPF, está em condições de negociar os nossos hábitos de consumo.

Não vejo escândalo, inclusive, no fato de o Facebook vender as minhas “tendências ideológicas” para empresas de marketing político para que criem postagens específicas para mim. Qual o problema? Se o pessoal do Bolsonaro publicasse um vídeo na minha página em que ele dissesse “Stalimir, eu sei que você tem restrições às minhas propostas de governo, mas gostaria que você conhecesse os fundamentos delas antes de decidir o seu voto”, eu acharia ótimo. Se essas coisas incomodam, a culpa não é do Facebook, mas do mau uso que, eventualmente, se faça da rede social. E o que chamo de mau uso não é a abordagem, em si, mas a abordagem equivocada e inconveniente. Aliás, não existe vítima maior desse mau uso do que o próprio Facebook.

Da mesma forma com que comprometem os meios tradicionais, o amadorismo e a má-fé na comunicação causam danos também nas redes sociais. Talvez por ser uma ferramenta aberta para a autoutilização, sem o filtro de qualidade de uma Rede Globo, por exemplo, o Facebook esteja sujeito a uma avalanche de mensagens comerciais ineficientes por sua falta de profissionalismo.

Mas não serão piores do que aquilo que se vê em algumas redes menos qualificadas ou nos rincões mais distantes do Brasil.

Portanto, vejo no Facebook um canal de comunicação como qualquer outro que, inclusive, como qualquer outro, você pode não ler, não ouvir, não assistir, não utilizar. A tentativa de boicote vai na mesma linha em que, por questões políticas, alguns grupos sugerem que deixemos de ler, ouvir ou assistir a determinados meios.

Essa é a opinião de alguém que nunca teve problemas com o Facebook, que desfrutou dos benefícios que a ferramenta oferece e tomou precauções ao se valer dela (precauções necessárias quando ingressamos num espaço de uso público e a que não dominamos).

Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing (stalimircom@gmail.com)

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