O Facebook teve que sair da sua zona de conforto e partir para a ação. Nada como mexer no bolso de alguém para que providências práticas sejam tomadas. O boicote de mais de 150 anunciantes com investimentos globais robustos, entre os quais Coca-Cola, Unilever, Honda, Ford, Levi’s, Microsoft, Adidas, Diageo e Starbucks, por meio do movimento “Stop Hate For Profit”, em uma tradução livre, “pare de dar lucro ao ódio”, afetou de forma sintomática as receitas da empresa.
Os anunciantes são responsáveis por mais de 95% das receitas anuais da rede social estimada em US$ 73 bilhões. Fake news, ódio, estímulo à violência e desrespeito à diversidade, por exemplo, estão no radar dos anunciantes. O Facebook reagiu no Brasil e anunciou nesta quarta-feira (8) medidas que vão encerrar perfis sem lastro e que atingiram o Palácio do Planalto como disseminador de noticiário falso por meio de agentes como Arnaud Thomaz, assessor especial do presidente Jair Bolsonaro.
Nathaniel Gleicher, chefe de cibersegurança do Facebook, resume as medidas com a expressão: “removendo comportamento inautêntico coordenado”. O comunicado oficial da empresa de Mark Zuckerberg detalha a investigação. Gleicher escreveu que foram removidas 35 contas, 14 páginas e 1 grupo no Facebook e 38 contas no Instagram com foco em audiência doméstica no Brasil.
O executivo de cibersegurança do Facebook disse ainda que “cerca de 883 mil contas seguiam uma ou mais dessas páginas no Facebook, cerca de 350 pessoas se juntaram ao grupo, e cerca de 917 mil pessoas seguiam uma ou mais dessas contas no Instagram. O custo de investimento em publicidade era de US$ 1.500, pago em reais.”
“Identificamos vários grupos com atividade conectada que utilizavam uma combinação de contas duplicadas e contas falsas – algumas das quais tinham sido detectadas e removidas por nossos sistemas automatizados – para evitar a aplicação de nossas políticas. A atividade incluiu a criação de pessoas fictícias fingindo ser repórteres, publicação de conteúdo e gerenciamento de páginas fingindo ser veículos de notícias. Os conteúdos publicados eram sobre notícias e eventos locais, incluindo política e eleições, memes políticos, críticas à oposição política, organizações de mídia e jornalistas, e mais recentemente sobre a pandemia do coronavírus. Alguns conteúdos publicados por essa rede já tinham sido removidos por violação de nossos padrões de comunidade, incluindo por discurso de ódio”, detalhou Nathaniel Gleicher.
“Identificamos essa atividade como parte de nossas investigações sobre comportamento inautêntico coordenado no Brasil a partir de notícias na imprensa e referências durante audiência no Congresso brasileiro. Ainda que as pessoas por trás dessa atividade tentassem ocultar suas identidades e coordenação, nossa investigação encontrou ligações a pessoas associadas ao Partido Social Liberal (PSL) e a alguns dos funcionários nos gabinetes de Anderson Moraes, Alana Passos, Eduardo Bolsonaro, Flávio Bolsonaro e Jair Bolsonaro”, acrescentou.
O Facebook disse “que a rede está vinculada a funcionários dos escritórios de Bolsonaro e seus filhos Eduardo e Flávio Bolsonaro – que servem na Câmara dos Deputados e no Senado, respectivamente -, além de dois parlamentares do PSL, Alana Passos e Anderson Moraes. O DFRLab não pôde confirmar os links para Flávio Bolsonaro, mas descobriu que um membro da rede está conectado a um terceiro filho, Carlos Bolsonaro, e outro é empregado por Coronel Nishikawa, também legislador estadual do PSL. Os ativos removidos tinham um público combinado de mais de 2 milhões de contas”.
A reação do Facebook não foi só no Brasil. Porque as perdas com publicidade não se concentram apenas nos Estados Unidos. O Brasil, que tem mostrado que as redes sociais são plataformas para gerar influência com fake news, garantiu repercussão internacional. Essa atitude é uma espécie de resposta às marcas que investem em publicidade nas plataformas do Facebook.